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EconomiaSeca no Sul agrava crise energética no país e exige energia do Nordeste

Seca no Sul agrava crise energética no país e exige energia do Nordeste

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RIO DE JANEIRO, RJ (FOLHAPRESS) – A seca na região Sul agravou as condições do setor elétrico brasileiro, que terá de apelar à energia armazenada nos últimos anos em hidrelétricas do Nordeste para garantir o abastecimento de energia nos próximos meses. A decisão preocupa os usuários do rio São Francisco, que conviveram por anos com restrições para poupar água.

Apenas em agosto, o nível dos reservatórios das hidrelétricas do sul despencou 17 pontos percentuais, atingindo 30,7% de sua capacidade de armazenamento de energia na terça-feira (24). A situação é melhor do que no Sudeste/Centro-Oeste, que tem 22,8% da capacidade, mas essas regiões perderam apenas 3,2 pontos percentuais no mês.

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“Temos uma situação bastante crítica no sul”, comentou o diretor-geral do ONS (Operador Nacional do Sistema Elétrico), Luiz Carlos Ciocchi, em entrevista nesta quarta (25) para detalhar novas medidas de enfrentamento à crise energética nacional após “relevante piora” do cenário.

Ciocchi diz que as chuvas de julho e agosto foram piores do que o esperado, o que demandou a adoção de novas medidas, como a proposta de programa de redução voluntária de consumo por pequenos consumidores e a determinação de economia de energia em prédios públicos.

Para substituir energia que deixa de ser gerada no Sul, o CMSE (Comitê de Monitoramento do Setor Elétrico) decidiu ainda flexibilizar as restrições à operação de hidrelétricas do São Francisco, que passaram anos respeitando limites máximos de vazão para recuperar os níveis perdidos na grave estiagem iniciada em 2013.

Os anos de restrição levaram os reservatórios do São Francisco dos 12% atingidos em agosto de 2017 para a casa dos 50% este mês. O uso mais intensivo das hidrelétricas do Nordeste preocupa o Comitê da Bacia Hidrográfica do São Francisco, que teme o risco de voltar a conviver com baixos níveis de água.

“Comemos o pão que o diabo amassou aqui, fizemos restrição de uso, Sobradinho chegou quase no volume morto”, diz o presidente do comitê, Anivaldo Miranda. “Todas as quartas, ninguém captava água, nem agricultura, nem mineração, nem ninguém.”

Miranda teme impactos na economia da região, que depende da irrigação para a produção de frutas no semiárido, e pede estudos do ONS sobre os impactos do aumento das vazões. “O ONS não fez simulações conclusivas até dezembro e até o período úmido”, diz, temendo que um verão seco leve o nível de Sobradinho de volta aos 20%.

Na entrevista desta quarta, o ministro de Minas e Energia, Bento Albuquerque, destacou que o intercâmbio de energia entre regiões é uma das características fundamentais do sistema elétrico brasileiro. “Se hoje o Nordeste está em melhores condições, amanhã pode ser o Sul suprindo o Sudeste ou vice-versa. Essa é a lógica.”

O Nordeste já vem dando grande contribuição contra a crise energética por meio da geração de energia eólica e solar, que bateu diversos recordes nas últimas semanas. Para ampliar a transferência, o governo reduziu limites mínimos de confiabilidade no sistema de transmissão, permitindo o transporte de maiores volumes de energia.

Diretor do ONS no período em que a hidrelétrica de Sobradinho atingiu o volume morto, Luiz Eduardo Barata diz que a região recebeu investimentos para minimizar os problemas provocados pelo baixo nível das águas, como obras para permitir a captação de água em pontos mais distantes da margem.

“Se [a flexibilização das restrições] for feita com responsabilidade, com transparência, não há problema”, diz ele, que vem sendo uma das vozes críticas à atuação do governo no enfrentamento à crise hídrica. “A questão é a falta de transparência.”

A gerente de Projetos e Produtos do Instituto Escolhas, Larissa Rodrigues, diz que falta planejamento e um sistema de valoração do uso da água que ajudaria a definir quais os setores devem ser priorizados em caso de redução abrupta do nível dos reservatórios.

“E esse é o grande problema dessa crise agora: o setor elétrico tem atuado por meio de medidas excepcionais”, afirma. “A gente empurra com a barriga e deixa como está quando tem muita água e, quando tem menos água, toma decisões na caneta.”

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