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EconomiaSaiba como escolher boas pagadoras de dividendos

Saiba como escolher boas pagadoras de dividendos

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SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – Companhias que pagam dividendos regularmente podem ser um bom complemento na carteira dos investidores, mas não devem ser a única estratégia adotada no investimento em ações, apontam especialistas.

Isso porque também é preciso levar a valorização do papel e de seus pares em conta. É possível, por exemplo, que o pagamento de dividendos não supere a desvalorização do papel em um ano, ou até que a constante distribuição de lucros signifique uma falta de investimentos no negócio. Ou seja, o investidor nunca deve olhar apenas para o dividendo na hora de escolher o papel.

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Dividendos são partes do lucro das empresas que elas resolveram distribuir a investidores. A companhia também determina quando o valor será repartido e quais acionistas terão direito ao benefício, dado que os papéis podem trocar de mãos constantemente no mercado.

“Dividendo é lucro da empresa que não volta para ela. Ou seja, para pagar dividendo, a empresa tem que dar lucro. Se tiver prejuízo, não há dividendo. Além disso, se a empresa está em ciclo de crescimento, ela não vai querer distribuir lucro, vai reinvestir”, diz Daniel Bacellar, sócio e diretor da mesa de renda variável da Alta Vista.

Além de ações listadas na Bolsa brasileira, BDRs (recibos depositários de ações brasileiras) também pagam dividendos. BDRs são negociados na B3 da mesma forma que ações. Eles permitem o investimento em ações listadas em outros países por meio de um recibo emitido por um banco. Além da variação diária do papel correspondente no exterior, o BDR reflete a flutuação do câmbio.

Para analisar apenas o dividendo, o mercado usa o indicador dividend yield, que mostra a rentabilidade de uma empresa apenas com o pagamento de dividendos. No seu cálculo, o dividendo por ação é dividido pela cotação da ação mais negociada (ordinária ou preferencial) antes da distribuição dos dividendos –último dia antes do papel ficar ex-dividendo– multiplicando o resultado por 100.

Na hora de comparar empresas, porém, é preciso atenção, já que empresas com ações mais baratas podem dar a ilusão de pagar mais dividendos que empresas com uma cotação mais elevada, mas um dividendo por ação maior.

Além disso, o dividend yield não indica se a companhia está em um bom momento. Para isso, se deve olhar para os fundamentos da empresa, analisar o balanço e compará-la com pares do setor.

O Ibovespa, principal índice acionário do país, acumula uma alta de 45% desde junho de 2020, enquanto o Idiv, índice de boas pagadoras de dividendo, sobe apenas 38%.

“A estratégia de dividendos é interessante para ter uma renda passiva e aumentar a receita sem ter que trabalhar mais”, diz Luciana Ikedo, sócio-presidente da Ikedo Investimentos.

Segundo especialistas, o investimento voltado a dividendos deve ser apenas uma parte da carteira focada no longo prazo, com ações cujos dividendos superem a taxa Selic e, de preferência, a inflação.

“O investidor deve ter uma perspectiva de dez anos e escolher empresas com bons fundamentos. A dica é buscar conhecimento”, diz Carlos Castro, da Planejar.

Na hora de escolher, é preciso analisar a empresa como um todo, com atenção especial à gestão, e seu setor, além do histórico e da política de pagamento dos dividendos. As informações estão disponíveis nos sites de relações com investidores das companhias.

Luciana recomenda a escolha de empresas mais defensivas, que tendem a ir bem independentemente do cenário macroeconômico, como empresas de energia, bancos, seguros e serviços essenciais.

Segundo estudo da MZ Group, cerca de 75% de 250 empresas da Bolsa de Valores brasileira distribuíram dividendos, obrigatórios ou não, em 2020. Dentre os setores com mais empresas pagadoras, estão locadoras de veículos (100%), serviços financeiros (88%) e energia elétrica (80%).

Segundo Bacelar, da Alta Vista, as melhores pagadoras de dividendos geralmente são empresas com muito caixa, ou seja, alta margem financeira, e facilidade no lucro, como em setores com maior concentração, por exemplo. Dessa forma, o investidor deve escolher as companhias que têm boas perspectivas de lucro futuro.

“Distribuir lucros e continuar crescendo é um sinal de que a empresa está saudável, as que não pagam também não são ruins, podem estar reinvestindo para crescer mais”, diz Bacellar.

Outro ponto de atenção é que o pagamento de dividendos é descontado do valor da ação e depositado na conta do acionista e não é uma quantia extra que entra no ativo. Assim, a empresa indica o que o mercado chama de “Data Com” e “Data Ex”.

A Data Com representa o último dia que o investidor deve ter posição na empresa para poder ter o direito de receber dividendos. Caso ele venda sua participação antes dessa data, não receberá o provento.

Já a Data Ex –ou ex-dividendos– é o dia útil seguinte à Data Com. A partir desse dia, o investidor que comprar a ação não terá direito a receber dividendos por um período. Nesse dia, a ação já iniciará o pregão com o desconto dos dividendos. Por exemplo, se foi distribuído R$ 1 por papel, que estava a R$ 10 na sessão anterior, na Data Ex a ação inicia as negociações a R$ 9.

Além disso, o investidor deve entender como foi obtido esse lucro que foi distribuído. Pode ser que seja um dividendo extraordinário, que não estava previsto pela empresa, e não recorrente.

A inflação também deve ser levada em conta na olha de analisar o pagamento de dividendos. É desejável que eles fiquem acima do aumento de preços no período.

IMPOSTO DE RENDA

Uma grande vantagem dos dividendos é que eles são isentos de Imposto de Renda, ao contrário dos JCP (Juros sobre Capital Próprio), que têm retenção de 15% na fonte. Ambos são distribuições do lucro de uma companhia.

O ministro Paulo Guedes (Economia), porém, tem planos para mudar isso. Ele já fez menções ao fim do JCP e planeja a tributação de dividendos em uma eventual reforma do IR de empresas com a intenção de aumentar a arrecadação da união, já que companhias usam o JCP como um pagamento livre de impostos.

O governo deve entregar o projeto que muda o IR para pessoas físicas e jurídicas na próxima quarta-feira (23).

A ideia de Guedes é criar uma tributação de 20% sobre a distribuição de dividendos.

“Os dividendos hoje são isentos, e isso faz uma grande diferença em uma carteira que foque renda passiva. Tudo depende da alíquota, mas [o imposto] certamente afetará de forma negativa a rentabilidade dos dividendos”, diz Luciana Ikedo.

No caso dos BDRs, ficam com os bancos cerca de 3% a 5% do dividendo que vem do exterior. Além disso, 30% do dividendo é retido na fonte pelo governo americano.

Há também incidência de IR, com uma alíquota progressiva de até 27,5% para valores acima de R$ 1.903,98 ao mês.

Outra diferença é que dividendos recolhidos diretamente nos EUA não podem ser usados para compensação de perdas com ganhos. Ou seja, paga-se imposto no eventual ganho com uma ação mesmo se houver perda de outra ação vendida no mês.

BOAS PAGADORAS DE DIVIDENDOS EM 2021

Anualmente, a plataforma de análise de dados Economatica projeta quais são as ações com potencial de bons resultados em dividendos e de JCP no ano de 2021.

Dentre os critérios para a seleção, estão: volume financeiro médio diário em 2020 superior a R$ 5 milhões, lucro no ano de 2019 e lucro 75% maior nos nove primeiros meses de 2020, com o total anual igual ou superior a 2019. Também é preciso que a ação tenha distribuído dividendos ou JCP em 2019.

Para o cálculo, considera-se ainda que a política de distribuição de dividendos e JCP da empresa no ano de 2021 seja equivalente à de 2020 e ao preço da ação da companhia no último dia de 2020.

É importante destacar que a maior parte dos dividend yields em 2021 ficam menores que os de 2020 por razões matemáticas, dada a elevada desvalorização de ativos no ano passado.

As mais bem colocadas no ranking de boas pagadores são, nesta ordem: energia elétrica, seguradoras, exploração de imóveis e alimentos.

A ação com melhor dividend yield projetado para 2021 é a empresa de exploração de petróleo Enauta, que em 2020 remunerou o seu acionista com dividendos e JCP em 7,14% de dividend yield. Considerando que a empresa mantenha a política de distribuição de dividendos em 2021 equivalente a de 2020, o dividend yield projetado para este ano é de 9,64%.

Quase empatada, há a companhia de transmissão de energia elétrica Taesa, com projeção de 9,63% em 2021. A corretora de seguros Wiz vem em terceiro lugar, com 8,32%.

Com a pandemia, a distribuição de dividendos foi menor em 2020. O Itaú, que era apontado com o maior potencial distribuidor de lucros no ano passado pela Economatica, acabou com dividend yield de 4,67%, ante a projeção de 8,76%, devido à brusca redução de dividendos no setor bancário.

“O ano passado foi ruim de dividendos, mas neste ano a expectativa é muito boa. Os resultados corporativos estão vindo muito bons”, diz Gustavo Bertotti, economista-chefe da Messem Investimentos.

Ele aponta que, além das elétricas, bancos, frigoríficos e empresas da construção tendem a distribuir elevados dividendos neste ano.

Até o momento, um das companhias que mais distribuíram lucros aos acionistas é a Taesa, com um dividend yield de cerca de 8,96% em 2021, segundo a Economatica. Acima das expectativas, a Copel (Companhia Paranaense de Energia) vem em seguida, com 8,78%. Minerva fica com o terceiro lugar, com 7,62%.

Segundo Bertotti, a crise hídrica não deve afetar significativamente os dividendos das elétricas, que tendem a ter diversas concessões e fontes de receita. “Não vemos uma situação caótica, de apagão”, diz.

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