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PolíticaJustiça Federal afasta presidente do Iphan após declaração de Bolsonaro

Justiça Federal afasta presidente do Iphan após declaração de Bolsonaro

Presidente disse que interferiu no Iphan, no fim de 2019, para ajudar o empresário Luciano Hang

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Presidente do Iphan, Larissa Peixoto Dutra (Foto: Reprodução/Instagram)
Presidente do Iphan, Larissa Peixoto Dutra (Foto: Reprodução/Instagram)

Por Pepita Ortega
A juíza Mariana Tomaz da Cunha, da 28.ª Vara Federal do Rio de Janeiro, atendeu a pedido do Ministério Público Federal e do ex-ministro da Cultura Marcelo Calero e afastou a presidente do Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan), Larissa Peixoto Dutra do cargo. Para a magistrada, a nomeação de Larissa teve a intenção “não de acautelar o patrimônio cultural brasileiro, mas de promover o favorecimento pessoal de interesses específicos de pessoas e instituições alinhadas à agenda governamental”.

O Ministério Público Federal pediu o afastamento de Larissa depois de o presidente Jair Bolsonaro ter admitido, na semana passada, que interferiu no Iphan, no fim de 2019, para ajudar o empresário Luciano Hang, dono da rede de lojas Havan. “Tomei conhecimento que uma pessoa conhecida, o Luciano Hang, estava fazendo mais uma obra e apareceu um pedaço de azulejo nas escavações. Chegou o Iphan e interditou a obra. Liguei para o ministro da pasta (Marcelo Álvaro Antônio, à época titular do Turismo): Que trem é esse? O que é Iphan, com ph? Ripei todo mundo do Iphan. Botei outro cara lá”, disse Bolsonaro durante evento na Fiesp.

O pedido de afastamento atendido pela juíza, porém, é anterior à fala de Bolsonaro em São Paulo. Ele foi apresentado por Calero no ano passado sob a justificativa que a nomeação de Larissa afrontava os princípios da eficiência da atividade administrativa, uma vez que ela não preencheria os requisitos para o cargo.

CAUSA E EFEITO

No despacho dado na noite de anteontem, a juíza destacou que Hang é “notório apoiador do governo” e que este “procedeu à substituição da direção da referida autarquia, de modo a viabilizar a continuidade da obra” de interesse do empresário bolsonarista. “As falas sugerem uma relação de causa e efeito entre as exigências que vinham sendo impostas pelo Iphan à continuidade das obras do empresário e a destituição da então dirigente da entidade”, diz trecho da decisão da magistrada, que citou, ainda, “desvio de finalidade”.

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“Fala-se em desvio de finalidade quando o agente público pratica um ato em benefício próprio ou alheio, sem observância aos princípios da supremacia do interesse público, da indisponibilidade do interesse público e da impessoalidade.”

REUNIÃO. A atuação de Bolsonaro no Iphan veio à tona em abril de 2020, durante reunião ministerial cuja gravação foi divulgada por ordem do Supremo Tribunal Federal. Na ocasião, o presidente disse que mudou o comando do órgão para evitar a paralisação de obras. Larissa foi nomeada em maio daquele ano.

A nomeação chegou a ser suspensa um mês depois, mas a decisão foi derrubada pelo Tribunal Regional Federal da 2.ª Região. Na época, o senador Randolfe Rodrigues (Rede-AP) apresentou uma notícia de fato sobre o assunto. A representação foi encaminhada à Procuradoria da República no DF, mas foi arquivada.

Larissa Dutra e o Iphan não haviam se manifestado até a conclusão desta edição.

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