TÓQUIO, JAPÃO (FOLHAPRESS) – O corte às vésperas de uma Olimpíada é um grande baque na vida de um atleta.
Camila Brait, Tandara e Roberta, pela seleção feminina de vôlei, e Isac, pelo time masculino, chegaram bem perto de ir aos Jogos do Rio-2016. Ao longo daquele ciclo de preparação, participaram de amistosos e competições, mas não foram relacionados para a competição. No vôlei, apenas 12 atletas podem ser convocados, e a concorrência entre brasileiros, tidos como potência na modalidade, é bastante acirrada.
Por isso, a oposto Tandara e a líbero Brait, hoje pilares da equipe, tiveram de se reinventar e ganharam força com a maternidade. Titular em boa parte do ciclo de 2016, Brait, 32, perdeu a vaga para Léia, que se destacou no Grand Prix –torneio que deu lugar à Liga das Nações–, último torneio antes da Olimpíada.
Pior: ela já havia vivenciado o mesmo drama para Londres-2012. Na ocasião, foi desligada a três semanas de a competição começar na capital inglesa, e o técnico José Roberto Guimarães optou por Natália, que se recuperava de lesões. Frustrada, Brait chegou a anunciar a aposentadoria da seleção, aos 27 anos, mas retornou ao time em agosto de 2019 depois de ter recusado três convites do treinador.
“Depois que fui mãe, achei que a minha história na seleção tinha acabado, por ver os perrengues da Jaqueline, da Tandara. Imaginava que não teria suporte emocional [para deixar o filho e jogar]”, diz.
Brait deu à luz Alice em novembro de 2017 e, ao aceitar o quarto convite de Zé Roberto, resolveu voltar ao time para presentear a filha com uma medalha. “Imaginava que teria de abdicar de muitas coisas para ficar com a Alice. Com a ajuda dos meus pais, vou realizar meus sonhos, porque ela terá orgulho da mãe.”
Campeã olímpica nos Jogos de Londres-2012, Tandara Alves Caixeta, 32, é titular incontestável em Tóquio, assumindo a posição de Sheilla -medalha de ouro em Pequim-2008 e Londres. Em 2016, diz ela, não estava em sua melhor forma física. “Eu estava voltando da gestação da Maria Clara, fiquei praticamente cinco meses sem fazer atividades, tive que correr contra o tempo para recuperar a forma e o ritmo. Neste ano, a pandemia também atrapalhou um pouco, mas me sinto melhor e mais confiante”, disse a ponteira.
Maria Clara nasceu em de setembro de 2015. Assim como Brait, a ponteira experimentou mudanças após a maternidade. “Hoje, com a minha filha um pouco maior, a gente conversa muito, e ela entende melhor. Fizemos um teste agora com os 37 dias fora de casa, e ela traz uma força a mais”, afirma Tandara.
A curitibana Roberta Silva Ratzke, 31, por sua vez, vai para a sua primeira Olimpíada. Em 2016, a levantadora foi campeã da Superliga e estava em seu segundo ano de seleção. No final, perdeu a concorrência para a experiente Fabíola. “A disputa me ajudou muito a participar deste ciclo, foram cinco anos de altos e baixos, e ser convocada, saber que poderia brigar por uma vaga, me fez acreditar”, diz.
Na Liga das Nações em Rimini, na Itália, ela ficou na reserva, enquanto Macris se consolidava como titular, o que gerou a expectativa de uma nova frustração. A seleção terminou o torneio em segundo lugar, derrotada pelos EUA na decisão. Na semifinal, a equipe brasileira passou pelo Japão, e com boa atuação de Roberta, que saiu do banco de reservas no momento em que as adversárias reagiam na partida.
Ela, então, venceu a disputa com Dani Lins por uma vaga. “Sempre estive sedenta para entrar no jogo. Lógico que foi uma entrada importante, mas não senti que aquilo tinha me garantido. Fiquei até o último minuto esperando a decisão do Zé Roberto”, disse. “A Dani também fez boas partidas, não sei o que ele levou em consideração, fico feliz pela forma como me entreguei nesta Liga das Nações.”
Na seleção masculina, o central Isac Viana Santos, 30, vive a sua melhor fase. Em 2016, ele sofreu com dores lombares e com a concorrência de Maurício Souza, eleito o melhor da Liga Mundial e escolhido por Bernardinho. Lucão e Eder fecharam o trio de centrais.
Agora, sob o comando de Renan Dal Zotto, o Brasil contará com Maurício Souza e Lucão, além de Isac.
“Posso dizer que o que eu mais evoluí foi na minha postura dentro de quadra. Cada vez mais entendi que posso fazer a diferença e que erros e acertos vão existir sempre”, disse. “A postura que adotei, mostrando que posso, sim, fazer a diferença e ajudar a equipe em vários fundamentos foi o principal.”