SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – A pandemia da Covid-19 acelerou o avanço do site de artigos para o lar MadeiraMadeira: durante 2020, as vendas da empresa cresceram mais de 100%, depois de fechar com alta de 80% no ano anterior. Esses resultados positivos foram cruciais na hora de o comando da empresa decidir entrar em uma rodada de investimentos logo no início de 2021, em vez de 2022, como estava na programação inicial. E deu certo.
Nesta quinta-feira (7), a empresa anunciou que recebeu um aporte de US$ 190 milhões (R$ 1 bilhão) e se tornou um unicórnio, jargão do setor para startups avaliadas em US$ 1 bilhão ou mais.
“É um momento da história para a companhia. A gente brincava lá atrás, acreditava que podia chegar a este momento e, ao longo dos anos, a diferença foi diminuindo. Quem acompanha nossa história sabe que não foi por acaso”, diz Robson Privado, cofundador da MadeiraMadeira.
Privado, que atualmente ocupa o cargo de diretor-executivo de operações, tornou-se o primeiro negro brasileiro a ser cofundador de um unicórnio. Ele entrou na companhia em 2012, momento em que o negócio passou por uma redefinição de rumos, depois de três anos de operação. Ele figura como sócio e cofundador desde então.
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Pergunta – Como foi receber a notícia de que a MadeiraMadeira tinha se tornado um unicórnio?
Robson Privado – Hoje foi um dia super importante. A gente sempre compartilha tudo com nosso time de 1.400 colaboradores. E resolvemos fazer o anúncio para todos ao mesmo tempo. Também vamos fazer uma festa virtual hoje a noite. É um dia especial.
A valorização tem a ver com o desempenho da empresa no último ano de pandemia?
RP – Ajudou, com certeza. É uma construção. A gente tinha captado uma rodada em outubro de 2019. O momento contribuiu para antecipar a rodada. Foi uma oportunidade que a gente viu. Nossas principais iniciativas começaram há dois anos, como a expansão das lojas físicas e a linha de produtos próprios. Agora, pretendemos acelerar isso em 2021 e surgiu a necessidade de capital.
2020 foi um ano marcado por novos projetos. Abrimos um centro de distribuição em Jundiaí, no interior de São Paulo, e vamos reduzir o prazo de entrega. A partir do final de fevereiro, clientes de São Paulo vão receber no dia seguinte. Também abrimos sete das nossas nove lojas entre novembro e dezembro de 2020.
Prevêem abrir o capital da empresa?
RP – Fazer o IPO [oferta pública inicial de ações] é provavelmente um dos próximos passos, mas ainda não temos previsão. Os investidores dessa rodada [co-liderada pelo SoftBank Latin America Fund e Dynamo] vão ajudar a gente a implementar os atributos necessários, como práticas de governança. E nós vamos nos preparar para esperar o melhor momento.
O empreendedorismo negro é, geralmente, marcado pelo pioneirismo e a solidão. É o seu caso?
RP – Sempre tive um grande exemplo dentro de casa. A minha mãe é branca e meu pai é negro. Então, tive o exemplo de um homem negro de sucesso em Curitiba, que é uma cidade predominantemente branca. Mas sempre fui um dos únicos negros no colégio, no clube, no intercâmbio. Tive uma oportunidade muito boa de ter um exemplo dentro de casa e de ter uma boa educação. Depois, foi um pouco do que acontece com todo empreendedor. Eu nunca tive o estigma ‘sou negro, não consigo chegar’. Meus pais trabalharam isso em mim.
Infelizmente, vivenciei vários preconceitos, mas nunca deixei que isso influenciasse os meus sonhos. O sucesso profissional ainda é muito solitário para os negros e agora estou me envolvendo com iniciativas para melhorar mais o ambiente, deixar ainda mais diverso. Não só na questão racial, mas de gênero e orientação sexual.
Que tipo de iniciativas?
RP – Ainda não posso contar. Mas estamos desenvolvendo na empresa alguns programas, fazendo estudos para colocar o que a gente acredita. E como vamos colocar a diversidade. Não queremos criar a vitimização. Eu acredito que um ambiente de diversidade de opiniões é o melhor ambiente de negócios.
Como a MadeiraMadeira lida com a diversidade em seu quadro de funcionários?
RP – Estamos fazendo um censo. Já temos alguns números e criamos um comitê de diversidade.
Acredita que vivemos tempos de mudança nessas questões?
RP – A sociedade como um todo está mais aberta. Para o meu pai, na década de 1980, foi mais difícil do que foi para mim. Isso está claro. O jeito de construir isso é com empatia. Quanto mais a gente falar sobre o tema, isso ajuda as pessoas a gerar mais empatia e a entender que é todo mundo igual. Ainda falta para negros e mulheres a questão das oportunidades, mas daqui 20 anos, quando meu filhos estiverem empreendendo, vai ser um ambiente totalmente diferente.
O senhor disse que já vivenciou situações de preconceito. Alguma marcou?
RP – Nenhuma. Não gosto de ficar me vitimizando. Entendo que pessoas têm preconceito porque nunca tiveram oportunidade de conversar com um negro. Quando passo por alguma situação de preconceito tento ser mais empático para entender e tentar reverter as pessoas. É menos uma questão de ser vítima e mais de ser um ator para mostrar que é uma pessoa como qualquer outra. Sou o primeiro negro nessa lista de unicórnios. Encaro com normalidade. Sou o primeiro, mas tenho certeza que não vou ser o único. Meu papel é mostrar que é possível chegar. Não é a cor da pele que faz diferença.