Em meio às pressões inflacionárias, salários mais baixos, desemprego ainda elevado e crédito mais caro, as famílias brasileiras reduziram o consumo de bens, que está em patamar inferior ao que era registrado no pré-pandemia. Por outro lado, puxado especialmente pelos mais ricos, o consumo de serviços já retornou ao nível pré-crise sanitária.
As informações têm como base os dados desagregados do Monitor do PIB (Produto Interno Bruto) da Fundação Getulio Vargas (FGV), obtidos pelo Broadcast, sistema de notícias em tempo real do Grupo Estado.
“A inflação elevada está corroendo o poder de compra das famílias”, apontou Claudio Considera, coordenador do Núcleo de Contas Nacionais do Ibre/FGV. “As pessoas estão reduzindo suas compras de bens não duráveis, semiduráveis e até de bens duráveis.”
O Monitor do PIB da FGV antecipa a tendência para a atividade econômica brasileira a partir das mesmas fontes de dados e metodologia empregadas pelo IBGE, responsável pelas contas nacionais.
Considerando a série histórica com ajuste sazonal, ou seja, que desconta os efeitos característicos de determinadas épocas do ano sobre o comportamento do consumidor, o consumo de bens semiduráveis em janeiro ficou 12,14% abaixo do patamar de fevereiro de 2020, no pré-pandemia.
O consumo de produtos duráveis – que é também dependente do crédito – está 10,28% abaixo do pré-covid.
Já a aquisição de bens não duráveis, que inclui itens essenciais como alimentos e remédios, está 3,04% abaixo do pré-pandemia.
Por outro lado, o consumo de serviços em janeiro ficou 0,10% acima do pré-crise sanitária.
Conjuntura desfavorável travou a recuperação
Os dados do Monitor do PIB, da FGV, mostram que, na média, o consumo das famílias recuou 1,3% em janeiro na comparação com dezembro, ficando 2,86% abaixo do nível pré-covid. O consumo de serviços (que agora impulsiona a média global do consumo das famílias) demorou mais a se recuperar, por conta das restrições ao funcionamento de estabelecimentos e demais medidas sanitárias necessárias para conter a disseminação do vírus.
Já o consumo de bens chegou a superar os patamares anteriores à pandemia, especialmente nas categorias de duráveis e de não duráveis, impulsionados por fatores como o pagamento do Auxílio Emergencial pelo governo, o isolamento social e o crescimento do trabalho remoto.
Mas esse consumo perdeu fôlego diante de uma conjuntura atualmente mais desfavorável à aquisição de bens.
O IPCA (inflação oficial) acumulado nos 12 meses encerrados em janeiro foi de 10,38%, subindo a 10,54% em fevereiro e 11,30% em março, segundo o IBGE.
A população desempregada somava pouco mais de 12 milhões de pessoas no País no trimestre terminado em janeiro, praticamente o mesmo contingente do trimestre encerrado em fevereiro.
A renda média real de quem permanecia trabalhando era de R$ 2.511 no trimestre até fevereiro, 8,8% menor que um ano antes.
Sem força
O economista-chefe do C6 Bank, Felipe Salles, acredita que a melhora da pandemia permitirá a manutenção da recuperação do consumo de serviços pelas famílias brasileiras, mas não vê nesse movimento uma força que seja suficiente para turbinar o desempenho do PIB.
“Não estamos tão otimistas, porque há outros impactos que afetam o consumo das famílias este ano, principalmente a renda. Estamos com desemprego em queda, mas em patamar ainda elevado”, diz o economista. As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.