A Polícia Federal de Campinas deflagrou hoje (6) uma operação para investigar um esquema criminoso que envolve crimes financeiros na região. De acordo com as autoridades, o grupo utiliza o pagamento de boletos bancários para lavagem de dinheiro de grandes quantias, que pode financiar atividades ilícitas como tráfico de drogas, contrabando e corrupção. Até o momento, foram bloqueados R$ 129 milhões de pessoas envolvidas nesse esquema.
Segundo a PF, a investigação começou após a análise de documentos apreendidos em uma operação de 2021, quando foi constatada uma empresa, com sede em Amparo, que atuava como correspondente bancário e usava do dinheiro do pagamento de contas de luz, água e outros boletos, para fornecer dinheiro em espécie a operadores financeiros paralelos.
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Durante a manhã, as autoridades cumpriram oito mandados de busca e apreensão em endereços de empresas que são clientes da operadora ou que estão relacionadas a doleiros envolvidos no esquema criminoso. Durante as diligências, foram apreendidos diversos itens, incluindo um carro de luxo, R$ 40 mil em espécie, documentos, computadores e celulares. Até o momento, não houve prisões relacionadas a essa operação e as investigações continuam em andamento.
COMO FUNCIONAVA?
O delegado da Polícia Federal de Campinas, Edson Geraldo de Souza, explicou que entre os esquemas criminosos, o grupo usava de quantias conseguidas com pagamento de boletos.
“É muito comum pessoas encontrarem oferecimentos na internet ou até em adesivos distribuídos sobre pagamentos de boletos ou retirada de multas de boletos. São boletos vencidos mais a multa. Essas empresas oferecem um serviço, o cidadão vai, fornece o boleto. Mas aquele boleto é uma passagem livre para o crime, que vai fazer entrar na empresa um dinheiro com uma justificativa de um boleto que não pertence a ele. A empresa paga esse boleto com valor total com multa, só que esse boleto foi usado para lavagem de dinheiro e para ocultação da entrada de capitais dentro da empresa”, explicou.
Segundo o delegado, além do modelo de utilização de boletos, o grupo ainda é investigado por superfaturamento de importações, importações fraudulentas, emissão de notas fiscais de empresas que não existem e pagamento de boletos de duplicadas que não existem.
“É um sistema complexo porque não são só empresas que não existem, são empresas não existem, misturadas com empresas que existem, e misturas de pessoas físicas e jurídicas”, relatou.
DEPÓSITOS FRACIONAMENTOS
Segundo a Polícia Federal, de 2015 a 2020, a empresa investigada teve 785 notificações de movimentações suspeitas, com várias operações de crédito e débito no mesmo dia, que indicam fracionamento de quantias para não identificação da origem.
“Em alguns dias essa empresa faz vários depósitos fracionados, o que não é típico de uma empresa que atua como correspondente bancária, com vários depósitos seguidos no mesmo valor em tempo mínimo. Nós detectamos 1.946 ações de fragmentação de depósito, o que denota ocultação de capitais e realização de cambio por meio de evasão de divisas”, afirmou.
A LAVAGEM DE DINHEIRO
Segundo a Polícia Federal, o objetivo da ação de hoje foi identificar empresas que estão utilizando a lavagem de dinheiro.
“A lavagem do dinheiro é hoje o principal sistema de manutenção da criminalidade no Brasil e no mundo. A importância dessa operação é identificar empresas verdadeiras onde fachada, que estejam utilizando esse sistema para pagar contas que sejam ligadas ao crime”, relatou o delegado, explicando a ação da empresa.
“Esse correspondente bancário têm recebido sistematicamente depósitos e feito transferências. E esse dinheiro que entra pelo pagamento de boletos, em espécie, ele desaparece. Isso significa que ele está sendo transferido para essas empresas para ter livre movimentação longe de qualquer tipo de fiscalização. É dessa forma que é pago, na maioria dos casos, drogas, contrabando, corrupção, tudo entra por esse sistema paralelo”
Segundo a Polícia Federal, essa foi a 6ª operação contra crimes financeiros e as ações já resultaram no congelamento de mais de R$ 1 bilhão.
COMO OS OPERADORES GANHAM?
O delegado explicou que os operadores ganham em cima de porcentagem.
“Conforme mais sujo for o dinheiro, mais necessidade houver de lavagem, maior é o pagamento de uma porcentagem desse valor que entra. Então se precisa lavar R$ 1 milhão precisa passar para empresas de fachadas, chegar a esse correspondente que precisa transformar em depósitos no exterior ou aqui em determinadas empresas ou transformar o dinheiro em espécie, e paga-se uma porcentagem. Chegamos a verificar oferta de até 20% do valor que pode ser lavado, e isso atrai muitas pessoas que se dispõem para emprestar contas, fornecer boletos para serem pagos em seu nome, para ser pagos”.
O delegado afirma que a tendência dos investigados é dizer que somente emprestou a conta, mas o processo é classificado como ocultações de capitais, e os responsáveis podem responder com crimes que somam até R$ 10 mil.
A investigação prossegue para identificar e juntar provas para punir os envolvidos no esquema criminoso. A operação de hoje foi denominada “Deep Bank” (uma referência a deep web para demonstrar um submundo bancário).
Entre os crimes constatados durante a investigação estão:
• gerir fraudulentamente instituição financeira
• operar sem autorização instituição financeira, inclusive câmbio
• usar falsa identidade para realização de operação de câmbio
• evasão de divisas
A soma das penas dos crimes constatados, todos contra o Sistema Financeiro Nacional, podem chegar a 26 anos de prisão.