Chegar para os Jogos Olímpicos como um possível candidato a uma final na natação e sair com a medalha de bronze. Assim foi a passagem de Fernando Scheffer por Tóquio em 2021. Depois de subir pela primeira vez na carreira ao pódio olímpico, o nadador passou a ser visto de outra maneira. A expectativa por bons tempos passou a fazer parte do seu dia a dia ao mesmo tempo em que se tornou referência para os mais novos.
Não há como negar que os olhares agora são outros para Fernando Scheffer. A medalha de bronze nos 200 metros livre em Tóquio faz com que o jovem de 23 anos passe a ser referência e seus movimentos passem a ser vigiados e copiados. “Eu disputei uma competição no começo do ano no Minas e vários garotos mais novos ficavam vendo como eu aquecia, como eu alongava, o que eu fazia de rotina antes de competir. Acredito que isso seja normal e gosto de saber que pode ter atletas mais novos se espelhando no que eu faço.”
Além dos olhos dos mais novos, Scheffer agora tem que lidar com a pressão por resultado. Se antes o nadador era visto como um dos competidores que poderiam chegar em boas marcas, por conta do que vinha construindo na carreira, agora Fernando é esperado nas primeiras colocações de suas provas com bons tempos.
“Assumo que em um primeiro momento, logo depois do ‘boom’ da Olimpíada, eu tive um pouco de preocupação. Bateu aquele pensamento de ‘como que eu tenho que ser agora?’ e ‘o que eu tenho que fazer?’. Mas meu técnico do Minas me ajudou, o clube como um todo na verdade e eu passei a ver de outra forma. Penso hoje que, se existe essa expectativa toda é porque eu consigo estar ali e ter bons resultados, vejo como um incentivo a mais e passei a ver com bons olhos. Eles mostram que acreditam que eu consigo e me fazem querer mais e mais para o futuro.”
Scheffer manteve o ritmo e conseguiu atender as expectativas criadas em 2022. Na disputa do Troféu Brasil de natação, no último mês no Rio de Janeiro, o atleta manteve o ritmo de conquistas e conseguiu índice nos 400m e no 4x200m livre para o Mundial deste ano, que será realizado em Budapeste, em agosto. Além das duas provas, Scheffer também se garantiu na disputa dos 200m livre por ter sido finalista olímpico em Tóquio.
O CAMINHO PARA O PÓDIO
A vida de Scheffer sofreu um divisor de águas por causa dos Jogos Olímpicos de Tóquio. Em sua estreia olímpica, o nadador do Minas Tênis Clube surpreendeu na final dos 200m livre e, mesmo nadando na final com o oitavo melhor tempo, chegou ao pódio com o bronze, a primeira medalha do Brasil na natação naquela Olimpíada. Contudo, segundo Scheffer, a conquista começou a ser concretizada muito antes.
“Eu tive que enfrentar o meu medo para conseguir a medalha na Olimpíada. Eu tenho muito medo do comodismo, de me sentir cômodo em algum lugar, mas também tinha um pouco de medo de sair da casa dos meus pais, no sul do País. Em 2018, o Minas me fez a proposta e a tomada de decisão foi difícil. Mas lembro que percebi que precisava encarar os meus medos e escolhi aceitar a mudança para Belo Horizonte. Hoje, depois de tudo que aconteceu, eu sei que a medalha em Tóquio só foi possível por causa da ida para o Minas. O bronze só chegou porque eu enfrentei os meus medos e consegui crescer com eles.”
Para marcar essa nova fase, Scheffer aproveitou parte do tempo livre após os Jogos Olímpicos para matar a vontade que tinha de se tatuar. Além de ter feito os aros olímpicos, característicos para os atletas que conseguiram participar de uma edição de Olimpíada, o nadador colocou na pele alguns desenhos que representam seu atual momento.
“Eu sempre gostei de tatuagem e aproveitei esse momento para fazer algumas. A Olimpíada e a medalha em Tóquio me mostraram que eu posso sim fazer as coisas que eu quero e sonho. Além dos aros olímpicos, que são especiais, tenho uma frase tatuada. ‘Muito bom é pouco’, que representa esse meu não comodismo com as coisas. Mesmo elas estando boas, podem sim melhorar. Além disso, tenho uma no antebraço esquerdo que é a de um gorila mordendo uma corrente que o prendia, que mostra como eu enfrentei o meu medo e mudei a minha vida.”