O número de professores da rede estadual de ensino em Campinas caiu em 2024, segundo dados do Censo Escolar divulgados neste ano. A quantidade de docentes passou de 6.017 em 2023 para 5.962 em 2024.
O levantamento revela que, enquanto o Ensino Médio apresentou um pequeno aumento no número de professores, o Ensino Fundamental registrou diminuição em todas as etapas. A maior redução foi observada nos anos finais do Fundamental, do 6º ao 9º ano: eram 2.180 docentes em 2023, contra 2.047 em 2024 — uma diminuição de 6,1%.
No Ensino Fundamental dos anos iniciais, do 1º ao 5º ano, também houve perda: de 1.902 professores em 2023 para 1.884 em 2024.
Falta de aulas e frustração entre alunos
Com menos professores disponíveis, o impacto chega rapidamente às salas de aula. Pais relatam que os filhos ficam sem atividades programadas e veem o desempenho escolar ser afetado.
A moradora Dayane de Souza conta que o filho já ficou sem aulas de Educação Física duas vezes neste ano devido à ausência de professor.
“É complicado porque eles ficam na expectativa de ter aquela aula. Ele vem adaptado com short, tênis e acaba não tendo. Ele fica meio frustrado, porque ele reclama em casa”,
relata.
O problema se repete em outras escolas da cidade. Nathalia Soares, que tem dois filhos matriculados na mesma instituição no Jardim Yeda, diz que a aposentadoria de uma professora antes do fim do semestre desorganizou o quadro de aulas. Segundo ela, uma mesma professora passou a atender duas turmas de séries diferentes.
“Por causa da questão do aprendizado deles, que prejudica muito. Sobre a questão da leitura, inclusive a minha filha, o ano passado, ela tirou 5 nas matérias. Passaram de ano sem saber ler. Está essa bagunça. E elas falam que quer tirar a licença, que vai se aposentar. Então é isso que está tendo”,
reclama.
Professores relatam desgaste
Além da falta de professores, outra preocupação é a quantidade de profissionais que deixam a educação estadual por causa das condições de trabalho. Um exemplo é o ex-professor de química Lucas Mariano, que pediu exoneração em 2023 após 12 anos atuando como docente concursado.
“Era assédio moral, era falta de respeito. O último ano foram inúmeras vezes que a polícia teve que ser chamada na escola, de tudo. Eu fui até ameaçado de morte no último ano. A gente não tem apoio de nada. Agora, então, nesses últimos anos de governo do estado de São Paulo, tudo recai sobre o professor. Tudo que dá errado com o aluno é culpa do professor. O aluno não aprende, culpa do professor. Se ele não se interessa, a culpa é sua. Tudo é culpa do professor. A saúde mental dos professores está indo por água abaixo. As pessoas não têm ideia do que o professor passa em sala de aula”,
afirma.
Lucas defende mudanças estruturais para que a rede estadual consiga reverter a escassez de docentes.
“Primeiro, voltar a reprovação dos alunos. O aluno não pode passar sem saber nada. Eu acho que tem que dar um salário digno aos professores. Tem que voltar a aposentadoria máxima, de no máximo 25 anos. O professor não aguenta mais do que isso em sala de aula. É impossível”,
desabafa.
Desvalorização afasta novos profissionais
Para especialistas e representantes sindicais, a principal causa para a diminuição de professores na rede estadual é a falta de valorização da carreira. A coordenadora da Apeoesp (Sindicato Professores do Ensino Oficial do Estado de SP) em Campinas, Solange Pozzuto, afirma que os problemas enfrentados pelos docentes já afetam até o interesse de novos estudantes pelas licenciaturas.
“Ultimamente, a gente não tem valorização profissional e nem social. A gente tem baixos salários, sem reajuste, muito assédio moral. Muitas pessoas estão saindo da educação, principalmente da rede estadual, e procurando outra profissão. Nas licenciaturas, a gente já teve uma redução. Na pedagogia, em alguns anos, a gente vai ter uma crise para encontrar professores e professoras”,
avalia.
*Com informações de Jorge Talmon/EPTV Campinas
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