Começa nesta quarta-feira (6) o Conclave que vai eleger o novo papa. Com os olhos do mundo voltados ao Vaticano, uma figura já conhecida dos brasileiros volta ao centro das atenções como uma das principais porta-vozes dos acontecimentos em Roma: a jornalista Ilze Scamparini.
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Infância em Araras
Correspondente da TV Globo na capital italiana há mais de 25 anos — e famosa pelas aparições no alto dos telhados romanos — Ilze nasceu em Araras, no interior de São Paulo, em 1958. Na cidade, estudou no Insa (Instituto Nossa Senhora Auxiliadora), escola católica tradicional.
Desde jovem, ela já demonstrava características que a fariam se destacar futuramente. “Ela fez o ginasial e o 2º grau no Insa, terminando seus estudos aqui em 1976. Era uma aluna participativa e bastante crítica, segundo os colegas que estudaram com ela”, ressalta a diretoria da instituição.

Entre os que conviveram com Ilze na adolescência está Rita Albiero Grigoletto, que relembra o desempenho da colega dentro e fora da sala de aula.
“Eu convivi com ela porque a gente era do time do vôlei. Eu era levantadora e ela era cortadora. Aliás, ela cortava muito bem. E ela sempre foi muito ágil, tanto no esporte quanto como pessoa. Era combativa, guerreira, dava o melhor de si. Ela era diferente, era além do tempo dela, a gente olhava e percebia que ela não se enquadrava em padrões”,
conta.

Vocação artística
Apesar da escolha pelo jornalismo, Ilze também carregava desde cedo uma forte veia artística. A amiga de infância Maria Roseli Botezelli relembra os interesses que a futura repórter já demonstrava na juventude.
“Ela sempre foi uma pessoa diferenciada nas escolhas. Gostava de arte, de uma boa leitura e de um bom sorvete. De família italiana, com mãe e tias que cozinhavam muito bem, ela também sempre apreciou uma boa comida. Eu e ela fazíamos aulas de pintura em tela no Insa, com a irmã Josefina. Era muito divertido, ríamos muito do resultado da nossa arte”,
relembra.

(Foto: Arquivo pessoal/Maria Roseli Botezelli)
Roseli também destaca outro traço marcante da amiga: o dinamismo.
“Ela gostava de ouvir histórias das pessoas. Daí já vem o interesse pelo jornalismo. Sempre gostou de design — lembro que ela tinha um lego na época do lançamento. Até hoje é uma paixão dela: móveis e objetos de design. A Ilze, para mim, sempre foi uma pessoa com quem gosto de trocar figurinhas. Atrás da jornalista, existe uma pessoa muito bondosa”,
afirma.

Ilze Scamparini: além do tempo
A também jornalista Jussara Lopes conta que conhece Ilze desde que eram crianças. Ela lembra que Scamparini, mesmo mais nova, já demonstrava ousadia e maturidade – como se realmente estivesse a frente do seu próprio tempo.
“Eu tinha 13 anos e fazia parte de uma turma animada. A Ilze tinha uns 10, 11 anos, mas já era precoce e queria fazer parte do grupo de qualquer jeito. A mãe dela não gostava muito, por ela ser tão nova, mas ela dava um jeito de estar com a gente”,
recorda.
Foi ainda nessa época que surgiu a inspiração para a escolha profissional.
“A gente tinha uma amiga mais velha, a Regina Festa, que era jornalista na Editora Abril e vizinha dela. Íamos na casa da Regina conversar sobre a profissão. Nós duas já queríamos ser jornalistas – e fomos”,
conta Jussara.
Mais tarde, já jovens adultas, seguiram caminhos próximos no início da carreira.
“Em 1975, fui pra São Paulo e ela pra Campinas, trabalhar no jornal Correio do Povo. Ela usava meu apartamento para marcar entrevistas sempre com pessoas legais, como o Henfil, o Jorge Mautner, o Jacobina e o Glauber Rocha. Essa última não deu muito certo porque o cineasta teve uns surtos de perseguição e não conseguimos conversar direito”,
relembra, rindo.
Segundo Jussara, o sucesso profissional de Ilze já era algo previsível, mesmo nos primeiros passos de sua carreira.
“A Ilze sempre foi muito bonita, chamava atenção por onde passava, e era muito esforçada. Dava para perceber que ela se destacaria de alguma forma”,
afirma.
Os primeiros passos de Ilze no jornalismo
Formada em Jornalismo pela PUC-Campinas em 1982, Ilze iniciou sua carreira na imprensa escrita, colaborando também com o programa TV Mulher, apresentado por Marília Gabriela. Também foi repórter da então TV Campinas — hoje EPTV — inaugurada em 1979 pelo empresário José Bonifácio Coutinho Nogueira.
Da produção à reportagem
O sonoplasta José Gonçalves, o Barba, recorda que Scamparini começou na TV como auxiliar de produção.
“Se não me engano, ela conseguiu vaga como secretária do produtor Edy Newton. Era o braço direito dele: cuidava de agendas, contatos, pesquisas, pautas.”
A transição para o jornalismo aconteceu em 1980, quando Ilze passou a colaborar com o TV Mulher da Globo SP.
“A primeira aparição dela na TV foi por insistência nossa, minha e do cinegrafista Ivan Carlos. A produção pediu uma matéria com sonora, e convencemos ela a gravar uma entrevista às margens do rio Atibaia, com o diretor da Sanasa. Ela relutou, mas gravou — e acho que gostou”.
Barba diz não ter se surpreendido com o futuro da colega.“Ela já dizia que queria viver na Itália. Fiquei com um livro dela — Como Aprender Italiano com 1000 Frases — e tinha certeza de sua ascensão.”
Repórter na TV Campinas
Foi ali que Ilze começou a trilhar uma carreira sólida. A jornalista Edith Gonçalves, primeira chefe de reportagem da GloboNews e ex-editora do Fantástico, trabalhou com ela no início dos anos 1980, na TV Campinas, e seguiu ao seu lado até a transferência de Scamparini para o Rio de Janeiro. Edith destaca o cuidado que Ilze sempre teve com reportagens mais elaboradas.
“Ela é uma grande contadora de histórias, além de ter um texto impecável. Uma pessoa que sempre leu muito. Era difícil não vê-la com um livro debaixo do braço. E nós duas éramos ‘ratas’ de sebos, adorávamos procurar discos, ouvir música boa, assistir shows. Isso sempre fez parte da nossa vida.”
A vontade de viver na Itália também já era evidente. “Ela falava muito sobre isso. Queria ser correspondente internacional, morar na Itália, onde estavam as raízes da família.”

(Foto: Arquivo pessoal/Edith Gonçalves)
Para Gonçalves, a principal característica da corresponde internacional é a junção de talento e generosidade.
“A Ilze sempre foi uma jornalista extremamente cuidadosa, dedicada a pautas profundas e a textos muito bem trabalhados. Era exigente na redação, mas sempre alguém em quem se podia confiar. Além do talento profissional, tem um coração generoso — e vivi situações em que essa solidariedade dela se revelou de forma muito marcante. É uma presença forte, uma grande jornalista, que merece plenamente o lugar que conquistou. É um orgulho para gente ela ter se tornado essa correspondente tão valorosa”,
ressalta.
Profissional diferenciada
O cinegrafista José Carlos Mosca, que também trabalhou com Ilze na TV Campinas, recorda a postura discreta e dedicada da colega.
“Ela era muito quieta, atenta, anotava tudo. Sempre com papel e caneta. As perguntas eram precisas, fechava a matéria com rapidez. Sabia conduzir pautas jornalísticas e esportivas. Já dava para perceber que ela se destacaria”,
afirma.

Mosca, que também teve uma carreira de destaque no jornalismo e na Globo — com coberturas em nove Copas do Mundo e sete Olimpíadas — reencontrou a jornalista anos depois, em uma dessas jornadas internacionais.
“Nos encontramos na Copa do Mundo da França. Ela me recebeu com tanto carinho que a gente até se emocionou. A Ilze é assim: quieta, meiga, carismática e inteligente demais.”
Correspondente em Roma
Em 1984, Ilze passou a integrar a equipe de jornalismo da TV Globo no Rio de Janeiro, onde produziu reportagens para os principais telejornais da emissora, como o Jornal Nacional, Jornal Hoje e Jornal da Globo. Sua trajetória internacional começou em 1997, quando foi enviada como correspondente para Los Angeles. Dois anos depois, assumiu o posto em Roma, onde permanece até hoje.
A ideia inicial era viver na Itália por um curto período. Mas a conexão com o país — terra de suas origens familiares — se fortaleceu, e a jornalista acabou fincando raízes na capital italiana. Desde que chegou a Roma, esteve presente em momentos históricos da Igreja Católica, como os pontificados de João Paulo II, Bento XVI e Francisco.

E o terraço de Ilze? Onde fica?
O cenário que se tornou marca registrada de suas aparições na TV — com a majestosa cúpula da Basílica de São Pedro ao fundo — não é fruto de um estúdio cenográfico nem de recursos especiais de transmissão. Trata-se da sacada de seu próprio apartamento, no sexto andar de um edifício histórico localizado entre a Piazza di Pasquino e a Piazza Navona, no coração da Roma antiga.

É dali, com vista privilegiada para os domínios do Vaticano, que Ilze entra ao vivo para o Brasil, fazendo da varanda um símbolo silencioso de sua presença firme e constante nas grandes coberturas internacionais da Igreja. A jornalista que saiu do interior de São Paulo, construiu ali — entre cúpulas, sinos e telhados — o ponto mais alto de sua trajetória profissional.
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