Em um momento agitado para o xadrez eleitoral de 2022, com direito a “quase desistências” de nomes importantes, o líder nas pesquisas, o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), paralelamente “testa as águas” para entender se conseguirá angariar apoio de empresários e de entidades de classe para sua candidatura. Por ora, as conversas acontecem a portas fechadas. E o setor produtivo resiste a revelar suas cartas porque acredita que é cedo para desistir da “terceira via”, que é a alternativa preferida dos empresários.
Há quem diga que a aproximação, por ora, é muito mais simbólica do que efetiva. Nas reuniões, segundo fontes ouvidas pelo Estadão, os empresários ouvem e fazem perguntas, evitando declarar apoio. Na verdade, é improvável que isso ocorra antes de o PT anunciar a linha de política econômica, mostrando que não jogará para o alto o teto de gastos (que limita o crescimento das despesas) e outras reformas recentes. Mas os empresários ficaram de sugerir propostas a Lula.
Segundo fontes, entre os nomes que já teriam recebido emissários do PT ou conversado diretamente com Lula, estariam Luiz Carlos Trabuco (presidente do conselho do Bradesco, nome até cotado para um futuro Ministério da Fazenda em caso de uma eventual vitória) e Abilio Diniz.
Essa tentativa de aproximação tem sido comandada pelo ex-ministro Aloizio Mercadante, mas José Dirceu também está se movimentando. Os encontros de Mercadante incluíram uma aproximação com o economista Persio Arida: os dois se encontraram por cerca de uma hora e meia, na Fundação Perseu Abramo, reduto de pensamento econômico do PT.
O encontro agitou o cenário econômico, pois Arida foi coordenador do programa econômico de Geraldo Alckmin em 2018, que agora deve ser vice na chapa encabeçada por Lula. Com a aliança, é natural imaginar que Alckmin talvez tenha alguma influência na definição da política econômica, o que agradaria ao setor produtivo, em especial ao mercado financeiro – e Arida, vale lembrar, já foi presidente e sócio do BTG Pactual.
COMPASSO DE ESPERA. Os empresários cobram sinais. Mas Lula não quer definir agora – e tem dado declarações contraditórias sobre economia, no que se refere ao controle das despesas públicas e à definição dos preços de combustíveis, por exemplo. Além disso, o ex-presidente sabe que está em terreno pantanoso: ao dizer o que o setor produtivo quer ouvir, desagrada à base do PT; se faz o contrário, o PIB desconfia.
Sabendo desse dilema, há empresários que, por ora, não querem nem conversar com o PT. O partido já recebeu sonoros “nãos” de empresários e executivos de vários setores e também do agronegócio, segmento no qual a rejeição a Lula é altíssima. Um grupo de empresários que acompanha de perto e troca informações sobre as eleições diz que um eventual apoio a Lula só viria no 2.º turno.
Até lá, esses grupos se movimentam para viabilizar a terceira via. A ameaça de desistência de João Doria (PSDB) e o movimento do ex-ministro Sergio Moro na semana passada evidenciam essa pressão do PIB: a ideia do setor produtivo é encontrar uma alternativa de “terceira via viável”, em uma só candidatura. Doria, segundo uma fonte, já foi aconselhado por empresários a se retirar da disputa: com 2% de votos e alta rejeição, é visto como carta fora do baralho. Os nomes preferidos do PIB são os do também tucano Eduardo Leite e de Simone Tebet (PMDB).
Lendo esse cenário e percebendo que o setor produtivo está relutante, Lula só pretende queimar o cartucho para atrair o PIB na hora certa – ou seja, mais próximo ao segundo turno. Um alto executivo de banco disse ao Estadão, porém, que, se a disputa ficar mesmo entre Lula e o presidente Jair Bolsonaro, o petista leva vantagem: “O Bolsonaro a gente sabe que vai fazer um governo ‘raiz’, sem direcionamento. Com o Lula, há pelo menos uma chance de que não seja assim”.
“Há um esforço de aproximação, mas há muitos pontos divergentes. A margem para erros é baixa”, disse um economista que participa das discussões e pediu anonimato. Há críticas também a posicionamentos de economistas ligados ao partido, que têm dado declarações consideradas radicais, como estatização de bancos – “como se fossem da equipe econômica de Lula”.
O economista Nilson Teixeira, sócio da Gestora Macro Capital, defende o foco da política econômica no combate à pobreza, mas também cobra uma modernização das políticas do PT num eventual governo de Lula. “A diminuição da pobreza exigirá a melhoria dos fundamentos da economia”, diz.
Para Teixeira, há mais uma razão para que o empresariado fique em silêncio neste momento: em um país onde o Estado é tão poderoso quanto no Brasil, é sempre bom não irritar o governo de plantão.
As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.