A Polícia Federal de Campinas detalhou nesta terça-feira (7) como funcionava o esquema de fraudes no Auxílio Emergencial que resultou no desvio de mais de R$ 50 milhões. A operação contra a quadrilha foi deflagrada pelo órgão hoje, e a investigação começou após desvios de valores para contas de uma pessoa e uma empresa de Indaiatuba. No total, é estimado que pelo menos 10 mil contas foram fraudadas.
Segundo a PF, a organização criminosa desenvolveu um programa que rastreava CPFs de pessoas que poderiam ter o benefício assistencial. Os bandidos também falsificavam documentos dos beneficiários e distribuíam o dinheiro em diversas contas, dificultando as investigações.
“Os fraudadores eles adquirem na Dark Web listas de CPF. Os dados de muitos cidadãos podem ser encontrados facilmente na internet. Com base nesses CPFs é colocado no programa e esse programa roda, acessando diversos bancos nacionais com intuito de selecionar quais são os CPFs que serão selecionados na hora de obter o Auxílio Emergencial”, explicou o delegado Diego Campos de Almeida.
BENEFÍCIO FURTADO
O delegado explicou ainda que como o benefício não era pago para todo cidadão, sendo que havia a necessidade de preencher alguns requisitos para ser beneficiário, o programa hacker conseguia selecionar os CPFs que poderiam ser usados nas fraudes. Com o uso, muitos beneficiários tiveram o benefício sacado pelos criminosos.
“A partir dai com os CPFs já definidos eles partiam para uma segunda fase, que era a obtenção ou criação de documentos falsos em nome dessas pessoas, para utiliza-los para receber esse benefício assistencial. São pessoas que realmente tinham direito ao benefício, mas tiveram contas fraudadas e sacaram antes delas se inscreverem ou receberem” , explicou o chefe da Polícia Federal em Campinas, Edson Geraldo de Souza.
De acordo com o delegado, é estimado que as fraudes ultrapassassem os R$ 50 milhões, sendo que o valor pode ser muito maior, já que muitas pessoas não chegaram a descobrir ou não fizeram a denúncia do crime.
Duas pessoas foram presas em Goiânia e Brasília. Entre eles, está o jovem acusado de era atuar como hacker. Ele já tinha passagem pela polícia desde os 16 anos.
COMO COMEÇOU A INVESTIGAÇÃO?
De acordo com a Polícia Federal, ao todo são 37 pessoas investigadas pelos crimes de furto mediante fraude, estelionato e organização criminosa, cujas penas somadas ultrapassam 22 anos de prisão.
Segundo a Polícia Federal, a investigação foi iniciada em agosto de 2020 com base em uma informação encaminhada pela Caixa Econômica Federal à Policia Federal em Brasília, com dados sobre 91 benefícios de Auxílio Emergencial fraudados, no valor total de R$ 54,6 mil, que foram desviados para duas contas bancárias de pessoa física e de pessoa jurídica residente/sediada em Indaiatuba. Segundo a PF, as contas foram abertas após falsificação de documentos de empresários.
“Com isso, uma operação foi instaurada na Delegacia de Polícia Federal em Campinas e revelou milhares de outras fraudes. O rastreamento inicial das transações indicou que parte dos envolvidos nestas fraudes estavam situados nos estados de Goiás e Rondônia, sendo este último, estado lugar de residência de familiares da pessoa física residente em Indaiatuba”, informou a PF.
Segundo a Polícia Federal, em um segundo estágio da investigação, foi verificado que os beneficiários em questão receberam valores provenientes de ao menos 359 contas do Auxílio Emergencial fraudadas por meio de pagamento de boletos e transferências bancárias.
A OPERAÇÃO
A operação foi denominada Apateones, cujo nome em tradução livre do grego significa fraudadores. Segundo a PF, a ação é resultado de uma união de esforços denominada EIAFAE (Estratégia Integrada de Atuação contra as Fraudes ao Auxílio Emergencial), da qual participam a Polícia Federal, Ministério Público Federal, Ministério da Cidadania, CAIXA, Receita Federal, Controladoria-Geral da União e Tribunal de Contas da União.
De acordo com a PF, a operação é a maior do país desde que o EIAFAE começou a atuar.
Os alvos estão em endereços localizados em 12 estados e no Distrito Federal. Também foram autorizados pela 9ª Vara Federal de Campinas o bloqueio de bens e valores encontrados em nome dos investigados.
A DARK WEB
O termo “Internet obscura” ou “endereço sombrio” refere-se a servidores de rede disponíveis na Internet, acessíveis somente através de ferramentas, configurações ou autorizações específicas que dão um elevado nível de anonimato tanto a quem publica os conteúdos como a quem os consulta.
É necessário usar um navegador da dark web para pesquisar e acessar o conteúdo, que inclui dados criminosos. O ambiente não possui regulamentação e é de difícil acesso à fiscalização policial.