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CampinasLazer e culturaVocê sabe o que é furry? Documentário de Campinas retrata comunidade de fãs de animais antropomórficos

Você sabe o que é furry? Documentário de Campinas retrata comunidade de fãs de animais antropomórficos

Produção audiovisual que percorreu as cinco regiões do Brasil tem primeira exibição nesta sexta-feira (25)

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Animais que falam, têm pensamentos, emoções e se vestem com roupas de seres humanos. O que pode parecer a sinopse de um filme, como a animação “Zootopia“, da Disney, na verdade é a descrição da subcultura furry, que mobiliza uma comunidade de brasileiros espalhados em diferentes estados. Essas pessoas são fãs de produções artísticas com animais antropomórficos, ou seja, com características e formas semelhantes aos seres humanos.   

Um documentário de Campinas, que estreia neste final de semana, registrou as vivências e paixão dessa comunidade em uma produção que atravessou diferentes regiões do Brasil. O média-metragem “Uma Chamada Furry”, de 50 minutos de duração, é dirigido por Paola Champi e documenta como o grupo celebra sua paixão por personagens furries por meio dos relatos de seus participantes sobre inclusão, diversidade, pertencimento e união.    

O projeto é uma continuação do Trabalho de Conclusão de Curso da diretora, formada em Midialogia pela Unicamp (Universidade Estadual de Campinas,) mestra pelo Programa de Pós-Graduação de Divulgação Científica e Cultural na mesma universidade e participante da comunidade furry.   

A produção é do jornalista furry e pesquisador Paulo Pessôa Neto e o roteiro é assinado por Rafael Alziro.  

Registro da convenção Furry de hotel PATAS, realizada em Sorocaba. (Foto: Paola Champi)

O que é furry?  

A subcultura furry surgiu no final dos anos 70 como um subgênero da cultura pop geek, se consolidou ao final dos anos 80 e chegou ao Brasil no início dos anos 2000, já por meio do advento da internet. Ela começou inicialmente com fãs de personagens com trejeitos humanos, como os clássicos Mickey e Pernalonga, mas, com o passar do tempo, passou a ser incorporada no cotidiano das pessoas que consomem esse tipo de conteúdo.   

Em entrevista ao acidade on, Paulo Pêssoa explica que há uma variedade de maneiras em que a pessoa homenageia a própria cultura. Algumas delas apenas consomem conteúdos do universo furry, enquanto outras criam uma persona (chamada de fursona) de um animal antropomórfico.   

“Tem algumas pessoas que elas possuem uma vestimenta desse personagem que elas se apresentam ou de um personagem que elas são fãs, e elas podem fazer algumas atividades vestidas das personagens. Então, a gente tem pessoas coisas que, por exemplo, participam de ações beneficentes, vão em hospitais assim ou então em casos de acolhimento de pessoas enfermas ou da comunidade LGBT”, conta.  

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Produção do documentário   

A ideia de retratar a comunidade furry em um documentário surgiu durante o Trabalho de Conclusão de Curso da Paola, quando ela decidiu fazer uma primeira versão do filme. Como era período de pandemia de covid-19, o projeto acabou sendo desenvolvido de forma on-line.   

A oportunidade de dar continuidade à iniciativa veio quando ela ficou sabendo da possibilidade de adquirir recursos por meio da Lei Paulo Gustavo, criada para fornecer apoio financeiro do governo federal para a implementação de ações emergenciais direcionadas ao setor cultural.  

Com o projeto contemplado, foi possível visitar as cinco regiões do Brasil para gravar o média-metragem. A diretora conta que o projeto durou quase o ano de 2024 inteiro, com as gravações tendo início em abril e durando até novembro. Em cada localidade, a equipe, de cerca de 15 pessoas, procurou participar de eventos voltados exclusivamente para a comunidade furry.  

Começando pelo estado de São Paulo, eles foram para Santos, Santo André e Sorocaba. Depois, passaram para o Espírito Santo, em Vila Velha e Vitória; Brasília (DF); Manaus, no Amazonas; Fortaleza, no Ceará; e, por fim, no Rio Grande do Sul, visitaram a cidade de Santa Maria.   

“O total de entrevistados oficiais que selecionamos para o documentário são 18 pessoas. Todos eles falando sobre essa visão mais identitária mesmo. O objetivo do documentário não é fazer um recorte histórico sobre a comunidade furry, mas um recorte de como são pessoas diferentes, plurais e de como os eles usam essa comunidade para elas se sentirem pertencentes”, explica Paola.   

Da exclusão ao acolhimento  

A diretora também destaca o aspecto de que a maioria das pessoas que estão na comunidade furry acabam passando por algum tipo de exclusão social em suas vidas, como pessoas LGBTQIA+ e PcD (Pessoa com Deficiência), por exemplo. “Elas se sentem conectadas ali porque elas criam um personagem antropomórfico que vai representar eles naquele espaço. E então, por meio desse personagem, elas se soltam mais e se sentem mais confortáveis.”  

O média-metragem busca desmistificar estereótipos ligados ao furry. A origem da subcultura, nos Estados Unidos dos anos 70, ocorre em um espaço de preconceito muito grande, de acordo com Champi. Um casal gay foi responsável por fundar a comunidade, o que alinhou a subcultura a um discurso preconceituoso já relacionado às pessoas LGBTQIA+, aspecto que permanece ainda na atualidade.  

“E aqui no Brasil a gente absorve tudo que vem de fora, então a gente tem muito dessas desses discursos de preconceito, principalmente nas redes sociais, onde falam que as pessoas da comunidade furry às vezes é fetiche, o que não tem nada a ver com fetiche. A grande maioria dos comentários é sobre coisas ligadas com sexualidade, que envolvem preconceitos de sexualidade, e também que envolvem preconceitos por ser um espaço onde tem várias pessoas diferentes”, detalha.   

O produtor Paulo Pêssoa cita como exemplo desse estigma ainda muito ligado à subcultura quando, em 2023, o governador do estado americano da Flórida (Estados Unidos), Ron DeSantis, proibiu a entrada de menores de 18 anos em uma convenção furry, alegando cumprimento à legislação que proíbe crianças de participar de eventos de “entretenimento ao vivo para adultos”.  

Paola Champi ainda destaca que, diferente do que é disseminado, os membros da comunidade não têm alguma condição psicológica no sentido de “acreditarem que são animais”. “Isso não tem nada a ver. Na verdade, é a construção de personagens, que tem mais a ver com o RPG (Role-Playing Game). Muitas pessoas da comunidade furry gostam muito de RPG, no qual você cria um personagem para você fazer as suas histórias, seus jogos. Então, ela tem uma questão mais performática”.   

“Eu acho que é mais ou menos esse recorte que a gente quis trazer para o documentário, porque quando a gente traz várias vozes, que são os 18 entrevistados, que são diferentes e moram em regiões diferentes, eles vão dar olhares plurais sobre a comunidade furry e vão tirar esses estigmas de que as pessoas fazem parte da comunidade por questões sexuais ou por se sentirem animais. É tudo uma questão muito mais existencialista, mais subjetiva de como eles podem se sentir nas questões de identidade com relação ao que elas são”.  

Registro de membros do grupo Furry Patas do Cerrado com a bandeira do Brasil na Esplanada dos Ministérios, em Brasília. (Foto: Tony Dunkel)

Estreia do documentário

A primeira exibição do documentário “Uma Chamada Furry” será nesta sexta-feira (25), de forma gratuita na Casa do Lago, na Unicamp, em duas sessões com roda de conversa com a equipe. A primeira sessão, às 16h30, contará com acessibilidade e tradução em libras. A segunda sessão será às 18h.  

No sábado (26) acontece outra exibição gratuita no Salão Vermelho da Prefeitura de Campinas, em duas sessões. Às 14h30, o documentário terá recurso de audiodescrição, enquanto às 16h a sessão contará com tradução em libras.   

Também haverá uma exibição no dia 31 de maio às 16h, no Museu de Imagem e Som, em comemoração ao mês do Orgulho Furry. 

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Vitória Silva
Vitória Silva
Repórter no ACidade ON Campinas. Formada em Jornalismo pela Unesp, tem passagem pelos portais Tudo EP e DCI, experiência em gravação e edição de vídeos, produção sonora e redação de textos, com maior afinidade com temas que envolvem cultura e comportamento.
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