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CampinasEconomiaMaioria das empreendedoras abriu negócio para poder ter mais tempo com os filhos

Maioria das empreendedoras abriu negócio para poder ter mais tempo com os filhos

A chegada dos filhos motivou a decisão de empreender para 54% donas de pequenos negócios, de acordo com Sebrae-SP

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A campineira Priscilla de Castro era servidora pública na área de arquitetura quando engravidou da filha, Júlia. Durante a licença-maternidade, no início da pandemia, ela repensou sua rotina. Não queria abrir mão do tempo com a filha — nem do prazer de amamentar. “Quando retornei da minha licença, solicitei que fosse desligada para ficar com minha pequena. No final, trabalhei apenas uma semana”, conta. Naquele mesmo período, nasceu a “A Super Organizada”, sua empresa de organização de lares e rotinas — e o início de sua trajetória entre as mães empreendedoras.

A poucos quilômetros dali, também em Campinas, Jessica Vasconcelos encarava uma mudança ainda mais repentina. Com apenas três dias de vida da filha caçula, Helena, ela perdeu a mãe — e com isso, toda a rede de apoio que imaginava ter. Na época, trabalhava como promotora de merchandising. Precisou sair do emprego e começou, quase por impulso, a fazer pães de mel para vender. Assim nasceu a “Jess Vilela Doces Artesanais”, hoje sua principal fonte de renda. 

As histórias de Priscilla e Jessica se encontram em um ponto comum: a necessidade de reorganizar a vida para conciliar cuidados, presença e sustento. E muitas vezes, a resposta vem por meio do empreendedorismo. É o que aponta a pesquisa “O empreendedor e a maternidade”, realizada em 2024 pelo Sebrae-SP com 400 com empreendedoras que começaram a empreender antes de ter o primeiro filho e com outras 400 que passaram a empreender depois de se tornarem mães.

Mães empreendedoras: quando a maternidade inspira um novo começo

O levantamento mostra que 54% das mulheres empreendedoras no estado de São Paulo abriram o próprio negócio para estar mais próximas dos filhos. Para 46%, a maternidade foi o fator decisivo na escolha por empreender. Outras 34% disseram que ter filho exigiu flexibilidade para equilibrar trabalho e família, enquanto 33% afirmaram que tiveram que reorganizar as prioridades.

Tanto Priscilla quanto Jessica fazem parte desse cenário. Com experiências diferentes, mas motivações semelhantes, as duas viram no empreendedorismo uma maneira de equilibrar o tempo com os filhos e o trabalho.

A busca por flexibilidade e autonomia

Para muitas mães, o empreendedorismo oferece o que o emprego formal não consegue: flexibilidade de horário e autonomia sobre a própria rotina. Entre as mulheres que participaram da pesquisa, 52% disseram que buscavam essa flexibilidade, enquanto 40% apontaram o desejo por independência financeira como motivação para empreender.

Jessica benefícios claros nesse novo formato de trabalho.

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“O lado bom é que eles estão sempre por perto, vendo meu trabalho. Consigo buscá-los na escola, ajudar na lição, e, se precisarem faltar, estou presente para suprir todas as necessidades”,

diz.

A proximidade também é uma conquista celebrada por Priscilla.

“Antes, o tempo da minha filha era mais extenso na escolinha, e com o tempo fui diminuindo. Hoje é uma benção ter minha menina como minha amiga de trabalho”,

afirma.
Priscilla ajustou sua rotina de trabalho para ficar ao lado da filha Júlia, conciliando maternidade e profissão (Foto: Divulgação)

Além da convivência com os filhos, o empreendedorismo também trouxe crescimento pessoal. Priscilla uniu a experiência como arquiteta no serviço público à formação como personal organizer e desenvolveu diferentes frentes de atuação. “Hoje não só organizei minha rotina como ajudo pessoas a terem suas rotinas organizadas”, conta. 

Já Jessica, que começou com pães de mel feitos para enfrentar um momento de luto e transição, transformou sua habilidade com a confeitaria em uma empresa com identidade própria. “Hoje, digo que minha empresa não só adoça a vida das pessoas, mas também me ajuda a me ressignificar todos os dias”, afirma.

A sobrecarga das jornadas múltiplas

Mesmo com ganhos afetivos e maior controle sobre o tempo, as mães apontam que a rotina empreendedora é marcada por intensidade e sobrecarga. Segundo o Sebrae-SP, 47% das mulheres consideram conciliar o trabalho com os cuidados com os filhos o maior desafio. Outros pontos sensíveis apontados foram desenvolver criatividade e inovação (37%) e lidar com a falta de compreensão das pessoas ao redor (34%).

Jessica, por exemplo, reconhece a exaustão.

“É uma loucura. Às vezes me sinto, sim, sobrecarregada. Faço terapia para conseguir lidar com tudo: casa, filhos, trabalho, casamento. É uma tarefa bem árdua”,

diz.

Ter um parceiro compreensivo, segundo ela, faz diferença. “Graças a Deus, tenho esse apoio total do meu marido e da minha família.”

“Era assim que eu trabalhava, colocava ela no canguru e ia fazendo minha produção de pães de mel”, lembra Jéssica (Foto: Divulgação)

A rotina de Priscilla também é puxada.

“Depois de deixar minha filha na escola, começa uma batalha contra o relógio. Nessas 3 a 4 horas tudo deve acontecer: reuniões, ligações, compras de matérias-primas, produção, vídeos, visitas técnicas…”,

conta.

Em períodos mais intensos, ela conta com apoio do marido, da irmã e da sogra, além de uma rotina rigorosamente organizada para garantir que todas as demandas sejam cumpridas.

Empreender por escolha – ou necessidade

Para muitas mulheres, empreender é a única alternativa viável. Uma pesquisa da Fundação Getulio Vargas aponta que 50% das mulheres com filhos são demitidas em até dois anos após o retorno da licença-maternidade no Brasil. E esse número segue elevado por até quase quatro anos após o afastamento.

A socióloga Viviane Vidigal, especialista em Sociologia do Trabalho pela Unicamp (Universidade Estadual de Campinas), analisa esse contexto. Segundo ela, o empreendedorismo é, muitas vezes, a única forma encontrada pelas mulheres para permanecerem economicamente ativas.

“As mulheres podem começar a empreender movidas pela vontade e a necessidade de ter horas mais flexíveis e controle sobre a sua própria rotina, a fim de que possam conciliar o trabalho produtivo com o trabalho reprodutivo e de cuidados. O empreendedorismo tem a marca da flexibilidade e, dessa forma, elas podem organizar as demandas de casa e do trabalho, se mantendo ativas no mercado”,

afirma.

Ela destaca, ainda, um desequilíbrio na própria razão de empreender. Para as mulheres, o principal objetivo ao entrar no mundo do empreendedorismo é a flexibilidade e ter tempo para a família. Já para os homens, os motivos elencados são o de ter uma renda extra e desse trabalho ser uma “vocação natural’‘.

A pesquisadora destaca ainda que a exaustão enfrentada por muitas mães empreendedoras não é apenas consequência de escolhas individuais, mas está diretamente ligada a um modelo social e econômico que se sustenta sobre essa sobrecarga. Segundo ela, a romantização da mulher que dá conta de tudo — trabalho, filhos, casa — não é casual. “Quanto desse cansaço é interessante para um sistema que se estrutura e usufrui dele? A manutenção das mulheres sobrecarregadas diz respeito à manutenção da estrutura social”, afirma.

“Na sociedade capitalista, patriarcal e neoliberal, a romantização da mulher guerreira não se dá à toa: é estratégia para que continue produzindo e acumulando jornadas.”

Viviane observa que, apesar de existirem políticas voltadas para a equidade de gênero no mundo do trabalho, elas ainda são insuficientes.

“Embora existam mecanismos eficientes para minimizar a desigualdade entre gêneros no mercado de trabalho, como a licença maternidade, essas medidas ainda são escassas e insuficientes.”

Ela defende que o empreendedorismo materno não deve ser visto como a única solução possível.

“Mais do que taxar o empreendedorismo como única saída para maternar nos dias de hoje, é preciso reconhecer as diferenças e necessidades das mulheres trabalhadoras que são mães. E dar a elas também a estrutura necessária para que continuem exercendo o seu potencial profissional”.

Apoio e capacitação fazem diferença

Com o objetivo de apoiar mulheres nessa trajetória, o Sebrae-SP criou o programa Sebrae Delas, que oferece, de maneira gratuita, cursos, trilhas de capacitação, consultorias e eventos com espaço kids e de amamentaçãoclique aqui para saber como participar

Segundo a analista de negócios Joice Oliveira, que coordena o programa, a ideia é apoiar mulheres em diferentes estágios: desde quem tem apenas uma ideia até quem já tem um negócio consolidado.

“O Sebrae Delas é voltado para todos os perfis, todos os tipos de mulheres empreendedoras: seja a potencial empreendedora, a que está iniciando, a que tem aquele sonho de empreender ou aquela que já tem um negócio às vezes até estabelecido, mas que precisa melhorar e crescer”,

afirma. 

De acordo com ela, o programa orienta e compartilha com as empreendedoras a importância de fazer uma boa gestão de tempo e como utilizar as soft skills a seu favor. 

“Promovemos também a troca de experiências entre outras mulheres empreendedoras que, ao compartilhar suas histórias de superação, inspiram e contribuem para o crescimento uma das outras”,

completa Joice.

A empreendedora Ana Lucia Sylvestre é uma dessas mulheres. Mãe de Nathan, de 18 anos, e Giovanna, de 15, ela deixou o regime CLT quando os filhos ainda eram pequenos para se dedicar integralmente à maternidade. Durante esse período, manteve pequenos trabalhos com artesanato e produção de kits escolares. Com o passar dos anos e a independência dos filhos, decidiu formalizar o sonho de ter o próprio negócio. Assim nasceu a “Lumina Sense”, loja de acessórios voltada ao fortalecimento da autoestima feminina.

Ana conheceu o Sebrae Delas por meio de eventos voltados a mulheres empreendedoras e, desde então, vem buscando capacitações que a ajudem a estruturar e profissionalizar sua empresa. Participou da Feira do Empreendedor e concluiu o curso Empretec, voltado ao desenvolvimento de competências empreendedoras.

“Aprendi sobre finanças, marketing, planejamento e também sobre o lado emocional de empreender. O programa me deu estrutura e clareza para transformar minha ideia em negócio.”

Ela vê no empreendedorismo uma forma de unir propósito e independência.

“A minha missão é levar um sorriso de autoestima. Quando uma mulher coloca um acessório e se olha no espelho, eu quero ver aquele sorriso de empoderamento, de reconhecimento. É isso que me fortalece todos os dias.”

Ana Lúcia e Joice durante evento no Sebrae Delas, voltado ao fortalecimento do empreendedorismo feminino (Foto: Arquivo Pessoal)

Caminhos possíveis para mães que querem se tornar empreendedoras

Para as mães que pensam em empreender, a analista Joice destaca que o primeiro passo é se planejar.

“É importante desenvolver uma rotina que contemple tanto a gestão do negócio quanto as demais tarefas do dia a dia. Fazer um planejamento prévio pode ser um grande aliado dentro dessa jornada”.

Ela também compartilha algumas orientações práticas que podem ajudar nessa transição:

  • Tenha estratégias e defina metas: saiba onde quer chegar com seu negócio e quais caminhos irá percorrer para alcançar seus objetivos.
  • Use suas habilidades de mãe a seu favor: competências como organização, paciência e resiliência são valiosas para enfrentar os desafios do empreendedorismo.
  • Procure apoio de outras mães empreendedoras: trocar experiências pode fortalecer sua rede e trazer novas perspectivas.
  • Seja flexível com seu horário e cuide de si mesma: encontrar tempo para você também é essencial.
  • Use a tecnologia para facilitar sua rotina: ferramentas digitais podem otimizar tarefas e ajudar na organização do negócio.

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Laura Nardi
Laura Nardi
Repórter Web no ACidade ON Campinas. Graduada em Jornalismo pela PUC-Campinas, tem passagem pelos portais Tudo EP e Jornal de Valinhos. Adentrou no Grupo EP em 2023 e atua nos conteúdos digitais, enfaticamente com a parte textual.
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