Campinas registrou 101 surtos da síndrome mão-pé-boca em creches e escolas neste ano. O dado é da secretaria de Saúde, que faz um alerta sobre a alta dos casos. Ao todo, foram 467 crianças contaminadas na cidade só nestes três primeiros meses do ano, até este dia 29. Segundo a pasta, a maior parte dos casos se concentrou neste mês de março: foram 92 surtos, com 415 crianças infectadas.
Os números assustam quando comparados com os dados do ano passado. Nos três primeiros meses de 2022 foram 17 surtos em creches e escolas, com 95 crianças infectadas até março. Ou seja, até agora, o total de crianças contaminadas é 391% maior do que o mesmo período – e março ainda não acabou.
Os números também superam todo o total de casos de 2022. No ano inteiro, de janeiro até dezembro, foram 300 crianças contaminadas em 59 surtos nas unidades de ensino.
Segundo a Saúde, a alta pode estar relacionada ao período mais seco e quente do ano, que aumenta a circulação de carga viral em ambientes, além da desobrigação do uso de máscaras em escolas e maiores notificações vindas das escolas.
Além de Campinas, a síndrome também causou 57 casos da doença em escolas de Hortolândia e fez a Educação municipal suspender aulas na Emeief João Carlos do Amaral Soares, no bairro Nova Hortolândia (leia mais aqui).
SAÚDE FAZ ALERTA
Segundo a coordenadora da Vigilância Epidemiológica, Daiane Moratto, os altos números de casos confirmados neste ano causam preocupação e alerta na cidade.
“É uma preocupação da Saúde. Em 2022 os surtos foram bastante distribuídos durante o ano e em 2023 agora de fato estão chamando muito a nossa atenção. Estamos reforçando com as escolas as ações de prevenção e como controlar essa doença, estamos com alerta. A distribuição de surtos está no território inteiro, em todas as regiões”, disse em entrevista ao acidade on.
Segundo a coordenadora, as vigilâncias de todas as regiões têm reforçado as orientações nas escolas de como prevenir e controlar através de medidas de boa higienização.
Entre elas estão:
- lavagem das mãos
- higienização ambientes e brinquedos
- controle para não haver troca de brinquedos entre as crianças
- cuidados com trocas de fraldas
Além disso, Daiane reforça a importância do monitoramento dos pais para a identificação dos sintomas. “Contamos com o apoio das famílias. Por ser uma doença que é bastante contagiosa é importante que os pais fiquem atentos a qualquer sinal de febre, lesões, sintomas respiratórios, para levar a criança para avaliação para não expor outras crianças à doença” reforçou.
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SURTOS NAS ESCOLAS
Apesar do grande número de surto nas unidades educacionais, a coordenadora da Vigilância explicou que não houve orientação para suspensão de aulas nas unidades.
“Não teve nenhuma escola com orientação de suspensão de aulas de síndrome mão-pé-boca. Os casos chegaram, foram notificados, passaram por avaliação e investigação epidemiológica e monitoramento até a interrupção do surto. Não tivemos necessidade da orientação de suspensão de aulas pela síndrome, mas todas as orientações foram feitas”, disse.
O QUE É
A síndrome mão-pé-boca é uma infecção causada por vírus, contagiosa e muito comum em crianças. Atinge frequentemente menores de 5 anos, mas pode acometer também os adultos. O vírus pode ser transmitido por contato com secreções das vias respiratórias (tossir, espirrar e falar), secreções das feridas das mãos ou dos pés e pelo contato com fezes dos pacientes infectados (transmissão oral fecal).
A SMPB é causada pelo vírus Coxsackie, que causa infecção no sistema digestivo (boca, estômago e intestino) e também pode provocar estomatites (espécie de afta que afeta a mucosa da boca). O nome da doença se deve ao fato de que as lesões são mais comuns em mãos, pés e boca.
“A síndrome mão-pé-boca é causada por uma transmissão viral, de um vírus que circula entre as pessoas, comunidade, e acomete com mais frequência crianças com até cinco anos de idade, que é a faixa etária que se aglomera em escolas e também que acaba tendo muito contato um com o outro, e essa é a principal via de transmissão”, explicou Daiane.
SINTOMAS E TRANSMISSÃO
A coordenadora reforça a importância da atenção com os sintomas: “A criança que está infectada ela pode apresentar um quadro clínico de febre, falta de apetite, lesões, dor de cabeça, dor de garganta, ferida dentro da boca que parece com afta, bolhas, lesões nas palmas das mãos e solas dos pés. Então o contato com uma criança que pode estar tossindo, espirrando, falando ou mesmo com a secreção de feridinhas das mãos ou dos pés, ou pelo contato inclusive com as fezes, pode transmitir de uma criança para a outra”, explicou.
Entre os principais sintomas da síndrome estão:
- Febre alta nos dias que antecedem o surgimento das lesões
- Aparecimento, na boca, amígdalas e faringe de manchas vermelhas com vesículas no centro que podem evoluir para ulcerações muito dolorosas
- Erupção de pequenas bolhas em geral nas palmas das mãos e plantas dos pés, mas pode ocorrer também nas nádegas e na região genital
- Mal-estar, falta de apetite, vômitos e diarreia
- Por causa das lesões na boca e dor de garganta, podem surgir dificuldades para engolir e muita salivação
De acordo com a coordenadora, a transmissão é ainda mais alta por acometer crianças.
“Elas têm o hábito de ficarem mais juntinhas, mais perto. Normalmente são crianças que fazem o uso de fraldas então exigem dos profissionais muita atenção para a higienização adequada das mãos. Crianças também pegam muito na boca então as vezes tem lesões internas e saem pegando em outras coisas e em outros coleguinhas. Então essa alta taxa de notificações e surtos tem a haver com a forma de transmissão da doença, essa coisa do contato, da transmissão respiratória no ambiente de crianças”, explicou.
SINAIS DE ALERTA
Não há vacina para proteger contra o vírus que causa a síndrome mão-pé-boca, e coordenadora reforça alerta aos sinais de atenção e para que os pais procurem avaliação médica imediata para orientação e tratamento adequado.
“A gente pode ter desde quadros respiratórios mais importantes, mas também lesões na pele, que podem causar infecção e às vezes precisar de uso de antibióticos. Então as famílias que estão com crianças infectadas têm que observar muito a evolução, dar atenção para quadros de desidratação por que às vezes com as lesões as crianças têm dificuldade para comer. São questões importantes para os pais monitorarem. Em casos de febre, bolas abrindo, causando pus, é importante passar por orientação médica”, finalizou.
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