- Publicidade -
CampinasCotidianoPor que tantas árvores caem em Campinas? Entenda o que está por trás do problema

Por que tantas árvores caem em Campinas? Entenda o que está por trás do problema

Cidade registrou mais de quatro mil quedas de árvores em uma década; fatores naturais e urbanos se combinam e aumentam risco

- Publicidade -

Campinas registrou 4.464 quedas de árvores entre 2015 e 2024. Os anos com mais ocorrências foram 2016, com 2.155 registros, e 2023, com 1.111. A combinação de chuvas intensas, solo encharcado, falta de espaço para raízes e envelhecimento das árvores contribui para tornar o cenário cada vez mais desafiador — e expõe os limites da prevenção em meio a eventos climáticos extremos.

Veja o número de quedas de árvores ano a ano:

  • 2015 – 499
  • 2016 – 2.155
  • 2017 – 264
  • 2018 – 253
  • 2019 – 417
  • 2020 – 379
  • 2021 – 296
  • 2022 – 453
  • 2023 – 1.111
  • 2024 – 344

Relação entre intensidade de chuvas e queda de árvores

Segundo o professor Peter Groenendyk, do Instituto de Biologia da Unicamp (Universidade Estadual de Campinas), há uma relação clara entre a intensidade das chuvas e a quantidade de quedas de árvores.

“Quanto mais chove no período entre outubro e março, maior tende a ser o número de árvores que caem. Às vezes chove muito em dezembro, mas as árvores só começam a cair em janeiro, como consequência desse excesso de água acumulado no solo”,

explica.

Análise sobre queda de árvores

Para chegar a essa conclusão, Groennendyk analisou os registros de quedas de árvores em Campinas ao longo dos últimos anos e os comparou com os dados de precipitação do Cepagri (Centro de Pesquisas Meteorológicas e Climáticas Aplicadas à Agricultura).

O cruzamento das informações evidenciou que os picos de queda coincidem com os períodos de maior volume de chuvas, reforçando a ligação entre clima e instabilidade das árvores em áreas urbanas. Veja:

Além disso, o alto número registrado em 2016 coincide com um episódio de microexplosão — fenômeno climático extremo que atingiu a Metrópole naquele ano (relembre abaixo).

Solo encharcado compromete raízes e estabilidade

Groenendyk aponta o encharcamento do solo como um dos principais fatores por trás das quedas.

“Durante a estação seca, o solo é compacto, duro. Mas com o início das chuvas, ele passa por ciclos de expansão e retração, até ficar mais fofo e solto. Quando saturado, ele perde resistência. Nesse estado, as raízes podem se desprender com mais facilidade, mesmo se estiverem saudáveis”,

explica.

Ele destaca ainda que diferentes tipos de solo (arenoso, argiloso, etc.) reagem de formas distintas à água, o que pode tornar certas áreas mais propensas a quedas de árvores.

- Publicidade -

“Dependendo da composição do solo, ele segura melhor ou pior a estrutura das raízes”,

completa.

Infraestrutura urbana e falta de espaço agravam o problema

Além do solo, o ambiente urbano também é capaz de influenciar diretamente na estabilidade das árvores.

“O espaço para o crescimento das raízes é muitas vezes limitado. Quando uma raiz encontra a fundação de uma casa ou calçada, ela precisa desviar ou empurra a estrutura, o que já mostra a força que a planta exerce”,

afirma.

Essa limitação de espaço pode impedir o desenvolvimento completo das raízes, comprometendo a sustentação da árvore.

Segundo ele, problemas invisíveis, como fungos ou apodrecimento nas raízes, também podem enfraquecer a árvore de dentro para fora, sem que isso seja perceptível. “Muitas vezes a árvore parece saudável na copa, mas está fragilizada na base, diz.

Troncos ocos, espécies e podas mal feitas aumentam o risco

Outro fator comum nas quedas é o apodrecimento ou enfraquecimento do tronco.

“O tronco pode estar oco, por ação de cupins ou outros agentes. Às vezes a árvore continua presa ao solo por raízes saudáveis, mas o tronco cede e quebra.”

Groenendyk ressalta ainda o papel das podas. “Quando mal feitas, elas desequilibram a copa ou expõem a madeira, o que pode levar ao apodrecimento ao longo do tempo. Uma copa torta também pode concentrar peso de um lado e facilitar a queda em dias de vento”, afirma.

Ele também cita a espécie da árvore como fator importante. “Algumas espécies têm raízes mais frágeis ou são menos resistentes a solo encharcado. A sibipiruna, por exemplo, pode representar maior risco em determinadas condições.”

Bairros antigos e árvores envelhecidas concentram quedas

Estudos realizados na cidade de São Paulo mostram que a idade do bairro é um dos principais fatores associados ao risco de queda.

“Bairros mais antigos costumam ter árvores maiores e mais velhas, o que naturalmente aumenta a suscetibilidade a problemas. Árvores grandes enfrentam maior força do vento e exigem mais das raízes para se manterem firmes. Se essas raízes estiverem comprometidas ou o solo instável, a queda se torna mais provável.”

Natureza imprevisível desafia prevenção

Apesar dos avanços em manejo urbano, Groenendyk reconhece que eventos climáticos extremos são difíceis de prever e controlar.

“Podemos fazer podas, escolher boas espécies e monitorar árvores mais críticas, mas um vento excepcional, que só ocorre a cada 50 ou 100 anos, escapa de qualquer planejamento.”

Ele defende que, diante desse cenário, medidas emergenciais podem ser necessárias em anos de chuvas atípicas.

“Fechar temporariamente parques ou monitorar árvores grandes próximas a escolas e edifícios pode evitar tragédias. É preciso agir com base em dados, mas também reconhecer os limites do controle.”

Exemplos recentes de quedas de árvores

Campinas enfrentou diversos episódios de chuva intensa no início de 2025, com estragos registrados em diferentes regiões da cidade. No dia 24 de março, um forte temporal provocou quedas de árvores, alagamentos, danos em terminais de ônibus e problemas na rede elétrica.

A força das chuvas levou a Prefeitura a adiar a terceira apresentação do Show Encantado da Páscoa, que ocorreria na noite anterior, dia 23, no Jardim Nova Europa.

VEJA MAIS: Temporal em Campinas causou queda de árvores, alagamentos e estragos em terminais

Já em 21 de fevereiro, a Defesa Civil contabilizou a queda de 10 árvores e galhos em decorrência de chuvas acompanhadas por rajadas de vento. Na ocasião, o Cemaden (Centro Nacional de Monitoramento e Alertas de Desastres Naturais) registrou 23,8 milímetros de chuva em apenas uma hora, o que contribuiu para a instabilidade de árvores e alagamentos pontuais.

LEIA TAMBÉM: Temporal em Campinas causa quedas de árvores, alagamentos e destelhamento de lava-rápido

Outro temporal, ocorrido em 4 de janeiro, também causou impactos significativos: 31 árvores e 10 galhos caíram em diferentes pontos da cidade. A tempestade foi acompanhada por granizo e ventos de até 36 km/h, agravando os estragos.


Operação Chuvas de Verão 2024/2025

Durante a Operação Verão 2024/2025, entre dezembro de 2024 e 15 de abril de 2025, foram registradas 255 quedas de árvores, um aumento expressivo em relação às 69 do mesmo período anterior. Também houve crescimento nas quedas de galhos, que passaram de 61 para 89 ocorrências.

Medidas de prevenção adotadas pela Prefeitura

Em resposta ao aumento dos incidentes envolvendo árvores durante chuvas, a Prefeitura de Campinas lançou, em outubro de 2024, o Plano de Gestão de Arborização Urbana. Entre as ações previstas, à época, estava a realização de exames de tomografia em árvores, tecnologia que permite avaliar a saúde interna das plantas e identificar problemas estruturais invisíveis a olho nu — o que contribui para a prevenção de quedas.


Além disso, o Decreto 23.661, publicado em 21 de novembro de 2024, estabeleceu regras para a Operação Chuvas de Verão. Uma das medidas determina que parques e bosques sejam fechados à visitação pública sempre que o acumulado de chuvas nas últimas 72 horas atingir 80 milímetros.

Desde 11 de dezembro de 2024, o fechamento desses espaços passou a ser feito de forma regionalizada, com base em dados pluviométricos específicos de cada área da cidade. A liberação ou manutenção da interdição é reavaliada a cada 24 horas, conforme a evolução do clima.

Microexplosão em Campinas

O fenômeno climático atingiu Campinas na madrugada do dia 5 de junho de 2016. A microexplosão é caracterizada por uma nuvem carregada de ar, água e granizo, acompanhada por ventos intensos que podem atingir até 120 km/h.


Embora se assemelhe a um tornado, trata-se de uma corrente de ar que despenca em linha reta — formando um verdadeiro “corredor de vento” — sem apresentar espiralidade. A explicação é do Cepagri.

No caso da tempestade em Campinas, ocorreram várias microexplosões, principalmente na região do Taquaral. Na ocasião, 100 mil pessoas ficaram sem energia elétrica. Como consequência, o ano também registrou o maior número de queda de árvores da década.

Eventos climáticos extremos

Ao abordar questões como quedas de árvores e danos causados por tempestades, é fundamental destacar o aumento dos eventos climáticos extremos, como a microexplosão de 2016 – que são cada vez mais recorrentes.

Segundo dados das Nações Unidas, o Brasil registrou dez eventos climáticos extremos ao longo de 2024, sendo três deles classificados como sem precedentes: as chuvas no Rio Grande do Sul, a seca na Amazônia e a onda de calor na região central do país, em agosto.

De acordo com a OMM (Organização Meteorológica Mundial), as enchentes provocadas pelas chuvas intensas no Rio Grande do Sul configuram-se como o pior desastre climático da história recente do Brasil, com perdas estimadas em R$ 8,5 bilhões apenas no setor agrícola.

Impactos e alertas

Segundo pesquisadores, as mudanças climáticas são a principal causa da intensificação e repetição desses desastres naturais. Sem ações concretas para mitigar seus efeitos, tempestades severas, enchentes, estiagens prolongadas e calor extremo continuarão a provocar acidentes e prejuízos – não apenas em cidades como Campinas, mas em todo o mundo.

Quer ficar ligado em tudo o que rola em Campinas? Siga o perfil do acidade on Campinas no Instagram e também no Facebook.

Receba notícias do acidade on Campinas no WhatsApp e fique por dentro de tudo! Basta acessar o link aqui!

Faça uma denúncia ou sugira uma reportagem sobre Campinas e região por meio do WhatsApp do acidade on Campinas: (19) 97159-8294.

LEIA TAMBÉM NO ACIDADE ON PIRACICABA

Procon fiscaliza comércio de Piracicaba antes do Dia das Mães para garantir direitos do consumidor

Pastor de igreja é denunciado por suposto assédio contra duas adolescentes

- Publicidade -
Giovanna Peterlevitz
Giovanna Peterlevitz
Repórter no ACidade On Campinas. Tem experiência na cobertura de grandes factuais nacionais e internacionais, nas diversas áreas de jornalismo. Já atuou em direção de imagens, edição de vídeo, produção, reportagem, redação e edição de textos e também na apresentação de telejornais e programas de entrevista.
- Publicidade -

Recomendado por Taboola

Notícias Relacionadas