A Vigilância Sanitária informou que dois bebês morreram neste mês na Maternidade de Campinas, em meio a um surto de gastroenterite. Por conta da falta de profissionais na unidade, 20 leitos da UTI Neonatal foram interditados pelo órgão. A interdição foi divulgada nesta quinta-feira (23) no Diário Oficial de Campinas.
Segundo o Devisa (Departamento de Vigilância em Saúde), a interdição aconteceu na última quinta-feira (16) por causa do baixo número de profissionais para o atendimento dos bebês. Seis dias antes, no dia 10, a Maternidade notificou à Saúde sobre o surto de diarréia. Segundo o Devisa, dois bebês acometidos pelo surto morreram.
O número de UTIs fechadas representa 50% dos 40 leitos do hospital. A falta de profissionais na UTI, segundo o Devisa, já havia sido identificada desde o final do ano passado, inclusive com autos de notificação para a entidade. Segundo o hospital, no momento da interdição, a unidade estava trabalhando acima da capacidade e havia 39 bebês internados na unidade Neonatal. Atualmente há 32 bebês na UTI Neonatal, e 12 precisam ser transferidos.
Em nota, a Maternidade de Campinas informou que a falta de médicos ocorre em meio a falta de profissionais no mercado e crise financeira enfrentada na unidade. Sobre o surto da doença que causou a morte de dois bebês, o hospital informou que a doença não teve relação com a falta de equipes e não houve ocorrências de novos casos desde semana passada (veja abaixo).
SUPERLOTAÇÃO E MORTES DE BEBÊS
Sobre o surto, o presidente da Maternidade, Marcos Miele da Ponte, afirmou que a infecção pode ter sido ocasionada pela superlotação do hospital. As mortes ocorreram na UCI (Unidade de Cuidados Intermediários).
“A Maternidade sofreu, talvez pelo fato da superlotação, um surto de diarreia do dia 6 ao dia 9 desse mês. Então teve um caso de infecção generalizada, recéns-nascidos foram contaminados na UCI, unidade de cuidados intermediários. Os casos mais graves desceram para a UTI, no total foram 18 casos, 10 desceram para a UTI, mas hoje o surto está controlado”, afirmou.
Questionada sobre a relação do surto com as mortes, a diretora do Devisa, Andrea von Zuben, afirmou que a causa da morte das crianças ainda está em investigação.
“A gente teve um surto de diarréia, com 17 bebês acometidos. São bebês que já têm alto risco, por isso que precisaram de UTI Neonatal ou de cuidados intermediários, e pode ser que esse surto de diarréia tenha ajudado a esse desfeixo. Não dá para afirmar que tenha a ver com essa situação porque existe uma série investigações que já foram começadas, existe um comitê municipal de óbitos fetais, maternos e neonatais e isso ainda a gente não tem como afirmar. Mas teve muitas crianças envolvidas no surto de diarréia”, afirmou.
FALTA DE MÉDICOS
Em nota, a Maternidade de Campinas confirmou que 20 dos 40 leitos da UTI Neonatal do foram interditados pela Vigilância Sanitária, informando que o motivo da interdição foi o baixo número de profissionais médicos horizontalistas (médicos que fazem as visitas diárias) e profissionais fisioterapeutas, para atender todos os leitos da unidade.
O presidente do hospital explicou que a interdição foi causada pela falta de dois médicos.
“A Vigilância interditou falta de médico horizontalista, aquele médico que a passa a visita todo dia nos recém-nascidos, que estão acostumados com aqueles casos. Pela portaria do Ministério da Saúde, existe a necessidade de um médico para cada 10 leitos, então nós precisaríamos de quatro profissionais, e nós temos dois”, indicou.
O presidente reforçou que a com a interdição, o número de leitos do hospital foi reduzido pela metade. No entanto, o hospital ainda não conseguiu chegar ao número indicado pela Vigilância.
“A Vigilância interditou 20 leitos de UTI Neonatal então reduziu nossa capacidade pela metade. Estamos agora reduzindo esses leitos porque no fechamento, que foi antes do Carnaval não conseguimos transferir nenhum recém-nascido pelo sistema de regulação, mas a partir do momento que iniciou as transferências, altas, e redução na internação esse número de vagas foi aumentando, então estamos reduzindo para chegar nesse número de 20 que a Vigilândia interditou”, explicou.
Ainda segundo o presidente, a falta de médicos horizontalista ocorre por remuneração considerada baixa e falta desses profissionais no mercado. Segundo ele, há contato com a Prefeitura, mas a administração do hospital ainda procura uma solução para o problema.
TRANSFERÊNCIAS
Por causa da interdição, a secretaria de Saúde de Campinas está transferindo as gestantes com risco de parto prematuro para o Caism (Centro de Atenção Integral à Saúde da Mulher) da Unicamp e para o Hospital PUC-Campinas, para assim que nascerem os bebês sejam internados na UTI Neonatal desses hospitais.
Na Maternidade, 60% do movimento é da saúde pública e 40% da saúde suplementar. Com lotação, o presidente indicou que gestantes em casos graves procurem outros hospitais. A Maternidade tem a maior UTI Neonatal da RMC (Região Metropolitana de Campinas), atendendo prematuros extremos, por ser referência para gestação de alto risco.
“As mães que precisarem de UTI, enquanto durar a interdição, indicamos que procurem outros serviços. Continuamos fazendo parto para gestantes sem risco, mas estamos restringindo internação para gestantes de alto risco”, afirmou.
Durante a manhã, a equipe de reportagem da EPTV Campinas registrou uma gestante de alto risco que teve a internação negada.
“Estava agendada hoje para induzir o parto, mas estava sem leito, ai pediram pra eu voltar no sábado. Fiquei frustrada porque a gente estava bastante ansioso. Lá dentro tá lotado, a médica disse que só hoje tem 18 partos agendados e não tem mais vaga. Meu parto por causa da hipertensão é de risco”, explicou a dona de casa Taiana Maria da Silva, grávida de 39 semanas.
CAISM E PUC
Em nota, o Caism informou que foi notificado da situação crítica do atendimento neonatal e obstétrico na Maternidade de Campinas no dia 17, e está à disposição para ajudar, mesmo com a unidade neonatal em reforma e com número de leitos reduzidos.
Segundo o Caism, há atualmente a capacidade de atendimento para 14 leitos de UTI Neonatal no hospital, mas 23 crianças estão internadas, causando superlotação na unidade.
“Recebemos três gestantes internadas naquele hospital e com possibilidade de nascimento de crianças prematuras. Uma delas já nasceu e está internada em nossa unidade de terapia intensiva neonatal. As outras duas gestantes estão internadas e em tratamento clínico e no momento sem indicação de interrupção prematura da gestação. Para recebê-las, procuramos postergar na medida do possível a internação de gestantes de nosso ambulatório de pré-natal de alto risco”, informou o hospital.
O Caism informou ainda que as crianças estão alojadas em ambiente do bloco operatório do hospital, o que compromete o atendimento de outras pacientes de outros setores do CAISM.
“No período do feriado recebemos ainda solicitações de receber também recém nascidos, porém não foi possível devido à superlotação de nossa unidade neonatal”, completou em nota.
Já o Hospital PUC-Campinas comunicou que a UTI Neonatal possui hoje 16 leitos conveniados com o SUS e está com 18 pacientes internados. “Há gestantes de alto risco na enfermaria SUS e no centro obstétrico e o hospital está recebendo da região vaga zero e demanda espontânea”, informou.
Segundo a PUC, a situação está sendo comunicada diariamente aos órgãos públicos competentes e à Central de Regulação de Ofertas de Serviços de Saúde.