TÓQUIO, JAPÃO (FOLHAPRESS) – Em tempos de distanciamento social, um abraço resultou no momento mais emocionante das Olimpíadas de Tóquio.
Quando ficou com a prata nos 100 m peito, Tatjana Schoenmaker, 24, saiu da piscina sorridente, abraçada com a vencedora Lydia Jacoby, 17, dos Estados Unidos.
“Eu lhe disse que ela era brilhante. Queria ter vencido o ouro, claro, mas fiquei feliz pela Lydia”, disse Schoenmaker, que se tornou um rosto conhecido no Centro Aquático de Tóquio por estar sempre sorrindo, mesmo a minutos de disputar as finais.
A retribuição veio nesta quinta-feira à noite (29), quando a sul-africana bateu em primeiro lugar nos 200 m peito. Tornou-se uma das imagens icônicas dos Jogos.
Schoenmaker demorou para perceber que não havia apenas conquistado a medalha de ouro. Seu tempo de 2m18s95 era o novo recorde mundial para a prova. Ela não acreditou e colocou as mãos na cabeça. As americanas Lilly King, 24, e Annie Lazor, 26 (prata e bronze, respectivamente) nadaram até ela para abraçá-la.
Enquanto a nadadora da África do Sul chorava, veio também sua compatriota Kaylene Corbett para um abraço quádruplo dentro da piscina. Funcionários do evento, voluntários e integrantes de outras delegações que assistiam à cena, aplaudiram.
“Sinto que foi uma prova tão especial, sabendo que poderia celebrar a vitória com outras pessoas. A competição é dentro da piscina. Fora, nós podemos ser felizes umas pelas outras, motivar, dizer ‘boa sorte’. É muito bom celebrar juntas.” disse a medalhista de ouro e agora recordista olímpica.
É a mesma Schoenmaker que não se abalou nem ao perder o ouro nos 100 m quando havia quebrado o recorde olímpico nas eliminatórias. Em vez de ficar decepcionada com isso, preferiu citar Jacoby, garota nascida no Alaska, considerada um dos nomes que podem dominar as piscinas a partir de Paris-2024.
“Eu também esperava o ouro [nos 100 m], mas as coisas não são assim. Nada é fácil. Quantas pessoas têm um recorde olímpico? É algo para você se orgulhar, claro. Assim como a medalha de prata. Faltou um pouco para o ouro, mas tenho de parabenizar Lydia pelo que fez aqui hoje”, comentou na última segunda (26).
Das oito finalistas dos 200 m peito, seis treinam com outra nadadora que também estava naquela final, o que criou um clima diferente para as competidoras.
Schoenmaker, parceria de treinamentos de Corbett, é só uma parte do pódio mais carismático que as Olimpíadas de Tóquio ofereceram por enquanto. Porque se Annie Lazor conquistou o bronze, foi por causa da sua melhor amiga e colega de piscina de todos os dias, Lilly King.
“Em uma visão competitiva, ela realmente me ajudou. Pessoalmente, nosso relacionamento cresceu em formas que não consigo sequer expressar”, disse Lazor.
Não fosse por King, a medalhista de bronze provavelmente não estaria em Tóquio.
Pouco antes da seletiva da natação americana, o pai de Lazor teve um mal súbito e morreu aos 61 anos. Em entrevista ao programa Today, da NBC (dona dos direitos de transmissão das Olimpíadas nos EUA), ela disse ter perdido de uma hora para outra seu principal incentivador. Pensou em desistir.
King dirigiu cinco horas para apoiar a amiga no velório e passou a ir buscá-la todos os dias para garantir que ela treinaria para estar em Tóquio.
“Tem sido uma montanha russa desde então. Ainda estou de luto pela pior coisa que já me aconteceu, enquanto passava pela melhor parte da minha vida até agora, que é o processo de se classificar para as Olimpíadas e entrar na equipe. Nada te prepara para isso. Mas eu tive sorte de ter meus companheiros que estiveram ali para tudo que precisei”, completou.
A história serve para mostrar que as aparências podem enganar. O time americano da natação tem sido visto algumas vezes, por pessoas envolvidas na natação olímpica, como arrogante. Os nadadores foram acusados de não comemorarem direito medalhas que não fossem a de ouro. Quase nunca dão entrevistas na zona mista, a área reservada para a imprensa internacional.
King chegou a dizer que o país ganharia todas as provas individuais, mas descartou a polêmica. Qualifica que sua declaração foi distorcida. Ela chamou a acusação de não celebrar de “baboseira”.
Para as nadadoras, o abraço no final, aplaudido por quem estava no local e comentado nas redes sociais, significou que no meio de um ambiente tão competitivo como os Jogos, há algo mais.
“Deu muita paz para nós apenas por saber que todos os outros ali [nos 200 m] são boas pessoas. Fez com que eu me sentisse em paz com qualquer coisa que aconteça”, definiu Annie Lazor.