- Publicidade -

CampinasCotidianoO que as opiniões sobre os bebês reborn revelam sobre a sociedade e as redes sociais?

O que as opiniões sobre os bebês reborn revelam sobre a sociedade e as redes sociais?

Reações negativas e julgamentos expõem a intolerância, desinformação e dificuldades de lidar com diferenças

- Publicidade -

Os bebês reborn voltaram ao centro das atenções nas últimas semanas, impulsionados por uma onda de vídeos e publicações nas redes sociais. As bonecas hiper-realistas impressionam pelos detalhes físicos, mas também chamam a atenção por serem, muitas vezes, adquiridas por adultos — seja por colecionadores, para fins terapêuticos ou por vínculos emocionais.

Na última semana, o acidade on fez uma matéria que mostra um pouco do trabalho realizado em uma loja especialista em reborns em Campinas. Entre os detalhes, a sócia da Maternidade Alana Babys, Daniela Nascimento Baccan, explica que, apesar da grande repercussão na internet, o público principal do estabelecimento ainda é infantil.

- Publicidade -


Preconceito contra bebês reborn e desinformação nas redes sociais

Apesar disso, um vídeo publicado nas redes sociais já soma mais de 89 mil visualizações, com 126 comentários – a maioria deles negativa: “Gente, acorda para a vida! Não deixe se influenciar por essas coisas”, diz um deles. Também há comentários como “ridículo” e “ainda que tenha textos lindos falando sobre bebê reborn ajudar na solidão, eu não vou romantizar isso”.

Mais do que julgamentos, a falta de compreensão sobre o tema já trouxe consequências reais: uma criança chegou a ser agredida por ter sido confundida com uma dessas bonecas. O episódio escancara os riscos da desinformação e das fake news, que distorcem realidades e reforçam preconceitos.

Bonecas que refletem quem somos

Para a psicóloga Danyeli de Cassia Armelin Silva, especialista em Medicina Psicossomática, “como qualquer objeto, os bebês reborn podem nos satisfazer, causar estranheza, nos representar e nos vincular com quem somos.”

“Pulsionamente, encontramos objetos que nos ajudam a lidar com aspectos da vida, como ser visto, existir, ter satisfações, lidar com perdas, lutos etc. Portanto, os objetos internos e externos que nos representam se assemelham a quem somos, e dizem das nossas repetições e organizações frente à vida e frente ao outro. Em um primeiro momento, os bebês reborn não são nada mais do que um objeto, inclusive feito de forma incrível e muitas vezes artisticamente”,

explica.

Ainda, de acordo com a psicóloga, apesar da repercussão recente com relação aos reborn, não há nada de atual nessas relações. Inclusive, não é incomum adultos terem brinquedos e bonecas guardadas pela vida toda.

“Brincar de boneca não é novo. As bonecas não estão sendo colocadas como substitutas do que não existe no real; isto sempre existiu porque o simbólico nos é necessário para lidar com a dureza da realidade. Falar deste assunto é falar sobre algo que já nos é conhecido, mas que nos parece estranho. O sensacionalismo das redes sociais nos fez crer que se trata de algo viral e adoecedor, porém, será que o viral e adoecedor não é a forma que estamos lidando com nossa interação nas redes sociais? Nos últimos dias viralizaram postagens tendenciosas, desrespeitosas e sem cuidado algum por toda a internet, algumas inclusive falsas”,

ressalta.

Para Danyeli, a questão merece cuidado e escuta, pois a relação com qualquer objeto depende de como nos envolvemos e de como ele nos toca, ou seja, nenhum objeto é bom ou mau por natureza.

- Publicidade -

“Acerca do uso e interação não há regras nem respostas prontas. Por exemplo: as bonecas podem ser utilizadas por crianças para potencializar a brincadeira e, de forma saudável, elas desenvolvem criatividade, interação e ali conseguem melhor lidar com suas questões de vida. O brincar é de supra importância na saúde mental das crianças, e, por que não, nos adultos também?”

O papel terapêutico e afetivo dos bebês reborn

Ainda, segundo a especialista em Medicina Psicossomática, outro uso saudável dessa interação ocorre com pessoas com questões de memória, traumas e solidão, onde o bebê reborn é utilizado para fins terapêuticos.

“Há também colecionadores de bebês reborn, como tudo mais que, com sua beleza e raridade, pode ser colecionável e já nos é acolhido como comum: figurinhas, moedas, dinheiros estrangeiros, tampinhas de garrafas, latas estampadas, cartões, selos etc.”,

ressalta.

Ela chama atenção para o fato de que algumas relações com esses objetos podem refletir estados psíquicos delicados, mas merecem respeito e, quando necessário, apoio profissional:

“Certamente, algumas interações espelham nossas questões psíquicas que estão mais vulneráveis e desorganizadas, podendo, aos olhos de julgadores, serem tomadas como relações patológicas. Entretanto, essas relações muitas vezes são tentativas de se organizar, mesmo que não façamos igual, nos compete respeitar. Por isso, algumas relações soam como delirantes, egoístas e disfuncionais. Em caso de sofrimento, dependência ou algo agravante que coloque a pessoa em risco, o mesmo vale para quem se vicia e se perde em celulares e jogos; vale procurar um profissional da área psicológica para melhor tratar a situação.”

Julgamentos sem escuta aprofundam preconceitos

Por fim, Danyeli reforça que os bebês reborn são símbolos contemporâneos que espelham nossos conflitos internos, e que o julgamento sem compreensão é um equívoco que apenas reforça preconceitos:

“Os bebês reborn nada mais são do que representantes de objetos da atualidade, onde neles atualizamos nossos conflitos, inclusive os prazeres de julgar o outro como bem queiramos. A relação com esses bebês reborn é muito particular; portanto, desconhecendo quem são estes e sem entender a razão pela qual elegeram tais objetos como campo relacional, nada mais temos a falar. Julgar sem ouvir é lugar de defesa e desconhecimento, o exercício maquiado da perversão. Perversão é quando fazemos do outro objeto de nossos prazeres, seja com julgamento, sexualidade e/ou tentativa de controle”,

ressalta.

Essa visão traz um convite à reflexão sobre como lidamos com a diferença e o outro, especialmente em um mundo cada vez mais polarizado e marcado pela intolerância. Ao invés de condenar ou ridicularizar, seria possível adotar uma postura de curiosidade e empatia, buscando compreender os contextos pessoais e emocionais que levam alguém a se vincular a esses objetos simbólicos.

“Diante do supracitado, nos fica a reflexão de que a violência, o julgamento, o cancelamento e a ridicularização do outro parecem nos incomodar menos e causam mais prejuízos do que as relações diretas com as bonecas, que não têm a intenção de ofender a quem quer que seja. Será que louco é sempre o outro? Queremos acreditar que sim…”

Quer ficar ligado em tudo o que rola em Campinas? Siga o perfil do acidade on Campinas no Instagram e também no Facebook.

Receba notícias do acidade on Campinas no WhatsApp e fique por dentro de tudo! Basta acessar o link aqui!

Faça uma denúncia ou sugira uma reportagem sobre Campinas e região por meio do WhatsApp do acidade on Campinas: (19) 97159-8294.

LEIA TAMBÉM NO ACIDADE ON PIRACICABA

Quem são os advogados presos suspeitos de mandarem matar casal após golpe de R$ 15 milhões

Ônibus com funcionários da Hyundai capota e deixa cinco feridos

- Publicidade -

Giovanna Peterlevitz
Giovanna Peterlevitz
Repórter no ACidade On Campinas. Tem experiência na cobertura de grandes factuais nacionais e internacionais, nas diversas áreas de jornalismo. Já atuou em direção de imagens, edição de vídeo, produção, reportagem, redação e edição de textos e também na apresentação de telejornais e programas de entrevista.

- Publicidade -

Recomendado por Taboola

Notícias Relacionadas