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EconomiaApós fechamento de grandes lojas, especialista analisa os caminhos para o futuro do comércio no Centro

Após fechamento de grandes lojas, especialista analisa os caminhos para o futuro do comércio no Centro

Professor de Ciências Econômicas da PUC-Campinas, Roberto Brito de Carvalho, analisa a situação atual do Centro de Campinas e possíveis mudanças a serem feitas

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O comércio no Centro de Campinas enfrentou um ano desafiador em 2024, com o fechamento de importantes e tradicionais lojas localizadas na Rua 13 de Maio, o maior corredor de compras popular da cidade. A região passou pelo esvaziamento de alguns de seus principais pontos de venda, como as lojas Skina Magazine, Americanas e Pernambucanas.   

Os fechamentos repentinos provocaram um misto de tristeza e insegurança entre os moradores que frequentam a região, conhecida por sua importância histórica e econômica. Ao longo do ano, depoimentos sobre o impacto dessas mudanças ganharam destaque em matérias do acidade on, mostrando como a região tem sido afetada. 

Além de perderem opções de consumo, o futuro da região central da cidade também é motivo de preocupação entre os habitantes da cidade. Pontos de comércio vazios, e a consequente diminuição do fluxo na região, intensificam a sensação de maior vulnerabilidade e insegurança.   

O acidade on conversou com o professor de ciências econômicas da PUC-Campinas, Roberto Brito de Carvalho, que analisou a situação atual do Centro e possíveis caminhos para o futuro do comércio na região.  

Futuro do comércio no Centro de Campinas   

Quais os principais fatores que podem ter levado ao fechamento de grandes redes de comércio no Centro de Campinas em 2024?   

Carvalho acredita que um deles é a mudança de comportamento dos consumidores. O grande responsável por isso seria o e-commerce, ou comércio eletrônico, que vem se intensificando sobretudo na última década, e teve sua consolidação marcada durante a pandemia da covid-19.   

“A intensificação do e-commerce tem se avolumado à medida que a gente vai ganhando cada vez mais confiança nessas relações comerciais feitas através das tecnologias de informação, das redes sociais e uma logística também bastante eficiente. Isso resulta normalmente em preços mais baixos do que as lojas físicas conseguem fazer. E com uma possibilidade de opções muito maior”, afirma o professor.   

A venda online se consolida, principalmente, por estar cada vez mais associada a uma maior eficiência, o que fez as pessoas aprenderem a lidar com isso com mais facilidade. Se antes você comprava um item e aguardava dois, três meses para poder chegar em casa, agora, em algumas situações, é possível que você receba o pedido no mesmo dia.  

Essa maior adesão ao e-commerce afeta o comércio local e, em especial, as compras feitas diretamente em lojas físicas. O economista ainda destaca que grandes redes, como é o caso da Americanas, apostaram em outras situações para poderem se manter dentro desse ambiente. “O fechamento de lojas como a Americanas, por exemplo, no Centro da cidade, não pode permitir que a gente esqueça que eles estão com grande marketplace dentro da internet”.   

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Quais são os impactos do esvaziamento comercial do Centro?  

Se o e-commerce já impacta diretamente no enfraquecimento das lojas físicas, o fechamento de alguns pontos causa uma espécie de efeito “em cascata” na região central.   

Carvalho explica que a diminuição no “avolumado de empresas” gera um fluxo menor de pessoas. Essa situação, somada a outros problemas do Centro, como o aumento da população em situação de rua, gera mais insegurança e desconforto ao consumidor.   

“Isso faz com que as pessoas optem por formas mais práticas de fazer compras mais seguras, mais cômodas. De certa maneira, rejeitando as possibilidades que tínhamos no passado”, afirma.   

O fechamento de comércios influencia a economia local, como a geração de empregos e a arrecadação de impostos?  

Apesar dos fechamentos no Centro acarretarem na perda de lojas físicas, o economista lembra que outras lojas ou centros de distribuição estão sendo montados, inclusive na região de Campinas. A intensificação do e-commerce também gera uma reorganização da economia na cidade, já que as pessoas estão comprando de qualquer lugar do mundo ou, em especial, de qualquer lugar do país. 

Como exemplo, recentemente, a empresa de logística do Conglomerado Alibaba, gigante global em comércio eletrônico, escolheu o aeroporto de Viracopos para sediar seu centro de distribuição no Brasil.  

“É claro que o fechamento de lojas cria um efeito mais amplo do que próprio fechamento da loja. Então, os restaurantes que estão naquela região também vão tendo menos fluxo, os outros comércios que viviam do fluxo do comércio principal acabam também de alguma forma enfraquecendo e aí você vai tendo um efeito em cadeia. Então, se as pessoas não estão circulando no Centro da cidade para fazer compras de Natal é evidente que os bares, restaurantes que viviam desse fluxo comercial não vão atuar com a mesma intensidade. É evidente que os estacionamentos que recebiam, por exemplo, os carros das pessoas que estavam postos lá também não vão ter para quem trabalhar. Isso vai causando um efeito cascata e vai dando a sensação de abandono”.   

Existem exemplos de outras cidades que conseguiram reverter cenários semelhantes?  

A urgência de revitalizar cenários urbanos não é incomum ao redor do mundo. O economista da PUC cita como exemplo a situação da região de Puerto Madero na cidade de Buenos Aires, capital da Argentina. A área era abandonada na cidade, mas acabou ganhando um significado diferente com a instalação de uma região voltada a exploração da atividade turística dando ênfase sobretudo na gastronomia.  

A cidade de Barcelona, na Espanha, também teve uma experiência parecida com o processo de revitalização de áreas da cidade quando houve os investimentos para os Jogos Olímpicos de Verão de 1992. Sidney, na Austrália, e a cidade do Rio de Janeiro (RJ) são outros exemplos de localidades que aproveitaram esse tipo de situação para dar uma finalidade diferente da que determinados espaços tinham até então.   

“Não se trata de uma tarefa fácil, mas é algo possível. Muitas experiências no mundo são positivas, mas, muitas delas, diga-se de passagem, apenas endividaram a cidade sem resultado efetivo na ponta”, pontua.   

Quais estratégias têm sido mais eficazes para atrair consumidores de volta aos centros urbanos?  

A ideia de atrair mais consumidores para a região central está associada a uma estratégia de maior ocupação de moradores na região central, de acordo com o professor universitário.   

“Seria importante cada vez mais tentar reduzir as alíquotas do IPTU, mas a alternativa talvez mais lógica e mais importante fosse adensar o Centro com moradias. Então, o Centro ficou muito caro para que as pessoas pudessem morar naquela região e há muitos atualmente há muitos prédios desocupados, e é uma região onde a gente tem infraestrutura. Seria muito importante que isso pudesse ser revisto”.  

A ocupação de imóveis abandonados já tem sido feita a partir da Lei do Retrofit, mas Carvalho cita a importância de se pensar em moradias populares, para fomentar ainda mais o número de pessoas naquela região. Dessa forma, também é possível “resgatar de alguma maneira algum tipo de atividade comercial ou produtiva, fazendo desse espaço morto um espaço cheio de vida e com potencial econômico”.    

O que pode ser feito para melhorar a realidade do comércio no Centro de Campinas em 2025?  

Segundo Carvalho, para haver uma mudança mais significativa nesse movimento de esvaziamento do comércio é necessário que haja um projeto de revitalização do Centro de Campinas, “com maior contundência”.  “Com um programa, um projeto de fato de maior vulto que pudesse fazer um processo de ressignificação daquela área. Caso contrário,o que a gente tende a ter é um de intensificação do movimento que nós estamos vendo”.   

“Para isso, seria muito importante que a Prefeitura pudesse rever a forma com a qual tributa aquela região, para que aqueles que são proprietários daqueles imóveis possam talvez alugá-los em condições mais favor para os investidores. Caso contrário, mesmo assim seria difícil sem um plano de densificação”.  

O professor cita como exemplo a utilização do Palácio da Justiça para outra finalidade. O prédio já foi oficialmente desocupado, com os setores transferidos para a Cidade Judiciária. A Prefeitura de Campinas deseja que o imóvel se torne a nova casa da Câmara Municipal de Campinas.   

A instalação de outros serviços voltados ao público na região central, como clínicas de saúde, por exemplo, também pode intensificar o fluxo de pessoas e dar “um fôlego” para alguns tipos de comércio, segundo o professor.   

Quais as perspectivas para o futuro da região central?  

Ao pensar em possíveis mudanças a serem feitas no Centro de Campinas, Carvalho destaca ainda a importância de se olhar não só para o consumidor, mas também para o cidadão, com o pensamento de reativar o fluxo na região central. Isso significa pensar em outras finalidades em que o objetivo não seja necessariamente o comércio.   

“Acho necessário, sobretudo, que tenham equipamentos de cultura, equipamentos de lazer, onde, de alguma maneira, o Centro pudesse ter um significado diferente do que tem, porque este significado de um conjunto de lojas para vender coisas, já parece um tanto quanto ultrapassado tendo em vista os resultados que nós estamos vendo”, finaliza. Mesmo assim, ele ressalta que existem limites que demandam esforços conjuntos.   

Ações desenvolvidas pela Prefeitura para o Centro  

Diante do cenário no Centro de Campinas, a Prefeitura afirma que mantém aberto o diálogo com os comerciantes para aprimorar as estratégias e garantir que a região continue sendo um importante polo comercial e cultural da cidade.   

“Por meio da secretaria de Desenvolvimento Econômico, Tecnologia e Inovação, são realizadas ainda parcerias com entidades de classe para identificar demandas específicas e implementar ações conjuntas. Além disso, a Pasta promove incentivos fiscais e apoio técnico para facilitar a abertura e manutenção de empresas na região central”, disse em nota.   

Além disso, a Administração informou que realiza projetos de melhoria na infraestrutura, segurança e limpeza, com o objetivo de tornar a região central mais atrativa para consumidores e empreendedores.   

Entre as iniciativas de revitalização feitas no Centro, a nota cita como exemplo:  

  • Mercado Municipal, cuja obra deve ser finalizada nos 100 primeiros dias de 2025 e trará para a cidade um ambiente de compras, lazer e com potencial para atrair turismo gastronômico. A área de atendimento foi ampliada e os boxes serão padronizados. Também serão construídos elevadores e banheiros na parte interna, além de um mezanino sobre os boxes.  
  • Terminal Mercado, que passou por uma reforma completa recentemente.  Houve a ampliação e cobertura das plataformas, implantação de novo posto de atendimento da Transurc, melhoria dos sanitários, nova iluminação, comunicação visual moderna, bancos de madeira, bebedouros e paisagismo. O espaço, entregue em junho de 2024, ainda conta com área destinada aos motoristas.  
  • Avenida Campos Sales, um dos principais corredores da região central de Campinas, recebeu uma completa revitalização, também entregue em junho de 2024.   
  • Rua José Paulino, que também faz parte do plano de revitalização da área central de Campinas. As melhorias em andamento incluem recapeamento, substituição das calçadas, acessibilidade, paisagismo, melhoria na iluminação, sinalização e drenagem.  

A Prefeitura ainda destaca que a secretaria de Urbanismo, por meio do PRAC (Plano de Requalificação da Área Central de Campinas) – Nosso Centro, incentiva projetos de requalificação na área central da cidade, com objetivo de valorizar o patrimônio já construído e requalificar áreas públicas no entorno. Isso se dá por meio de incentivos fiscais que variam conforme a categoria e inclui isenção do IPTU (Imposto sobre a Propriedade Predial e Territorial Urbana) por até 11 anos, redução do ISSQN (Imposto sobre Serviços de Qualquer Natureza) e isenção do ITBI (Imposto sobre Transmissão de Bens Imóveis) no chamado polígono prioritário. Tudo isso busca melhorar a economia e a dinâmica cultural no centro.  

Por fim, a nota afirma que a Guarda Municipal mantém patrulhamento em todo o Centro e Centro expandido com o Programa Centro Mais Seguro. Esta iniciativa é uma ação permanente da GM, que prevê a intensificação de rondas em toda a região Central, com guardas municipais no patrulhamento a pé, viaturas motorizadas, além do monitoramento por câmeras na CICC (Central Integrada de Monitoramento de Campinas).   

Além disso, a Guarda Municipal também realiza operações voltadas ao combate à criminalidade, como o tráfico de drogas e receptação.  A Guarda Municipal pode ser acionada 24 horas por meio do número 153. 

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Vitória Silva
Vitória Silva
Repórter no ACidade ON Campinas. Formada em Jornalismo pela Unesp, tem passagem pelos portais Tudo EP e DCI, experiência em gravação e edição de vídeos, produção sonora e redação de textos, com maior afinidade com temas que envolvem cultura e comportamento.
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