RIO DE JANEIRO, RJ (FOLHAPRESS) – Depois de construir base de apoio parlamentar para aprovação de reformas, o governador Eduardo Leite (PSDB), 36, mira em avanços no programa de privatizações no Rio Grande do Sul. A venda de estatais faz parte do plano de ajuste fiscal defendido pelo governador. Leite é um dos tucanos cotados para concorrer à Presidência da República em 2022.
Desde que passou a ocupar o Palácio Piratini, sede do Executivo gaúcho, em 2019, o governador conseguiu aprovar reformas que alteraram o plano de carreira e o modelo previdenciário de servidores, incluindo o sistema de aposentadorias de militares. Agora, pretende turbinar as privatizações com a venda de companhias como a CEEE-T (Companhia Estadual de Transmissão de Energia Elétrica).
O leilão da estatal foi agendado para o próximo dia 16. A operação tem valor inicial estabelecido em R$ 1,6 bilhão. O braço de distribuição de energia da companhia, a CEEE-D, em piores condições financeiras, foi leiloado no final de março.
Leite também pretende avançar na venda de ações da Corsan (Companhia Riograndense de Saneamento), cujo processo está em modelagem pelo BNDES (Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social). Outra privatização que está sendo desenhada é a da Sulgás (Companhia de Gás do Estado do Rio Grande do Sul). Em junho, o governo abriu sala de informações para eventuais interessados na negociação.
A busca por medidas de ajuste em um estado com fragilidades financeiras tem chamado a atenção de analistas do centro do país. “Tenho imensa admiração pelo trabalho do governador. Ele tem uma capacidade impressionante de enfrentar os problemas de frente e construir soluções”, aponta o economista Marcos Lisboa, presidente do Insper e colunista da Folha.
Por outro lado, o governador é alvo de críticas de setores de oposição e lideranças sindicais gaúchas, que contestam políticas de austeridade adotadas.
“Não vimos projetos para o desenvolvimento do estado. São projetos de retirada de direitos dos servidores e venda do patrimônio público”, argumenta a deputada estadual Juliana Brizola (PDT), neta de Leonel Brizola (1922-2004), que foi governador do Rio Grande do Sul e do Rio de Janeiro.
Leite voltou a ficar em evidência nos últimos dias após falar sobre homossexualidade. Em entrevista ao programa Conversa com Bial, da TV Globo, exibida na madrugada de sexta-feira (2), o governador se declarou gay. Foi a primeira vez que ele tratou publicamente do assunto.
“Eu sou gay. E sou um governador gay, e não um gay governador, tanto quanto [Barack] Obama nos Estados Unidos não foi um negro presidente, foi um presidente negro. E tenho orgulho disso”, contou.
Antes de uma eventual corrida à Presidência, Leite possui como trunfo o fato de o Rio Grande do Sul ter voltado a pagar os salários de servidores em dia no final de 2020, após quase cinco anos de atraso. À época, o tucano associou a situação a medidas de ajuste implementadas por sua gestão.
“Nós fizemos um grande esforço com reformas profundas e medidas até antipáticas para que pudéssemos reduzir as despesas. Contingenciamos o custeio do estado, e estamos viabilizando essa notícia tão importante”, disse o governador em 27 de novembro de 2020.
O deputado estadual Frederico Antunes (PP), líder do governo Leite na Assembleia Legislativa do Rio Grande do Sul, afirma que o diálogo do tucano com os parlamentares e a sociedade gaúcha permitiu a aprovação de reformas e o avanço de processos de privatização.
“O governador buscou reformas para diminuir o déficit fiscal que o estado tem há anos. Ele nos convenceu de que o trabalho com o parlamento é fundamental. A aprovação de projetos ocorreu graças ao diálogo transparente”, afirma Antunes.
Helenir Aguiar Schürer, presidente do CPERS-Sindicato, representante dos professores da rede estadual, rebate. Crítica às políticas do governo, ela lamenta o fato de a categoria ter sido impactada por mudanças na previdência e no plano de carreira de servidores. As alterações foram sancionadas em fevereiro do ano passado.
“Nossa avaliação é a de que existe uma convicção firme do governo no Estado mínimo, que desmonta os serviços públicos”, diz Helenir.
Na pandemia, Leite entrou em rota de colisão com Jair Bolsonaro (sem partido). O clima de embate cresceu após o presidente atacar governadores devido à adoção de medidas restritivas para frear o novo coronavírus. Em março, Leite chegou a dizer que o presidente “muito fala e pouco governa”.
Às vésperas do segundo turno de 2018, o tucano abriu voto no então candidato do PSL ao Palácio do Planalto.
Durante a crise sanitária, o governador gaúcho também enfrentou a resistência de setores empresariais em razão de medidas implementadas para tentar reduzir os casos de Covid-19.