A reitoria da Unicamp (Universidade Estadual de Campinas) divulgou nesta terça-feira (25) uma nota repudiando “tentativas de intimidação, difamação e desrespeito” contra sua comunidade acadêmica. O texto foi publicado após o vereador Vini Oliveira (Cidadania) divulgar, no último domingo (23), um vídeo criticando ‘pichações com pensamentos ideológicos’, segundo ele, nas paredes do IFCH (Instituto de Filosofia e Ciências Humanas).
Na gravação, Vini exibe pichações, adesivos e manifestações políticas espalhadas pelas paredes do prédio do instituto, e chega a arrancar adesivos de candidatos do PT, incluindo material de campanha das vereadoras Paolla Miguel (PT) e Mariana Conti (Psol). Ele chama a situação do local de “aberração” e também afirma no vídeo que iria questionar a reitoria da universidade sobre as condições do espaço.
Em sua fala, o parlamentar critica diversas vezes cartazes e escritos na parede relacionados à comunidade trans. O vídeo foi publicado na véspera do primeiro dia de realização do evento Virada Transcultural, na Unicamp, que tem como uma das principais pautas abordar a inclusão das cotas trans na universidade.
Ontem (24), novamente no IFCH, o vereador discutiu com alunos e relatou ter sido vítima de uma agressão. Um vídeo publicado por ele nas redes sociais mostra o momento em que um estudante o empurra e, logo em seguida, Vini aciona a Polícia Militar, que foi até o local.
O parlamentar registrou um boletim de ocorrência sobre o caso. No texto, Vini relata que tentou conversar com os alunos para entender por que o prédio do instituto estava “totalmente depredado e pichado”, mas teria sido “recebido de forma agressiva por parte de um grupo de alunos, tendo sido agredido por dois deles”.
A ocorrência foi registrada como lesão corporal no 7º Distrito Policial, no distrito de Barão Geraldo.
O que diz a Unicamp sobre episódio envolvendo vereador Vini Oliveira
Ainda ontem, a direção do IFCH da Unicamp publicou uma nota afirmando repudiar “veementemente quaisquer tentativas de intimidação, difamação e desrespeito a sua comunidade”. Hoje, um novo texto foi divulgado, dessa vez também criticando os acontecimentos envolvendo o vereador na segunda-feira.
“A direção do IFCH sempre esteve aberta ao diálogo com a sociedade, mas em nenhum momento o vereador que se diz preocupado com as condições de nossa infraestrutura nos procurou para conversar. Se o vereador estivesse disposto a conversar, não teria vindo filmar nossos espaços à noite, quase clandestinamente, em um final de semana. Isso indica que ele não veio aqui para dialogar e apresentar propostas para a universidade, mas sim para provocar”, diz o texto.
A direção ainda afirma que o parlamentar se comportou de forma “inadequada” por não respeitar as regras da universidade para a realização de filmagens e o uso de imagens.
Segundo a nota, Vini foi convidado ontem pela direção para visitar os espaços e conhecer o trabalho do IFCH, mas não aceitou. “Continuaremos defendendo os princípios e valores que orientam a universidade pública, inclusiva, diversa e democrática! Não aceitaremos nenhuma forma de intimidação!”, finaliza.
O texto da reitoria da universidade reitera o posicionamento da direção do IFCH, mas sem citar explicitamente o vereador Vini. “A excelência de nossa universidade tem na diversidade um de seus pilares essenciais, algo que se reflete na amplitude de saberes, nas perspectivas e abordagens que orientam nossas atividades de ensino, nas atividades de pesquisa e extensão”, diz a reitoria.
“Reconhecida nacional e internacionalmente pela qualidade de seus cursos e pela relevância de suas pesquisas, a Unicamp guarda um compromisso inegociável com o pensamento crítico, o avanço do conhecimento e a busca por uma sociedade mais justa e igualitária. Como instituição pública e democrática, a Universidade mantém-se aberta ao diálogo com todas as pessoas e instituições que desejam engajar-se na saudável troca de conhecimento responsável por levar ao avanço da reflexão nos mais diversos campos do saber”.
Repercussão na Câmara e no partido
A visita do vereador Vini Oliveira à Unicamp movimentou a sessão da Câmara dos Vereadores de ontem à noite. Os parlamentares Mariana Conti (Psol), Paolla Miguel (PT), Guida Calixto (PT), Wagner Romão (PT) e Gustavo Petta (PCdoB) teceram críticas à abordagem do vereador, inclusive com alguns deles aproveitando o tempo de fala livre na tribuna para comentar sobre o episódio.
Hoje, o Cidadania Campinas, partido do qual Vini é filiado, divulgou uma nota também repudiando o ocorrido entre o vereador e os alunos do IFCH e da Unicamp.
“Essas atitudes do vereador não condizem com a identidade do Cidadania, que é um partido da diversidade, da inclusão, da busca por um mundo mais justo e fraterno. Aos alunos do IFCH e à Unicamp, nossa solidariedade. Não nos interessa esse tipo de político”, diz o texto, que é assinado pela presidente do Cidadania Campinas, Ana Stela Alves de Lima.
O que diz o vereador
Em nota enviada ao acidade on sobre a repercussão do caso, o vereador Vini Oliveira disse que, “como qualquer outro cidadão”, tem acesso às áreas externas da Unicamp, com exceção das salas e áreas privativas, que são restritas apenas aos estudantes. “Tenho acesso às repartições públicas e posso gravar qualquer conteúdo, desde que não comprometa a imagem de ninguém. A pichação não deve existir, e a depredação do patrimônio é algo que devemos repudiar, especialmente porque tem ocorrido com certa frequência em um dos setores da Universidade, o IFCH”, escreveu.
“A pessoa pode escolher ser o que quiser: transsexual, homossexual… mas isso não deve ser levado para dentro das redes de ensino e universidades como doutrinação política ou ideológica, ainda mais quando se trata de uma universidade tão famosa e respeitada. A universidade deve ser apartidária. Eu me posicionarei contra esse absurdo até o fim dos meus dias, e todo cidadão que deseja uma educação de qualidade para seu filho, filha, neto ou algum parente deve apoiar essa causa contra esse tipo de ação por parte dos estudantes.
As frases encontradas nos muros são horríveis e não podem nem ser citadas neste texto, mas estão nas minhas redes sociais. Um absurdo completo, um mundo paralelo. Fui vítima de agressões físicas e verbais dentro da universidade, e isso precisa ser repudiado veementemente, de todas as maneiras possíveis e constitucionais”, conclui o texto.
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