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CampinasCotidianoPor que escolha do novo papa importa até para quem não é católico? Entenda

Por que escolha do novo papa importa até para quem não é católico? Entenda

A escolha de um papa muda só a Igreja? Entenda por que não — e como essa decisão repercute além da fé

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O Vaticano anunciou nesta quinta-feira (8) a eleição do novo papa. O cardeal norte-americano Robert Francis Prevost foi escolhido pelos demais cardeais e adotará o nome de Leão XIV.

Embora muitos acreditem que essa decisão diga respeito apenas à comunidade católica, a escolha de um novo papa pode ter impactos significativos em escala global — dizem especialistas. A liderança da Igreja Católica, que conta com mais de 1,3 bilhão de fiéis, pode influenciar governos, minorias, movimentos sociais, eleições, políticas ambientais, debates sobre direitos civis e a economia em diversas regiões do mundo entenda mais abaixo.

Quem é o novo papa?

Robert Francis Prevost tem 69 anos, nasceu em Chicago (EUA) e foi nomeado cardeal pelo Papa Francisco em 2023. Antes de ser eleito papa, atuava como prefeito do Dicastério para os Bispos, um dos cargos mais importantes da Cúria Romana. Religioso da Ordem de Santo Agostinho, Prevost também tem longa trajetória na América Latina: foi missionário no Peru por quase duas décadas, onde chegou a ser bispo de Chiclayo. Ao assumir o pontificado, adotou o nome de Leão XIV.

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Reorientação estratégica na escolha do novo papa

A eleição de um papa norte-americano com vivência pastoral na América Latina é interpretada como uma sinalização de reorientação geopolítica da Santa Sé. Segundo o analista político Stephan Reichenberger, o novo pontífice representa a continuidade da agenda iniciada por Francisco, com foco na pacificação de conflitos e na modernização da Igreja.

“O Papa Leão XIV é visto como a continuidade do trabalho que foi iniciado pelo Papa Francisco – um trabalho de promover a pacificação de conflitos internacionais e de, ao mesmo tempo, modernizar a igreja católica para os tempos modernos que vivemos”,

afirma.

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A própria escolha do nome papal pode sinalizar esse desejo de influência internacional.

“O próprio Papa Leão I, também conhecido como o São Leão, teve um papel importante em impedir que Átila, o Huno, decimasse a cidade de Roma durante a sua invasão da cidade. Potencialmente podemos avaliar a escolha do nome ‘Leão’ como um pretexto ou até mesmo uma vontade do Vaticano querer ter maior protagonismo na política internacional, principalmente em sua cruzada pela paz internacional”,

conta Stephan.

Influência do novo papa em políticas públicas

A atuação do Papa Leão XIV pode extrapolar a esfera religiosa e impactar diretamente decisões políticas em países de maioria católica, como o Brasil. Stephan destaca que a Igreja costuma atuar como agente de lobby institucionalizado, com capacidade de articulação junto a governos nacionais.

“O Papa terá, assim como já teve historicamente, um protagonismo significativo nas comunidades católicas em países onde a religião é predominante, inclusive na influência de lobby que a igreja poderá exercer frente a estes governos.”

Esse papel político também se manifesta em encontros com chefes de Estado, como lembra Reichenberger.

“Além disso, através de reuniões bilaterais, o Papa também exercerá um papel importante no destino de decisões políticas no país, assim como o Papa João Paulo II influenciou – como exemplo – a visão do então Presidente Bill Clinton referente ao aborto em 1993.”

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Embate cultural e pautas progressistas

Reichenberger, que é norte americano, afirma que a nacionalidade do pontífice também provocou repercussão positiva entre os católicos do país, o que pode ter impacto em discussões importantes entre as alas mais conservadoras e progressistas.

“Tenho percebido muito orgulho dos meus compatriotas americanos em finalmente termos um ‘papa americano’, o que poderá servir como uma eventual centralização deste embate cultural do conservadorismo versus progressismo, ajudando a criar pontes entre ambas as alas”,

afirma o analista político.

Cultura, costumes e embates morais

Para a cientista política e professora de Relações Internacionais Denilde Holzhacker, o papa é uma figura que molda valores sociais e culturais em escala global — inclusive entre aqueles que não seguem a fé católica.

“A igreja católica sempre exerceu um papel muito forte na influência sobre questões de moral, questões de costumes e questões culturais. Então mesmo os não católicos tendem a ter essa influência que afeta a sua vida. Então, o que o papa pensa sobre a questão do aborto, do casamento homoafetivo, sobre a questão sobre políticas públicas, acaba afetando a todos porque ele acaba influenciando”,

explica.


Além de líder religioso, o papa é também chefe de Estado, o que dá ao Vaticano um papel diplomático estratégico.

“O papa tem uma função de chefe de Estado que faz com que ele tenha um papel diplomático importante nas relações com outros países e também esse é um fator de influência”,

afirma.

Diálogo inter-religioso e presença transnacional

Outro aspecto destacado por Holzhacker é a postura recente da Igreja em favor do diálogo com outras religiões.

“Tem feito um processo muito grande de aproximação entre religiões e de diálogo entre diferentes religiões. Mesmo não sendo de uma religião específica ou defendendo uma religião específica, essa liderança, pela sua abrangência, pela sua capacidade de influência, acaba sendo importante principalmente para religiões que têm aí também questões globais importantes – judeus, muçulmanos, grupos de religiões asiáticas”,

ressalta a professora.


Igreja como mediadora e provedora de assistência


Tanto Reichenberger quanto Holzhacker lembram que o Vaticano tem tradição como mediador neutro em conflitos internacionais — papel que pode ganhar novo fôlego com Leão XIV.

“Dizer que o Vaticano não é relevante em negociações de paz seria um equívoco. Por exemplo, alguns analistas políticos avaliam que, em sua visita à Irlanda em 1979, o Papa João Paulo II ajudou a pacificar o IRA […] Muitas vezes seu discurso em Drogheda é visto como um momento chave para o final do conflito na Irlanda”,

afirma Stephan.


Holzhacker reforça que essa é uma função histórica da instituição.

“Estabelecer acordos, criar o espaço para que se tenha possibilidade de se ter acordos entre partes beligerantes — essa tem sido uma função histórica do Vaticano.”


Ela destaca ainda outro papel crucial da Igreja: a prestação de serviços.

“A igreja tem uma função muito relevante de assistência social, atendimento a grupos desfavorecidos, inclusive na saúde pública e na educação. Muitas vezes, pessoas que não são católicas são atendidas por instituições ligadas à igreja”,

afirma.


Soft power


Para Reichenberger, o soft power – capacidade de um país influenciar outros sem recorrer à força ou coerção – do Vaticano continua sendo uma ferramenta poderosa — e o alcance do novo pontificado dependerá do protagonismo que Leão XIV decidir assumir.

“O papado ainda é sim uma figura com potencial de influenciar a ordem internacional. Mas também acredito que o alcance dessa influência depende muito do líder da Igreja Católica. Não apenas de suas ações e palavras, mas do protagonismo que ele escolher ter no âmbito internacional. De forma organizacional, essa influência existe. A meu ver, além de simbólico o seu alcance também é prático.”


Impactos imediatos de um novo papa: turismo, mercados e logística


Mas os impactos da escolha de um novo papa — e do caminho que ele decide trilhar — vão além da esfera política e espiritual. A avaliação é do economista Ricardo Buso, que aponta efeitos de curto e longo prazo no cenário econômico global.

“Os chamados impactos de curto prazo são bastante nítidos e fáceis de identificar. Um acontecimento como morte, despedida, eleição ou até uma viagem de um Papa tem poder impressionante de movimentar a organização, segurança e logística da sede do papado, mas também o turismo religioso, que atinge o Vaticano, evidentemente, a Itália e se espalha pela Europa”,

diz o economista.

Esses efeitos se estendem por diferentes setores, ativando cadeias econômicas relevantes.

“Nisso envolvemos as áreas de alimentação, hospedagem (negócios familiares ou grandes grupos econômicos) e transporte aéreo, setor marcado por grandes organizações globais. Por trás das grandes empresas do turismo existe uma complexa estrutura de capital, que pode ter origem em Bolsa de Valores, no caso das de capital aberto, o que mexe com os resultados financeiros de uma infinidade de investidores, tanto daqueles que querem especular quanto para o grupo mais previdente, que reserva em ações suas aposentadorias, por exemplo.”

Segundo o economista Ricardo Buso, é importante reforçar o papel estratégico do mercado de capitais na economia.

“Vale sempre lembrar que os mercados de capitais funcionam como uma fonte de financiamento aos grandes investimentos produtivos, que movimentam economias, geram empregos e renda”,

resalta.

Sinais de longo prazo e os efeitos sobre o mercado


Já os impactos de longo prazo, segundo Buso, são mais sutis e exigem atenção aos gestos e pronunciamentos do novo pontífice.


“Aí entram os pronunciamentos, ou mesmo as sinalizações mais sutis, dos Pontífices com relação aos valores da Igreja, que podem incluir redistribuição de renda, combate às desigualdades e, mais recentemente, ações ambientais, que são grandes agregados do conjunto da economia.”


Essas posições costumam ser monitoradas de perto pelos mercados.


“Estes passos estão sempre no radar dos mercados globais para planejar ações de longo prazo, principalmente. Uma condenação papal pública a determinadas práticas que têm impactos econômicos certamente faz o mercado pensar muito antes de um investimento.”


A força simbólica do papado para a economia brasileira


Buso lembra que o Papa Francisco teve papel pioneiro na aproximação da Igreja com a pauta ambiental, um posicionamento que afetou diretamente economias como a brasileira.

“Papa Francisco, por exemplo, que estreou o desvio do eixo da Igreja (da Europa para a chamada periferia do mundo), além dos marcantes pronunciamentos de ordem social e de acolhimento, praticamente inaugurou a relação da instituição do papado com a proteção ambiental, devidamente formalizada na história com a Encíclica Laudato Si. Assim, ao entendermos o Brasil como a nação apta a liderar o importante processo de transição energética global, precisamos reconhecer o incentivo de Francisco à nossa economia, compatível com os valores dele”,

explica.


Sobre o novo pontífice, para ele, a expectativa é de uma continuidade moderada.

“Já as expectativas sobre Leão XIV são de um pontificado alinhado ao de Francisco para as questões sociais e mais tímido na chamada pauta de costumes. Possivelmente uma conciliação do Conclave com a ala mais conservadora da Igreja, apagada durante Francisco.”


Ainda assim, Buso destaca que a trajetória do novo papa carrega sinais de impacto global.

“De qualquer forma, falamos de um Papa imigrante, que chegou conectando povos da maior economia do mundo com a América Latina e que, enquanto Cardeal, já discordou publicamente da política imigratória de Donald Trump. É outro ponto nevrálgico da economia, já que essa perseguição nos Estados Unidos tem um grande poder de encarecer mão-de-obra por lá, antes de imigrantes, o que provoca inflação, com efeitos no mundo todo”,

diz Ricardo.


Leão XIV e o legado econômico de Leão XIII


Voltando à história, o economista também resgata o legado de Leão XIII, pontífice que ocupou o cargo entre 1878 e 1903, durante a Segunda Revolução Industrial. “Num período de profundas transformações sociais, o Papa fundou a Doutrina Social da Igreja, abordando direitos dos trabalhadores, dignidade do trabalho e salário justo. Foi uma revolução para a época, registrada pela Encíclica Rerum Novarum.”

“Uma postura que, ao mesmo tempo, incentivou organização e associação dos trabalhadores e influenciou governos no mundo no estabelecimento de legislações trabalhistas, que se configuram como profundas mudanças econômicas.”


A escolha do nome Leão XIV, nesse contexto, pode não ter sido apenas simbólica.

“Se Leão XIV adotou tal nome por inspiração do antecessor nominal, temos um sinal de significativa influência econômica”.

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Giovanna Peterlevitz
Giovanna Peterlevitz
Repórter no ACidade On Campinas. Tem experiência na cobertura de grandes factuais nacionais e internacionais, nas diversas áreas de jornalismo. Já atuou em direção de imagens, edição de vídeo, produção, reportagem, redação e edição de textos e também na apresentação de telejornais e programas de entrevista.
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