A Unicamp (Universidade Estadual de Campinas) está elaborando um estudo sobre as sequelas da covid-19 na estrutura funcional do cérebro. Segundo o estudo, as alterações podem desencadear depressão, ansiedade, fadiga e sonolência mesmo naqueles que tiveram infecções leves.
Segundo a pesquisadora da universidade, Clarissa Yassuda, a pesquisa foi realizada em 300 pessoas que foram infectadas com o vírus. De acordo com a pesquisa, em análises de ressonância magnética dos cérebros, apareceu uma atrofia na massa cinzenta.
“Identificamos áreas de atrofia da substância cinzenta nos sujeitos, mesmo naqueles que tiveram covid-19 leve. Percebemos que as pessoas que têm mais alterações são aqueles tem muitos sintomas de ansiedade e depressão. Já publicamos outro estudo mostrando que existe relação entre os níveis de ansiedade e intensidade dessa atrofia”, explicou.
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ANSIEDADE E DEPRESSÃO
Segundo a pesquisadora, antes da pandemia, o Brasil já era considerado um dos países mais ansiosos do mundo, com 9% da população relatando os sintomas do transtorno. Agora, com a pesquisa, é perceptível que os níveis de ansiedade e depressão são maiores em pessoas que testaram positivo para a covid-19.
O estudo apontou que os sintomas de ansiedade e depressão podem levar a pessoa que foi infectada com o vírus a ter disfunções cognitivas. “Fica o alerta para a dimensão das possíveis consequências da pandemia”, diz Yassuda, orientadora da pesquisa.
CAPACIDADE NO TRABALHO
A pesquisa mostrou os impactos que a “covid longa” trouxe na capacidade de trabalho dos infetados. O estudo relacionou a persistência de sintomas neuropsiquiátricos, como sonolência excessiva, fadiga e sintomas de depressão e ansiedade, à capacidade de trabalho dos sobreviventes de covid-19 e concluiu que ambas estavam diretamente relacionadas.
O estudo foi realizado em duas etapas com um grupo homogêneo de trabalhadores bancários com características semelhantes de trabalho, rotina e nível educacional. Segundo a pesquisa, a primeira etapa, eles responderam um conhecido como Work Ability Index (WAI), que monitora a capacidade de trabalho, relatando, em sua maioria, problemas relacionados à memória e cognição.
A segunda foi o acompanhamento por alguns meses. Os dados mostraram 62,5% dos participantes apresentavam WAI reduzido.
“A perda econômica desses indivíduos é perceptível e aponta para a urgência de tratamentos específicos para reduzir tanto a sobrecarga individual quanto os prejuízos globais”, diz os pesquisadores orientados por Yassuda.
FADIGA
Outro ponto que foi estudado na pesquisa foi a questão da fadiga na “Covid longa”, que foi um dos sintomas mais apontados pelos pacientes.
No entanto, o termo é usado popularmente e de forma genérica, explica os pesquisadores, e não possui uma definição científica clara. Para entender e estudar o sintoma, uma equipe do CEB (Centro de Engenharia Biomédica) da Unicamp, liderada pelo pesquisador Leonardo Elias, professor da FEEC (Faculdade de Engenharia Elétrica e de Computação), criou um projeto de testes que mede contrações musculares e força. Eles aplicaram um conjunto de testes para avaliar a função neuromuscular e a fatigabilidade de um músculo da mão, além da destreza manual.
Segundo ele, os participantes do experimento foram submetidos a uma série de tarefas e, durante sua realização, as forças do movimento do dedo indicador e da contração do músculo foram medidas com sensores e a eletromiografia (exame que registra a atividade elétrica do músculo). Também foram realizados outros exames para entender a questão da fadiga.
Os testes mostraram que os pacientes com sintomas de fadiga decorrente da “Covid longa” apresentam de fato habilidade motora reduzida, com diminuição na capacidade de sustentar a força e redução da frequência de ativação de unidades motoras em uma tarefa de reação. No entanto, vale ressaltar que o sintoma pode ter influência de sintomas de ansiedade e depressão.
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