O Nova Venécia foi eliminado na segunda fase da Copa do Brasil, mas chamou atenção para o futebol capixaba com uma equipe que tem em sua história mais títulos do que derrotas, e que busca recolocar o Espírito Santo na elite do Brasil. Para isso, conta com “padrinhos” de respeito, como o atacante Richarlison, do Everton e da seleção brasileira, que é natural da cidade homônima do clube. O atacante faz nesta terça com a seleção a última partida das Eliminatórias – falta ainda o jogo que ficou para trás contra a Argentina.
Fundado em abril de 2021 – ou seja, com menos de um ano de existência – o Nova Venécia nasceu do sonho de empresários de colocar o futebol local na elite brasileira. Tão logo passou a integrar as categorias profissionais do futebol capixaba, ganhou autoridade, faturando a Segunda Divisão local com campanha invejável, apenas uma derrota, e conquistando, de forma invicta, a Copa do Espírito Santo, que lhe credenciou a disputar a Copa do Brasil deste ano.
Esse sucesso repentino, claro, passa por um investimento pesado dentro das condições que o Estado oferece. Foi possível através dos empresários que gerenciam a carreira do craque. Eles montaram a estrutura inicial do clube, que conta com um hotel, um centro de treinamento e até mesmo um estádio em construção, como destaca Lucian Velasco, CEO do Nova Venécia.
“Hoje nós temos um hotel, que serve de moradia para os jogadores; o Zenor Pedrosa, estádio onde mandamos nossos jogos, além do nosso CT, onde está sendo construído nosso estádio. Isso fora as outras estruturas que não são propriedade do clube, mas que conseguimos utilizar em benefício dos jogadores, como academia, por exemplo”, explica o diretor.
Segundo Velasco, a ideia é que essa estrutura ofereça a possibilidade de o clube encarar futuros rivais que possam aparecer, sempre subindo os degraus que pode, sem pressa de chegar ao topo. “O objetivo a curto prazo é construir uma estrutura para possibilitar o clube a brigar por títulos em âmbito estadual e buscar um acesso para a Série C do Brasileiro. Não podemos trabalhar com pressa, mas, sim, fortalecer tudo o que construímos até aqui para que o projeto seja duradouro e esteja sempre forte”, completa.
Outro pilar é a captação. O dirigente não quer apenas povoar o clube de jogadores, quer formá-los. “Temos pessoas capacitadas para fazer a captação e monitorar os jogadores da região. Acompanhamos os campeonatos no interior do Estado, em cidades menores e também na capital para descobrir esses jogadores com potencial de brilharem pelo clube nas categorias de base e até no profissional”, aponta.
EMBAIXADOR
Apesar de não fazer um investimento direto, Richarlison se soma ao grupo de apoio. O craque tem um papel ativo na promoção do clube de sua cidade natal em suas tão povoadas redes sociais, o que traz visibilidade e possibilidade de parcerias. Essa atuação também passa por decisões efetivas, já que seu pai, Antônio Andrade, de 45 anos, é o presidente da equipe.
“Eu sou embaixador do clube. Emprestei minha imagem e minhas redes sociais para as ações de marketing com patrocinadores e divulgações que eles precisam. O meu pai é o presidente do clube. Chegou até mesmo a jogar um minuto na final da Série B do Capixaba, realizando um sonho dele e de todos nós. Foi campeão e ajudou a subir para a elite do Estado”, conta o atacante, prestes a confirmar seu nome na lista de Tite para a Copa do Mundo.
Como embaixador, Richarlison vai além de simplesmente promover uma marca. Identificado pelas lutas sociais que encabeça, o atacante sabe que é um exemplo para futuros atletas da região, sejam aqueles que forem captados para a estrutura de formação do clube ou mesmo somente seguirem torcendo pelo craque e pelo Nova Venécia.
“É uma grande responsabilidade, porque é um Estado muito rico de jogadores, que tem bons talentos, mas que precisam de oportunidades. Acho que isso é o mais importante. Eu já estava no limite quando fui aprovado no América. Se não tivessem notado que eu poderia ser um jogador, provavelmente teria voltado para casa e desanimado ainda mais, porque já tinha sido reprovado pelo Avaí e pelo Figueirense. Fui para o América só com o dinheiro da passagem de ida, tinha de passar de qualquer jeito. Acho que esses meninos precisam de alguém que olhe por eles e possam ajudá-los nesse processo. Espero que o meu exemplo possa servir de inspiração para todos eles”, afirma o atleta.
Ao ver o trabalho dando resultado no Nova Venécia, Richarlison comemora e vislumbra bons resultados futuros. “Esse trabalho de base está começando a dar frutos. A região de Nova Venécia e o Espírito Santo todo têm muitas crianças que jogam bola, muitos bons jogadores e eles precisam de oportunidade. O clube tem só 11 meses, mas tenta dar oportunidades para a molecada do próprio Estado, para que possam se desenvolver e formarmos jogadores e, mais importante ainda, cidadãos”, completa.
VOLTA À ELITE
A última vez que um clube capixaba esteve na Primeira Divisão do futebol brasileiro foi em 1987, quando o Rio Branco integrou o Módulo Amarelo da polêmica Copa União. À época, ficou na décima colocação em um torneio com 15 clubes. Ainda que a campanha não fosse das piores, a equipe não voltou a figurar no primeiro escalão na temporada seguinte, sendo 1987 a última participação do Estado nesse recorte. A oportunidade mais real de acesso à Série A ocorreu em 1998, quando a Desportiva Ferroviária terminou na terceira colocação da Segunda, caindo no quadrangular final para o campeão, Gama, e para o vice, Botafogo-SP.
Ainda que distante, Richarlison, seu pai e empresários não escondem o sonho de ver o clube capixaba na elite nacional. O trabalho é árduo, mas o craque até costuma brincar que sonha em encerrar sua carreira no time, quem sabe usando a camisa 10 e com a faixa de capitão no braço. “Já pensou? (Risos) Seria o melhor dos mundos, mas o clube ainda está começando sua trajetória e precisamos ter paciência para que tudo se desenvolva no seu tempo. Se puder chegar tão alto assim, melhor ainda. Mas seria muito fera poder terminar a carreira no time que leva o nome da minha cidade”, disse ao Estadão.
Sobre pendurar a chuteira e vestir o terno, como presidente do Nova Venécia, tal qual seu pai, Richarlison desconversa. “Ainda é muito cedo para pensar nisso, o clube está em boas mãos, mas se precisarem de ajuda, sempre estarei à disposição.”