
Colônia de imigrantes criada há 132 anos, Helvetia é uma espécie de "ilha suíça" em Indaiatuba e se mobiliza, a cada geração, para preservar a sociedade forjada na luta de seus fundadores. De origem rural, um dos desafios da comunidade é sobreviver às mudanças econômicas de um país que se industrializou, e levou os descendentes a buscar empregos na "cidade".
"Helvetia nasceu de uma pré-experiência de imigrantes que trabalharam duro por mais de 30 anos em fazendas, conseguiram ganhar dinheiro para comprar uma propriedade. Pessoas que se uniram e descobriram que sem religião e educação não teriam futuro", diz o descendente José Carlos Bannwart, sobre as sociedades criadas no passado e que ainda norteiam a colônia: da igreja, da escola e do tiro ao alvo (esportivo). Devido a essas instituições, os descendentes seguem ativos na comunidade, organizando eventos culturais, esportivos e religiosos, que atraem turistas da região, de outros estados e da própria Suíça.

O engenheiro Bannwart, de 79 anos, é um dos protagonistas da história mais recente da colônia, desde 1977, quando assumiu a sociedade escolar. "Na escola, nós praticamente atendíamos Indaiatuba. Eram 15% de alunos descendentes e 85% de bairros próximos", lembra.

Em um período em que já havia convênio com o município, a professora mantida pela colônia ganhava 25% do salário das demais e ele convocou ex-alunos para arrecadar fundos, dando origem à famosa Festa da Tradição. Em 1981, o governo do Estado assumiu a Escola São Nicolau de Flüe. Bannwart presidiu a sociedade escolar/cultural outras vezes, e segue contribuindo com a comunidade, inclusive dando palestras a estudantes de Indaiatuba.

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Sem precisar manter a escola, a colônia seguiu seu compromisso educacional por meio da cultura. "Começamos a oferecer coisas interessantes, danças, festas, e continuamos a educar quem nasceu ali sobre suas tradições." Para o engenheiro, Helvetia "ajudou a fazer Indaiatuba", com a escola, projetos turísticos e participação na criação da Feira das Nações da cidade, por exemplo.
No final dos anos 1980, um censo feito com a ajuda das famílias estimou que havia 8 mil descendentes da colônia pelo país. A atual diretoria está analisando a melhor maneira de se fazer um novo censo, para atualizar esses números, informa o presidente da Sociedade Escolar São Nicolau de Flüe, José Roberto Ambiel. A população que reside no núcleo é hoje pequena, de 170 descendentes, estimados em 2015 em um trabalho de pesquisa feito em Helvetia pela professora suíça Andreia Noppka. Há ainda 50 não-descendentes que residem na comunidade.

Nas festas, há públicos de até 7 mil pessoas, além da programação intensa de casamentos e buffet na paróquia Nossa Senhora de Lourdes, por onde passam 15 mil visitantes ao ano. As festas (Fundação, Tradição, junina, religiosas, entre outras) e o buffet do salão social (com cozinha profissional e servido por voluntários) são as duas principais fontes de renda da colônia suíça. Neste ano de pandemia de covid-19, eventos foram temporariamente suspensos.
História

Helvetia foi fundada em 14 de abril de 1888, por imigrantes de "um meio cantão suíço conhecido como Obwalden", diz Bannwart. Eles chegaram ao Brasil em duas fases, em 1854 e a partir de 1880, em um total de 500 pessoas, para trabalhar em fazendas de café. "Após 36 anos de muito trabalho e economias (feitas pela primeira 'turma' de suíços) já havia possibilidade de retornar à Suíça. Uma viúva assim o fez, mas encontrou a Suíça ainda muito empobrecida, a ponto de entender que poderia dar oportunidade para seus patrícios almejar um melhor futuro nas novas terras brasileiras", conta.
A fundação de Helvetia se deu com a compra do Sítio Capivari Mirim pelas famílias Ambiel, Amstalden, Bannwart e Wolf. A população inicial era de 34 pessoas. Ao longo do tempo, as terras foram divididas entre as famílias. "Dá até vergonha não nos sacrificarmos da forma como eles se sacrificaram. Isso se faz com muito amor e orgulho", afirma Bannwart, seguro da continuidade do trabalho de preservação cultural já em curso por novas gerações.
Para a descendente e secretária da sociedade escolar Gislaine Fanger Menezes, essa missão segue viva na comunidade. "Tenho muito orgulho em fazer parte de uma comunidade que respeita sua história e trabalha em prol de um bem comum, que é manter viva a história que nossos antepassados lutaram para criar."