SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – As desigualdades jurídica e social exigem estratégias diferenciadas para garantir melhores retornos aos investidores da comunidade LGBTQIA+, sigla que abarca lésbicas, gays, bissexuais, transexuais, queer, intersexuais, assexuais e outras sexualidades não heteronormativas.
Essa conclusão consta de um relatório produzido pelo banco suíço UBS, feito especificamente para esse público. Segundo a instituição, fatores como família, emprego, vida urbana, assistência médica e longevidade, por exemplo, podem interferir no planejamento financeiro de grupo de maneira diferente de como afetam o público cisgênero e heterossexual.
Ainda de acordo com o relatório, que foi divulgado nesta quarta-feira (16), a plena igualdade jurídica e social para esse público não existe em nenhum lugar do mundo. Assim, quando grupos diversos encaram diferentes ambientes sociais e jurídicos, os investimentos também precisam se adequar aos desafios que eles têm.
“Enquanto a maioria dos investidores [cisgênero e heterossexuais] têm preocupações semelhantes, independentemente do seu gênero ou orientação sexual, os investidores LGBTQIA+ são suscetíveis a diferentes necessidades e desafios”, afirmaram os especialistas do UBS em relatório.
Segundo o levantamento, o ambiente familiar é um dos principais fatores de diferença. De maneira geral, vítimas de preconceito racial, de gênero e religioso podem encontrar apoio de familiares que tenham sofrido a mesma perseguição ao longo da vida. Essa identificação emocional, no entanto, muitas vezes não se aplica quando se tratam de diferenças de orientação sexual.
“Para algumas pessoas [da comunidade] LGBTQIA+ seus maiores perseguidores são exatamente os membros de suas próprias famílias. Isso significa que é maior a probabilidade desse público acabar morando nas ruas, principalmente entre os mais jovens, cujo risco chega a ser dobrado. Isso tende a criar maior insegurança financeira”, afirmou o relatório.
Em exemplos menos extremos, pessoas que fazem parte da comunidade LGBTQIA+ também podem acabar sendo deserdados ou incapacitados de contar com a família para apoio financeiro.
Isso pode dificultar que essas pessoas montem seus próprios negócios, por exemplo, uma vez que o financiamento familiar é a maior fonte de investimentos de empresários.
“A rede de segurança de ter uma família que pode oferecer apoio financeiro em uma eventual falha também é importante”, afirmou o relatório. “É mais fácil tomar riscos quando se tem uma casa para voltar. Erros são muito mais caros para aqueles que precisam ser autossuficientes.”
Em termos de investimentos, esse cenário também implica que as pessoas LGBTQIA+ precisam montar estratégias mais amplas de liquidez para formar a reserva de emergência. Esse colchão precisa ser suficientemente grande para cobrir custos diários e gastos inesperados por, pelo menos, de seis meses a um ano.
A mesma lógica se aplica em termos de trabalho. Segundo o relatório, mesmo onde há proteção jurídica, o preconceito social ainda pode prejudicar as condições de emprego para a comunidade LGBTQIA+.
“Nos EUA, cerca de metade dessa comunidade ainda não é honesta sobre sua sexualidade no trabalho. Na Inglaterra, o número chega a ser mais de um terço. O impulso de esconder vem do medo de perseguição ou da exclusão no ambiente de trabalho, mesmo que a lei trate essas ações como ilegais”, afirmaram os especialistas.
Além disso, o estresse em esconder a sexualidade pode gerar uma má performance e a perda de oportunidades, o que também pode acabar implicando em demissões.
“Ser LGBTQIA+ significa ter menos oportunidades emprego. Quase 70 países criminalizam a comunidade de alguma forma, e a maioria dos países não oferece igualdade de casamento ou proteção legal de emprego para essas pessoas”, afirmou o relatório.
Neste caso, os especialistas do UBS recomendam que os investidores LGBTQIA+ gerenciem ativos de estratégia de longevidade holisticamente -de maneira a considerar uma visão integral e um entendimento geral dos fenômenos- para obter o máximo de cada investimento.
Ainda segundo o relatório, a população LGBTQIA+ também tem custos mais altos no dia a dia, o que também interfere na maneira como essas pessoas precisam organizar seu orçamento para investir.
O alto custo de vida nos centros urbanos -onde a comunidade LGBTQIA+ costuma estar mais concentrada-, os gastos com saúde -a maioria dos planos não cobre ou cobra mais caro para atender as necessidades de pessoas transexuais, por exemplo- e o planejamento para aposentadoria -uma vez que muitos países não oferecem reconhecimento legal para a transferência de recursos para parceiros do mesmo sexo- também são pontos a serem considerados.
Os especialistas afirmam, ainda, que as estratégias de investimento variam conforme tempo e objetivo de cada pessoa. “O preconceito que a comunidade LGBTQIA+ enfrenta também significa que as decisões de investimentos podem ter um impacto ainda mais poderoso [na vida dessas pessoas].”