A eleição presidencial será decidida em um segundo turno entre o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) e o presidente Jair Bolsonaro (PL), de acordo com dados do TSE (Tribunal Superior Eleitoral). Com cerca de 94% das urnas apuradas até 20h55, Lula havia recebido 52,0 milhões de votos válidos, ou 47,56% do total contabilizado pela Justiça Eleitoral até aquele momento. O presidente e candidato à reeleição havia recebido 48,milhões de votos, ou 43,94% do total.
O segundo turno ocorre quando nenhum candidato consegue atingir a maioria da soma total dos votos computados. O encontro entre os dois principais rivais está marcado para o dia 30 de outubro, último domingo deste mês. A realização da segunda etapa do pleito frustra principalmente a campanha do petista, que, na reta final do primeiro turno, investiu na defesa pelo voto útil na intenção de encerrar a disputa neste domingo, 2.
Em retórica de contestação das pesquisas eleitorais – cujos resultados vão se confirmando nas urnas -, Bolsonaro dizia que a eleição se encerraria na primeira fase e seria ele o vencedor. Como mostravam as sondagens, e agora os números oficiais, o prognóstico não se realizou. O presidente reiteradamente colocou em xeque o sistema eleitoral.
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Mais de 156 milhões de brasileiros estavam aptos a votar e, de novo, colocaram entre os dois primeiros colocados um petista e Bolsonaro. Neste ano, Lula chegou à frente e é apontado, segundo pesquisas de intenção de voto, como o favorito para voltar à Presidência. Em 2018, Bolsonaro liderou a corrida e venceu Fernando Haddad (PT), que substituiu Lula nas urnas em razão de o ex-presidente cumprir pena na Polícia Federal, em Curitiba.
O petista havia sido condenado pelo ex-juiz Sérgio Moro no caso do triplex do Guarujá (SP) no âmbito da Lava Jato. A operação revelou o esquema de desvios na Petrobras. Lula passou 580 dias na cadeia, e o tema corrupção se torno espinhoso para o petista na atual campanha.
Em 2021, o ministro Edson Fachin, do Supremo Tribunal Federal (STF), anulou todas as condenações impostas pela Justiça Federal do Paraná. O plenário referendou, por oito votos a três, a decisão de Fachin. Neste domingo, o petista relembrou o tempo na cela.
“Há quatro anos atrás eu não pude votar porque eu tinha sido vítima de uma mentira neste país e eu estava detido na Polícia Federal exatamente no dia da eleição”, disse Lula ao votar em São Bernardo do Campo, no ABC paulista. “Tentei fazer com que a urna fosse até a cela para eu votar, não levaram. E quatro anos depois eu estou aqui, votando com reconhecimento da minha total liberdade e com a possibilidade de voltar a ser presidente da República deste País”, afirmou o petista, que se disse “muito feliz”.
Já Bolsonaro se mostrou confiante neste domingo e voltou a dizer que seria reeleito ao apelar a uma narrativa baseada na dúvida das informações. “Tenho certeza de que, em uma eleição limpa, ganharemos com no mínimo 60% dos votos”, afirmou o presidente ao votar no Rio. Ele também afirmou que a eleição representa uma “luta do bem contra o mal” e disse que, “com eleições limpas, tudo bem, que vença o melhor”.
Nesse contexto, a radicalização – de ambos os lados – foi a marca desta eleição presidencial, com violência, agressões e mortes. Além do clima tenso nas ruas e nas redes sociais, os embates assumiram o protagonismo, o que colocou de lado os projetos de País dos candidatos. Lula, por exemplo, não apresentou versão final do programa de governo ao Tribunal Superior Eleitoral (TSE) sob a justificativa de não criar desconforto com aliados.
O centro político não logrou êxito, apesar de a chamada terceira via ter apresentado ao País a candidatura da senadora Simone Tebet (MDB-MS), em coligação com PSDB e Cidadania. Isolado, Ciro Gomes (PDT), em sua quarta disputa, fala em deixar a cena política.
Nos debates em que os candidatos estiveram frente a frente, Lula acenou a Ciro e a Simone – ainda que ambos tivessem feito duros ataques às gestões petistas, inclusive com denúncias de corrupção e crítica à recessão registrada no governo Dilma Rousseff (PT), alvo de impeachment em 2016. Nos bastidores, interlocutores do PT também conversam com nomes do PDT e do MDB – uma ala do partido, inclusive, já declarou voto no petista no primeiro turno.
Esse espectro de apoios é fundamental para definir o segundo turno e a formação de um eventual governo Lula. No sábado, 1º, o petista já sinalizava a necessidade de ampliar o leque de apoio, até agora majoritariamente formado por partidos de esquerda e líderes do centro. “A gente não tem de ficar com melindre de conversar com quem quer que seja. Nosso barco é que nem a Arca de Noé. Basta querer viver para entrar lá dentro e nós iremos salvar todo mundo”, disse Lula, em entrevista coletiva.
Já Bolsonaro dificultou o diálogo que poderia estabelecer com Soraya Thronicke (União Brasil), ao expor a candidata no debate promovido pela TV Globo. Em 2018, a senadora foi eleita declarando apoio ao então candidato à Presidência. Luiz Felipe d’Avila (Novo) já avisou que vai anular o voto.
Enquanto isso, o presidente nacional do PSD, Gilberto Kassab, manteve em aberto uma possibilidade de conversa com qualquer candidato que vença as eleições. Ele destacou as alianças que o partido tem no âmbito estadual com o PT, por exemplo. “O PSD, felizmente, é um partido de centro, partido do diálogo. Nós temos uma excelente relação com o Partido dos Trabalhadores, aliança em diversos Estados com eles. Então, é mais do que natural um diálogo”, disse após a votação em um colégio da zona oeste da cidade de São Paulo, na manhã deste domingo, 2.
Graziella Testa, doutora em Ciência Política pela Universidade de São Paulo (USP), acredita em um segundo turno sem confrontos detalhados sobre propostas de governo. “Um segundo turno tão polarizado desse jeito dificilmente terá discussão em torno de políticas públicas. A tendência é de que seja uma campanha sobretudo de acusações para tentar atrair o voto estratégico do eleitor que rejeita um outro candidato”, disse.
Para a professora do Departamento de Ciência Política da Universidade Federal de Pernambuco (UFPE) Nara Pavão, a tendência é que os candidatos foquem em locais onde o desempenho no primeiro turno ficou abaixo do esperado. “O Sudeste terá uma disputa acirrada porque é uma região estratégica. Mas eles devem evitar áreas onde já têm apoio consolidado. Então Lula vai, em geral, evitar o Nordeste”, avaliou.
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