A mãe de um dos bebês que morreu neste mês na Maternidade de Campinas durante um surto de diarreia, relatou revolta após a morte do filho. Segundo Ana Paula Santos, o filho, Nicolas Henrique, nasceu prematuro e estava bem antes da contaminação pela doença. Ele completaria um mês no dia em que morreu.
Ainda abalada, ela confirmou a falta de profissionais no hospital. Por causa da falta de médicos, a Maternidade segue com 20 leitos interditados pela Saúde.
“É muita criança para pouco profissional. A minha revolta é que meu filho estava bem, meu filho estava perfeito. Houve esse caso de diarreia e infecção hospitalar que pode acontecer, a gente tá sujeito a tudo. Mas eu acredito que se tivessem os profissionais do tanto correto que tem que ter, o meu filho estaria vivo. A atenção que ele precisou ter, ele não teve”, desabafou.
O filho de Ana Paula é um dos dois bebês que morreram no começo deste mês durante o surto de gastroenterite na UCI (Unidade de Cuidados Intermediários). Segundo o Devisa (Departamento de Vigilância em Saúde), ainda não é possível confirmar que as morte foram causadas pelo quadro de diarreia. Ontem (24), mais uma morte de bebê foi confirmada no hospital (veja mais abaixo).
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O SURTO
Ao todo, 17 recém-nascidos internados na Unidade de Cuidados Intermediários foram contaminados. Dez precisaram ser transferidos para a UTI (Unidade de terapia intensiva) Neonatal porque tiveram o quadro de saúde agravado.
Hoje em entrevista à EPTV, o presidente da Maternidade, Marcos Miele da Ponte, afirmou que não há relação entre o surto e a morte do bebê.
“O que eu posso afirmar com certeza é que não teve nada a ver com relação ao surto. Foi um caso de prematuridade extrema, que não teve nenhuma relação. Existem seis recém-nascidos do surto que ainda precisam de tratamento, mas ele (o surto) está controlado”, disse.
JUSTIFICATIVAS E FALTA DE INFORMAÇÕES
Segundo Ana Paula, os profissionais informaram para ela que o surto poderia ter sido causado por uma fórmula de leite. Ela relata ainda que não teve ciência da gravidade do caso pelas equipes médicas.
“Eles informaram que era um quadro de diarreia que poderia ter vindo da fórmula do leite e eles estavam fazendo uma pesquisa sobre. A enfermagem ali, pra mim, falhou muito, porque todos os dias eu perguntava como que estava o meu bebê, e elas falavam que o bebê estava ótimo, estabilizando, que estava diminuindo o fluxo da evacuação, e era tudo mentira”, relatou.
“Cada médico falava uma coisa para mim, teve uma médica que falou para mim que ele tinha evacuado só três vezes, no outro período do plantão a médica tinha falado que ele tinha evacuado nove vezes, então durante essa uma semana os médicos ocultaram muitas coisas de mim. Ele teve três paradas cardíacas e uma desidratação profunda, uma diarreia profunda e ela falou para mim que essa desidratação dele não foi de dois dias, já vinha a mais de semana”, completou.
DESEJO DE JUSTIÇA
Em entrevista à EPTV Campinas, Ana Paula relatou o sentimento de abandono e o desejo por Justiça, afirmando que acredita que houve falha médica.
“Eu sei que nada vai trazer o meu filho de volta, nada mesmo, mas eu espero que tem que haver justiça pra isso, porque não foi só o meu, né? Eu espero que outras mães que verem isso, que esta acontecendo isso, se posicionem, falem alguma coisa também porque a gente tá falando de vida, é um filho, que ele poderia estar aqui comigo agora, se não tivesse tido essa falha. Pra mim, nada tira da minha cabeça que foi uma falha médica”.
O marido de Ana e pai do bebê, Cezário dos Santos, também citou o desejo por Justiça. “A gente não está querendo benefício e incriminar ninguém, não é isso, a gente quer o direito de todos os pais, que é ter os seus filhos nos seus braços, nesse momento ela poderia tá ninando ele e não tá. A gente quer a solução porque vai ter mais mães ali naquele local, e a gente não quer que eles passe pelo mesmo que a gente passou”, finalizou.
ENTENDA O CASO
Na quinta-feira, o Devisa informou sobre a morte dos dois bebês que ocorreu no começo do mês, em meio ao surto de diarreia. Os bebês foram contaminados pela doença, mas a causa da morte ainda está sendo investigada.
Ontem a secretaria de Saúde de Campinas informou que foi notificado o óbito de mais um bebê que estava internado na UTI neonatal da Maternidade de Campinas, no dia 23 de fevereiro. A pasta informou que causa da morte será investigada, para saber se está relacionada ou não com o surto de gastroenterite.
“A causa da morte (do terceiro bebê) será investigada, para que saiba se está relacionada ou não com o surto de gastroenterite, que já foi controlado. O motivo da morte de outros dois bebês também está em investigação pelas autoridades sanitárias. Outras causas estão sendo investigadas”, afirmou o Devisa.
Sobre o surto de diarreia, o hospital informou na quinta-feira que a doença não teve relação com a falta de equipe.
INTERDIÇÃO DE LEITOS
No dia 16 de fevereiro, a Vigilância Sanitária interditou a UTI Neonatal da Maternidade. A medida ocorreu por conta do número insuficiente de profissionais para atendimento dos bebês.Com isso, o hospital está autorizado a funcionar com apenas 20 dos 40 leitos da UTI Neonatal. No entanto, 32 pacientes estavam internados até a última quinta-feira (23), sendo assim, 12 bebês precisavam ser transferidos.
O número de UTIs fechadas representa 50% dos 40 leitos do hospital. O motivo da interdição seria o baixo número de profissionais médicos horizontalistas (médicos que fazem as visitas diárias).
A secretaria de Saúde informou que está transferindo para o Caism e para a PUC as gestantes com risco de parto prematuro para que, ao nascerem, os bebês sejam internados nas UTIs destes hospitais. Com as transferências, os hospitais registram superlotação.
O QUE DIZ A MATERNIDADE
Ontem, após a confirmação da terceira morte no hospital, a Maternidade de Campinas encaminhou uma nota negando a relação da morte do bebê com o surto e afirmando que a administração foi surpreendida com uma autuação da Prefeitura por funcionar com leitos acima do permitido.
Já sobre a morte dos dois bebês, na quinta-feira o hospital informou que não houve relação da falta de equipes com o surto, que já foi controlado.
“A situação de dimensionamento não impactou na ocorrência dos casos de diarreia enfrentado entre os dias 06 e 09/02/2023. Foram coletadas amostras e estamos aguardando resultados. Contudo, as providencias necessárias para a contenção da situação foram adotadas e não houve a ocorrência de nenhum outro caso desde o dia 09/02/2023”, afirmou.