De olho na classificação para os Jogos Olímpicos de Inverno, que serão disputados em Pequim, entre 4 e 20 de fevereiro do próximo ano, a seleção brasileira de bobsled vai reforçar sua preparação nos Estados Unidos. O grupo, de seis atletas, está em Lake Placid para finalizar a preparação para as competições que garantem pontos no ranking.
A presença na pista nos EUA é fundamental para os brasileiros. Até porque o bobsled é uma modalidade que é praticada em pistas de gelo, nas quais um trenó moderno desce a mais de 150 km/h. Quando estão no Brasil, os atletas treinam o push, que é a largada do bobsled, em um trilho no seco que simula o esforço para fazer o veículo acelerar. Usam a pista de São Caetano.
O bobsled ganhou fama em um filme de 1993 chamado Jamaica Abaixo de Zero. O enredo traz uma história baseada em fatos reais de quando o time jamaicano foi participar dos Jogos de Inverno. Os atletas dos países de inverno rigoroso olhavam para eles com ar de espanto e superioridade. A cena já ocorreu com brasileiros.
“Eu entrei em 2015 na seleção. E teve uma coisa que ficou marcada. Em fevereiro de 2016, estávamos na Áustria e na hora do café da manhã um atleta da Inglaterra brincou quando viu a gente e falou: ‘Jamaica!’ Aí entramos na competição e ganhamos deles. Atualmente já olham para a gente com mais respeito, o pessoal entende que somos competitivos. Teve essa mudança”, diz Erick Vianna, que largou o atletismo para ser um dos melhores do País no bobsled.
Ele lembra que a equipe melhorou nos últimos anos e até por isso o grupo já está se aperfeiçoando em detalhes, como observar a questão do gelo ou estudar as lâminas do carro. “O time está mais forte e mais organizado. Somos bicampeões da Copa América, mas a gente sabe que o nível é alto. São 28 vagas para os Jogos e vamos atrás de uma delas.”
VETERANO EM OLIMPÍADA – Erick conta com a experiência do piloto Edson Bindilatti. Aos 42 anos, ele esteve em todas as edições olímpicas que o Brasil garantiu presença no bobsled e tenta a quinta participação. É ele quem dirige o trenó nas perigosas curvas. Precisa ter habilidade.
Por causa da pandemia, o grupo deixou de viajar e ficou treinando no Brasil, onde não “teve inverno” em 2021. “A gente só treinou e não tivemos chance de competir neste ano. Não pudemos entrar em nenhum país. Obviamente isso tem um impacto, mas nos mantivemos treinando. Fizemos várias testes com todo o time e reativamos nossa pista de largada”, conta.
A qualificação olímpica passa pelo ranking mundial e todas as disputas contam pontos. Então os brasileiros vão competir na temida pista de Whistler, no Canadá, considerada uma das mais velozes do mundo e famosa por “quebrar” capacetes dos atletas. Depois, disputarão provas em Park City e Lake Placid, ambas nos EUA. A meta é garantir matematicamente a vaga nesses eventos da Copa América.
Entre as modalidades da Confederação Brasileira de Desportos no Gelo (CBDG), o bobsled é a que mais conseguiu classificação olímpica. Além de Erick Vianna e Edson Bindilatti, integram o time Rafael Souza, Jefferson Sabino (que disputou os Jogos Olímpicos de Verão em Pequim pelo atletismo) e Luís Henrique Bacca Gonçalves. Um deles será cortado. O bobsled tem quatro atletas e um reserva.
Segundo Matheus Figueiredo, presidente da CBDG, o Brasil tem boas chances de garantir vaga no bobsled. “A confederação foi fundada em 1996, mas somente a partir de 2013 começamos a ter projetos para todas as oito modalidades olímpicas no gelo. Temos 200 atletas filiados e 800 praticantes. Em São Paulo, a Arena Ice Brasil virou o Centro de Treinamento”, diz Matheus.