SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – O aumento de mais de 20% na bandeira vermelha da conta de luz, informado nesta terça (15) pelo diretor-geral da Aneel (Agência Nacional de Energia Elétrica), André Pepitone, preocupa o setor da construção civil.
O principal impacto deve vir por meio dos materiais utilizados nas obras. Alguns deles demandam alto consumo de eletricidade durante a fabricação e esse custo deverá chegar aos canteiros.
O alumínio é apontado como a matéria-prima que mais demanda energia, com cerca de 50% do seu custo de produção atribuído ao consumo de eletricidade, seguido pelo cimento e o aço.
“O alumínio é um material que especificamente utiliza muita energia, mas vou ter impacto de forma geral em todos os processos fabris”, diz Carlos Borges, vice-presidente de tecnologia e sustentabilidade do Secovi-SP (sindicato da habitação).
Isso atinge o setor em um momento já complicado de aumento de preço dos insumos. O INCC (Índice Nacional da Construção Civil) chegou a 15,25% no acumulado dos últimos 12 meses, e alguns materiais subiram muito acima disso.
Borges aponta que o aço deve chegar a 150% de aumento em julho, se comparado com o preço praticado em março de 2020. “É uma loucura, estamos vivendo um momento quase dramático”, diz. “Muitas obras, especialmente as populares, estão se inviabilizando, porque não tem aumento de renda do consumidor e do valor do imóvel.” Jayme Holloway, diretor de engenharia da incorporadora Paes & Gregori, afirma que muitas obras são fechadas a um preço indexado, e nem sempre as variações em seu custo são captadas inteiramente pelos índices, o que resulta em prejuízo para as incorporadoras.
A Abramat (Associação Brasileira da Indústria de Materiais de Construção) afirmou, em nota, que manifesta preocupação com as notícias sobre aumento da tarifa de energia. “O tema é bastante sensível à indústria de materiais de construção, sobretudo para alguns setores, como o siderúrgico, cerâmico e de vidros”, afirmou.
Os materiais usados na construção civil são em grande parte nacionais, e por isso mais passíveis de serem afetados pela alta na tarifa de energia.
Devido ao aumento de custos dos materiais, o setor de construção civil já vem tentando ampliar a importação de matérias-primas, solicitando a diminuição de impostos.
Outro efeito temido da alta no custo da eletricidade é a redução do poder de compra dos clientes. “É um setor que estava indo bem, mas quando bater no bolso do consumidor, ele vai pensar que é melhor dar uma reformada em seu imóvel do que partir para uma aventura de compra”, diz Holloway.
A Cbic (Câmara Brasileira da Indústria da Construção) compartilha dessa preocupação. “Quando o bolso encolhe, a capacidade de fazer investimentos se reduz”, diz José Carlos Martins, presidente da entidade.
A conta de luz das próprias construções também vai subir, mas seu efeito sobre o setor deve ser menor do que a alta das matérias-primas.
Um canteiro de obras gasta muita energia com equipamentos como máquinas de solda, gruas e guinchos, mas, em comparação, o gasto é menor do que em um prédio pronto e habitado, diz Holloway.
Ainda assim, é um fator a mais em um setor que já sofre com os aumentos dos preços de materiais. “Temos tarifa diferenciada para a indústria, é difícil mensurar exatamente o impacto na conta, mas é um aumento de custo que vem em hora muito ruim”, afirma Borges.
Ele ressalta que o setor está em busca de energias renováveis, mas ainda é muito dependente da eletricidade convencional.
Uma das empresas que está investindo em fontes alternativas é a incorporadora SKR. Eles pretendem instalar placas fotovoltaicas em seus novos canteiros, para gerar energia para a construção.
Segundo Gabriel Junqueira, diretor de engenharia da incorporadora, a ideia é que sobre energia elétrica, que seria revendida à concessionária.
“Ao longo de uma obra você já paga o investimento nas placas, e no próximo canteiro o ganho é de 100%”, afirma ele.