O Cenipa (Centro de Investigação e Prevenção de Acidentes Aeronáuticos) criou uma simulação que reproduz a forma como o avião da Voepass caiu no dia 9 de agosto, em Vinhedo. As imagens foram apresentadas nesta sexta-feira (6), durante divulgação do relatório preliminar sobre as possíveis causas do acidente, que matou 62 pessoas, sendo quatro tripulantes e 58 passageiros.
A animação foi feita com base nos dados das caixas-pretas do avião, que armazenam o áudio da cabine e também outras informações, como altitude, velocidade, posição dos manetes e outros dados técnicos.
Relatório preliminar do Cenipa divulga sequência de eventos antes da queda
Além da simulação da queda do avião, o Cenipa revelou a sequência de eventos que antecederam a colisão. Os registros apontam alguns dados importantes para a apuração sobre as causas do acidente, apesar do centro ainda evitar apontar a causa principal da queda.
O documento mostra que a tripulação reportou uma falha no sistema antigelo. No entanto, os dados coletados até o momento não permitem confirmar se essa falha realmente ocorreu e se teve impacto no desempenho da aeronave. Dois minutos antes do acidente, o copiloto relatou a presença de “bastante gelo”. A investigação também revelou que o sistema antigelo foi ativado algumas vezes durante o voo.
Sistema antigelo foi acionado e desligado várias vezes
De acordo com o relatório, o sistema de detecção de gelo alertou os pilotos pelo menos seis vezes durante o voo. O sistema antigelo (Airframe De-Icing), por sua vez, foi ativado e desativado cinco vezes, conforme os registros. Não foi possível determinar se ele foi desligado manualmente ou se apresentou algum problema técnico, mas a tripulação havia relatado uma falha logo no início do trajeto.
Aeronave era equipada com sistema de degelo
O relatório do Cenipa também confirma que o modelo ATR 72-212A era certificado e equipado com sistemas adequados para operar em condições adversas, como a formação de gelo. Quatro sistemas principais monitoravam e protegiam contra o acúmulo de gelo:
- Sistema de detecção de gelo
- Sistema Anti-Icing
- Sistema De-Icing
- Sistema de Monitoramento de Desempenho da Aeronave (APM)
Detalhes sobre o sistema de detecção de gelo
O sistema de detecção de gelo, composto por uma sonda de indicação de gelo (IEP – Ice Evidence Proble) e um detector eletrônico de gelo (Eletronic Ice Detector), era o principal mecanismo para identificar o acúmulo de gelo. A sonda IEP, instalada na fuselagem, era projetada para reter gelo antes que outras superfícies da aeronave fossem afetadas, fornecendo uma indicação visual aos pilotos.
O detector eletrônico de gelo, instalado na asa esquerda, emitia alertas sonoros e visuais quando detectava condições propícias para a formação de gelo. Caso os sistemas antigelo não estivessem ativados, uma luz de alerta piscava e um alarme era acionado (single chime).
Veja como foram os registros relacionados ao sistema de detecção de gelo da aeronave:
12h12min40s – os “Propeller Anti-Icing” 1 e 2 foram ligados;
12h14min56s – o detector eletrônico de gelo conectado ao CCAS (sistema centralizado de alerta de tripulação) exibiu um sinal de alerta;
12h15min03s – o sistema antigelo foi ligado;
12h15min42s – um tom de alarme único (single chime) foi ouvido na cabine. Na sequência, os tripulantes comentaram sobre ter ocorrido uma mensagem de falha no sistema antigelo;
12h15min49s – o sistema antigelo foi desligado;
12h16min25s – o detector eletrônico de gelo deixou de exibir o sinal de alerta;
12h17min08s – o detector eletrônico de gelo exibiu um sinal de alerta;
12h19min13s – o detector eletrônico de gelo deixou de exibir o sinal de alerta;
12h23min43s – o detector eletrônico de gelo exibiu um sinal de alerta;
12h30min05s – detector eletrônico de gelo deixou de exibir o sinal de alerta;
13h11min02s – o detector eletrônico de gelo exibiu um sinal de alerta;
13h12min41s – o detector eletrônico de gelo deixou de exibir o sinal de alerta;
13h12min55s – o detector eletrônico de gelo exibiu um sinal de alerta;
13h17min20s – o detector eletrônico de gelo deixou de exibir o sinal de alerta.
13h17min32s – o detector eletrônico de gelo exibiu um sinal de alerta.
13h17min41s – o sistema antigelo foi ligado;
13h18min55s – um tom de alarme único (single chime) foi ouvido na cabine.
13h19min07s – o sistema antigelo foi desligado;
13h20min00s – o copiloto comentou: “bastante gelo”;
13h20min05s – o sistema antigelo foi ligado pela terceira vez;
13h21min09s – o controle da aeronave foi perdido e ela ingressou em uma atitude de voo anormal até colidir contra o solo.
De acordo com o Cenipa, agora a investigação deverá seguir três principais linhas de ação para a queda do avião a partir de agora:
fator humano – que irá apurar o desempenho da tripulação técnica ante a situação;
fator material – que investigará a condição de aeronavegabilidade, com especial atenção aos sistemas anti-icing, de-icing e de proteção contra a perda de sustentação da aeronave; e
fator operacional – que analisará os elementos relacionados ao ambiente operacional que podem ter levado ao acidente.
“As informações disponíveis no Reporte Preliminar podem sofrer atualizações à medida que novos dados factuais forem obtidos. O nosso objetivo é entregar o relatório final no menor prazo possível, dependendo sempre da complexidade da ocorrência e, ainda, da necessidade de descobrir os possíveis fatores contribuintes”,
disse o chefe do Cenipa, o brigadeiro do ar, Marcelo Moreno.
A aeronave de modelo ATR 72, do voo 2283, decolou de Cascavel (PR) às 11h58 com destino ao Aeroporto de Guarulhos. O voo ocorreu dentro da normalidade até as 13h20. No entanto, a partir das 13h21, a aeronave deixou de responder às chamadas do Controle de Aproximação de São Paulo (APP-SP). A perda do contato com o radar ocorreu às 13h21, e o momento da colisão contra o solo ocorreu às 13h22.
O Cenipa informa que as investigações “não buscam o estabelecimento de culpa ou responsabilização, conforme previsto no § 4º, art. 1º, do Decreto nº 9.540/2018, tampouco se dispõem a comprovar qualquer causa provável de um acidente, mas indicam possíveis fatores contribuintes que permitem elucidar eventuais questões técnicas relacionadas à ocorrência aeronáutica”.
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