Entre 5 de dezembro de 2012 e 23 de maio de 2021 foram 3.456 dias de espera. O São Paulo tentou todas as fórmulas neste período. Contratou medalhões ou apostou nos garotos de Cotia. Montou times ofensivos, outros mais táticos (ou defensivos, para ser mais exato). Teve técnicos iniciantes, nomes manjados, ídolos e estrangeiros. Nada deu certo. Neste domingo (23), enfim, a espera por um título acabou.
Nove anos depois de conquistar a Copa Sul-Americana, o São Paulo voltou a ser campeão. Com a vitória por 2 a 0 sobre o Palmeiras, no Morumbi, a equipe conquistou o Paulista de 2021.
Uma conquista que tem as digitais de Hernán Crespo, o treinador argentino que levantou sua segunda taça neste ano. Em janeiro, no comando do Defensa y Justicia, ele havia vencido a mesma Copa Sul-Americana que um dia foi do São Paulo. Foi o resultado que o credenciou a chegar ao Morumbi e que disparou o cronômetro para o clube brasileiro voltar ao topo do estado.
Nas duas partidas da decisão contra o atual campeão da Libertadores, em nenhum momento o São Paulo permitiu ao Palmeiras atuar do jeito que mais gosta: em velocidade e no contra-ataque. Com paciência, soube esperar seu momento e percebeu que a equipe alviverde não teria volume de jogo para furar sua barreira defensiva.
A inteligência tática de Crespo fez com que o adversário perdesse pela primeira vez como visitante nesta temporada. Um time que vinha de oito vitórias consecutivas fora de casa.
É a primeira conquista estadual desde 2005 e esta encerrou a maior seca de títulos do clube na história da competição. Tudo isso aconteceu em uma campanha quase perfeita. São 12 jogos de invencibilidade. A única derrota aconteceu na 4ª rodada da fase de grupos, diante do Novorizontino, em 13 de março. Foi o 22º troféu do São Paulo no torneio.
O JOGO
Durante boa parte do primeiro tempo, o que mais chamou a atenção não foi o que aconteceu em campo. O maior trabalho do árbitro Raphael Claus (possível nome brasileiro na próxima Copa do Mundo) foi com os dois bancos de reservas.
Abel Ferreira ficou apoplético com o que achou ser uma cotovelada de Liziero em Rony. Levou bronca. Depois Claus parou a partida para conversar com Juan Branda, auxiliar de Crespo. Lucas Lima, reserva do Palmeiras, também recebeu advertência verbal.
Em campo, os primeiros 45 minutos foram iguais aos 90 do primeiro confronto, no Allianz Parque. Excesso de cautela das duas equipes e nenhuma chance de gol. O Palmeiras adiantou a marcação para criar dificuldade na saída de bola do São Paulo. Conseguiu duas vezes recuperá-la, mas não soube aproveitar.
A não ser por esses dois erros, o time do Morumbi não foi ameaçado. Mas também não ameaçou. Conseguiu ir para o intervalo em vantagem, em parte, por um golpe de sorte. A mesma que lhe faltou tantas vezes em momentos decisivos desde a Copa Sul-Americana de 2012.
Luan, o integrante do elenco que mais atuou na temporada, 17 vezes (ao lado de Tiago Volpi e Léo), matou duas vezes a bola no peito aos 36 minutos. Talvez por não ver perigo, ninguém do Palmeiras se aproximou e o volante decidiu chutar. Foi um arremate fraco e parecia sem direção. Só que o desvio em Felipe Melo enganou o goleiro Weverton e o São Paulo saiu na frente na final.
No intervalo, Abel Ferreira colocou em campo Patrick de Paula e Danilo para ter melhor toque de bola e tentar ser mais incisivo no meio-campo. Em nenhum momento o São Paulo se sentiu incomodado. Quem ficava a cada segundo mais inquieto à beira do campo era o técnico português. Ele percebia que nada do que fazia dava resultado em campo. Crespo, ao contrário, passou boa parte da segunda decisão com a mão no queixo ou no bolso, a observar, de pé, seus comandados bloquearem todas as jogadas do rival.
Luciano entrou no lugar de Pablo em campo e estava tão ligado, tão elétrico em campo, que vibrou como se fosse um gol ao impedir um simples chute de Gustavo Gómez no campo de defesa. Foi dele, talvez o jogador mais identificado com Fernando Diniz, antecessor de Crespo, o lance que pôr fim a qualquer dúvida de que o jejum havia acabado.
Crespo percebeu exatamente a hora em que era preciso colocar velocidade e que o Palmeiras, um elenco que ama o contra-ataque, dava espaços para recebê-los. Rodrigo Nestor, outra substituição durante o segundo tempo, aproveitou a liberdade para a esquerda e completou para Luciano completar para a rede aos 32.
Boa parte dos jogadores correu para abraçar o técncio argentino, o arquiteto da libertação da torcida são-paulina, à beira do campo. Abel Ferreira ficou os 17 minutos finais agachado, sem dizer mais nada. Sem nem reclamar da arbitragem.
Para o São Paulo, foram mais 1.020 segundos de espera. Quase nada, para quem aguardou 3.456 dias por uma tarde de domingo como essa.