Com informações da Eptv Campinas e Agência Estado
O cirurgião João Couto Neto, suspeito de erros médicos que teriam causado a morte de 42 pacientes e lesões em outros 114, em Novo Hamburgo, no Rio Grande do Sul, foi preso nesta semana, em um hospital de Caçapava, no interior de São Paulo.
Couto teve a prisão preventiva decretada após ser acusado pela Polícia Civil de homicídio doloso (com intenção de matar) em três inquéritos, em novembro. A defesa considera a prisão descabida e vai entrar com habeas corpus para que ele responda em liberdade (leia abaixo).
Mesmo estando sob investigação, em fevereiro deste ano, Couto Neto conseguiu registro no Cremesp (Conselho Regional de Medicina de São Paulo). Segundo o órgão, o pedido de registro não poderia ser negado na ocasião, pois ele não estava totalmente impedido de exercer a Medicina, mas com restrição parcial. No Sul, o médico foi proibido de realizar cirurgias por 120 dias, mas o prazo já expirou. Mesmo assim, ele atuava em atendimentos não cirúrgicos.
Na região de Campinas, Couto Neto trabalhou em três hospitais. Ele é cadastrado no Cismetro (Consórcio Intermunicipal de Saúde da Região Metropolitana de Campinas) e atendeu nas cidades de Amparo, Pedreira e Serra Negra.
Veja os locais:
- Amparo: Unidade de Saúde da Família (USF) do Jardim Silvestre
- Pedreira: Fundação Beneficente (Funbepe)
- Serra Negra: Hospital Santa Rosa de Lima
Em Amparo, segundo a Prefeitura, ele fez apenas um plantão, em 10 de outubro deste ano, para cobrir um outro médico que havia faltado. Couto era contratado da Cismetro.
Ainda de acordo com a Administração, não houve nenhuma queixa por parte dos pacientes, mas, mesmo assim, a Secretaria de Saúde convocará todos as 22 pessoas que foram atendidos por ele para uma reavaliação.
Já em Pedreira, Couto teria trabalhado em dois plantões no pronto-socorro, mas sido dispensado devido a reclamações em relação ao comportamento dele.
Em Serra Negra, teria atuado em plantões no pronto-socorro por intermédio da prestadora de serviços. O trabalho teria sido realizado em novembro.
O Cismetro informou que a documentação do médico estava em dia quando ele se cadastrou no consócio, mas que, com a prisão, abrirá uma sindicância para apurar os fatos e descredenciá-lo.
Os indiciamentos
De acordo com a Polícia Civil, os três primeiros indiciamentos do profissional decorreram das mortes de dois homens e de uma mulher. Segundo a investigação, Couto realizava cirurgias de hérnia, vesícula e refluxo, mas vários procedimentos teriam sido realizados sem autorização dos pacientes.
Em um dos casos, uma paciente que se apresentou para a retirada de hérnia teria sido submetida a outro procedimento. Em outro caso, de endometriose, o médico teria deixado de retirar o útero da paciente, embora tivesse cobrado o plano de saúde pelo procedimento.
Ainda segundo a polícia, Couto Neto realizava a cirurgia em um órgão e acabava perfurando outro. Testemunhas disseram que pacientes que tinham complicações após os procedimentos eram tratados com descaso. O médico chegava a fazer até 25 cirurgias em um único turno.
Uma ação da polícia realizada em dezembro do ano passado apurou outros casos em que, supostamente, o médico teria sido responsável por falhas que resultaram em mortes ou sequelas em pacientes. Foram cumpridos mandados de busca e apreensão no hospital em que ele atendia, em Novo Hamburgo, e no seu apartamento. Houve a apreensão de documentos, celulares e computadores. O material ainda é analisado pela investigação.
Sem base legal para a prisão, diz defesa
O defensor do médico, advogado Brunno de Lia Pires, disse que a prisão preventiva não tem base legal. “Qualquer jurista vê que essa prisão não tem qualquer fundamento. Prisão preventiva é quando há risco de fuga ou ameaça a testemunhas, o que não existe. Ele sequer foi impedido de exercer a Medicina. Essa medida decretada tem claro caráter intimidatório contra o médico Vamos entrar com habeas corpus o mais breve possível”, disse. “Estamos aguardando que o inquérito seja concluído e apresentado ao Ministério Público para, então, havendo denúncia e sendo recebida pelo juiz, apresentarmos a defesa prévia do médico.”
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