Uma operação da Polícia Federal de Campinas apreendeu carros de luxo em endereços ligados a um homem que é investigado por crimes financeiros e mantém empresas em Campinas. O suspeito, de 42 anos, se apresentava nas redes sociais como “Vovô Rico”, e ostentava luxo nas redes sociais para atrair e incentivar pessoas a aplicarem dinheiro usando um robô investidor, que funcionava de maneira ilegal. Apesar disso, ele não tinha nenhuma renda em nome próprio, e chegou a ser beneficiário do Auxílio Emergencial.
Durante a operação contra o suspeito, em Campinas e Paulínia, foram apreendidos duas Land Rover, uma Ferrari e um Audi, que estavam no nome de pessoas jurídicas onde o suspeito era o responsável ou constava como administrador.
Em coletiva de imprensa, o delegado chefe da Polícia Federal de Campinas, Edson Geraldo de Souza, afirmou que são 10 empresas ligadas ao investigado, todas sediadas em Campinas. Nenhuma tem autorização para atuar no ramo financeiro, e algumas são de outros segmentos.
“Nenhuma dessas empresas tem qualquer autorização para atuar no mercado de investimentos, não tem registro na CVM, nem no Banco Central. Inclusive algumas estão ligadas a comercialização de materiais de construção, produtos in natura e assim por diante”, afirmou.
Ainda não foi estimado o total de valor movimentado pelo suspeito, que ainda não foi preso. Segundo o delegado, o intuito foi conseguir provas para continuar a investigação, que agora vai apurar se havia lavagem de dinheiro e uma organização criminosa por trás do esquema.
“Objetivo principal da operação foi a apreensão do maior número de dispositivos eletrônicos e também possíveis produtos do crime. Encontramos muitos veículos de luxo ligados a empresas e terceiros. Eles são usados não só pelo investigado pessoalmente, mas para aparentar riqueza, para mostrar que o sistema comercializado traria essa riqueza para quem comprasse”, afirmou Souza.
IMAGEM DE LUXO
O chefe da PF explica que foi apurado que os produtos vendidos não geravam lucros para as pessoas, e pelo contrário, poderiam trazer grandes perdas. Apesar disso, a imagem do homem, que se vendia como grande investidor, levava clientes a acreditarem na oportunidade de ganho.
“O que levou as pessoas a acreditarem nisso é uma venda massiva de uma imagem de uma pessoa extremamente bem sucedida, andando em carros de luxo, lanchas e helicópteros. É por isso que acreditamos que não havendo uma justa causa adequada para as rendas, esses bens são todos produtos de crime”, afirmou.
Nas redes sociais, o “Vovô Rico” se apresentava como empresário, atuando em “diversos ramos”. Ele anunciava a venda dos robôs, que operam no mercado financeiro, e fazia exposição de supostos “ganhos” além de mostrar uma vida de luxo, com fotos em mansões, com viagens em helicópteros e mantendo diversos veículos de luxo.
Agora, a polícia vai analisar os materiais apreendidos, e com a quebra de sigilo bancário e fiscal, continuar a investigação sobre o suspeito, que ainda não teve o mandado de prisão expedido. Segundo a PF, há possibilidade também que os perfis dele sejam retirados do ar.
COMO FUNCIONAVA
O delegado explica que os robôs são sistemas automatizados que fazem investimentos e análise do que deve ser comprado e deve ser vendido. O uso desse tipo de sistema, no entanto, deve ser regularizado pela CVM (Comissão de Valores Mobiliários) e as operações pelo Banco Central.
Além da venda desse sistema ilegal, o “Vovô Rico” fazia a venda casada de câmbio ilegal, já que os investimentos binários, não autorizados no Brasil, também precisavam ser feitos no comércio exterior.
“Como eles têm autonomia, e nesse caso era total autonomia, são chamados de robôs. Esses robôs são utilizados no mercado financeiro para todos níveis de investimentos e há diversos tipos de robôs. O esquema que é investigado é que havia a venda desses robôs sem a fiscalização e certificação desses robôs. Quem comprava esses robôs precisava investir em dólares e também era oferecida uma plataforma do investigado para trocar o dinheiro de real para dólar e ele vendia em valor superior e sem autorização do Banco Central”, explicou.
O delegado explica que além das duas fontes de renda do investigado (com venda de robô e câmbio ilegal), a pessoa que comprava o robô também precisava pagar uma mensalidade para manter o sistema e investia em uma plataforma definida pelo investigado.
“Isso fazia também com que ele ganhasse dinheiro alí. E dificilmente as pessoas ganhavam dinheiro. Já detectamos várias reclamações em sites especializados e várias exposições em sites mostrando que as pessoas não tinham autonomia suficiente para dirigir sistema e controlar as perdas, e muito provavelmente sem nenhum ganho”, completou.
SEM GANHO E CHANCE DE PERDA
Com a operação, o delegado afirma que o objetivo também é alertar as pessoas para o esquema, que tem grande chance de prejuízo.
“É extremamente arriscado e como o robô fazia isso de forma autônoma, havia uma grande perda e possibilidade de perder tudo que foi investido. Esse caso os robôs eram automatizados a ponto que até o limite de perda de atuação era determinado pelo robô, não pela pessoa. Então a pessoa poderia começar com U$ 100, por exemplo, e acordar sem nada, porque poderia ter utilizado tudo. Ele utilizava tática que dobrava apostas durante perdas, o que poderia trazer maior prejuízo”, finalizou.