Se nos esportes coletivos mesclar experiência e juventude, muitas vezes, é sinônimo de sucesso, o esqui cross-country feminino do Brasil está no caminho certo. Na estreia das mulheres brasileiras na modalidade nos Jogos Olímpicos de Inverno de Pequim-2022, na China, nesta terça-feira, Jaqueline Mourão, de 46 anos, e Eduarda Ribera, de 17, disputarão a prova de Sprint, a partir das 5 horas (de Brasília), no Centro Nacional de Esqui Cross-country, em Zhangjiakou. A competição será um bom aperitivo para as outras duas provas que elas ainda disputam nesta edição da Olimpíada.
“Essa prova não é minha especialidade, apesar de ser no estilo que eu mais gosto que é o skating. Vai ser uma prova para quebrar o gelo, pra começar os Jogos. É uma boa oportunidade, já que em Jogos anteriores eu só tinha uma prova e agora vão ser três. Essa primeira vai ser para ver para ver como é a rotina de provas, analisar o esqui, a pista, o condicionamento físico”, disse Jaqueline Mourão, prestes a carimbar a sua oitava participação em Jogos Olímpicos, somando as edições de verão e inverno.
“Estou bem ansiosa para essa estreia, mas quero dar o meu melhor. O Sprint é minha prova favorita e estou trabalhando para me sentir bem tanto fisicamente quanto tecnicamente durante a competição. Quero dar tudo o que eu tenho, me esforçar ao máximo e terminar muito feliz com o resultado”, disse Eduarda Ribera.
Duda comemorou o fato de ter uma atleta com oito participações olímpicas no currículo como uma espécie de tutora em sua estreia em Jogos Olímpicos. “É uma experiência única. A Jaqueline me ajuda muito com tudo que ela viveu e, por isso, é muito bom estar na competição com ela. Ela é um exemplo pra mim e, em 2026, pretendo estar no nível dela”, projetou a jovem.
As duas também disputarão o 10km Clássico Individual e o Sprint Por Equipes, prova em que o Brasil estará representado pela primeira vez. Para se classificar, o país ficou na 25.ª colocação do Ranking de Nações da Modalidade. O desempenho também permitiu que a delegação brasileira tivesse três atletas no esqui cross-country, fato inédito, e isso fará com que a modalidade, no geral, no masculino e no feminino, bata o recorde de largadas em Jogos Olímpicos. A evolução do esqui cross-country ao longo dos anos é visível pra quem esteve presente nos últimos cinco Jogos Olímpicos de Inverno.
“Na minha opinião, é a equipe mais forte que o Brasil já trouxe para os esportes de gelo e neve e fico muito feliz de ver a evolução que o Brasil apresentou nos esportes de inverno. Lá em Turim 2006, eu estava competindo com três meses de esqui. Foi muito aprendizado. Sair desse clichê de país exótico, sem neve, para me tornar uma atleta de nível internacional. Sempre busquei isso. Não quero estar aqui por ser do Brasil e foi um processo muito bom de provar que podemos”, analisou Jaqueline.
Sobre a disputa por equipes, a expectativa é apostar no fôlego da juventude e na estratégia de quem tem mais de 15 anos na modalidade, quase a idade da companheira de prova. “É uma prova super emocionante. Tive a chance de correr com a Bruna (Moura) no Mundial. Eu devo largar, a Duda faz a segunda perna e, cada uma faz três voltas. É um circuito muito duro. Então, vamos ver se a tática dá uma força pra gente”, analisou, Jaqueline, citando a atleta que acabou sofrendo um acidente automobilístico na Itália pouco antes da viagem para a China e se recupera bem, mas teve que ser substituída na delegação.
“A Bruna me faz viver montanha russa de emoção desde quando a conheci. Temos conversado bastante. A primeira coisa que ela falou após o acidente foi ‘Jaque, você tem que continuar até 2026 pra gente correr junto’. Estou mandando energia positiva pra ela se recuperar o mais rápido possível. Todo mundo ficou muito triste com o acidente e nosso coração está com ela. Ainda vamos nos ver pelas pistas do mundo”, disse Jaqueline.
Além de Bruna, Duda cita outra pessoa a quem dedica essa participação nos Jogos Olímpicos, ao seu irmão Christian Ribera, vice-campeão mundial no esqui cross-country paralímpico, e que também disputará Pequim-2022. “Tenho certeza que minha mãe deve estar muito orgulhosa de nós dois. Quero muito que ele aproveite as oportunidades dele, que ele continue sendo esse cara batalhador, que inspira as outras pessoas em tudo. É uma sensação única, eu não sei nem como dizer, estar nos Jogos junto com ele que foi quem me mostrou o esporte”, contou.
Em termos de posição final, os melhores resultados do Brasil na modalidade são de Franziska Becskehazy, nos 10km, e Alexandre Penna, nos 50km, ambos em 57.º lugar em Salt Lake City-2002, nos Estados Unidos. Mas como o número de atletas era menor em 2002, é preciso analisar os pontos FIS. Nesse caso, os melhores desempenhos, no Distance, são de Jaqueline Mourão e Leandro Ribela em Vancouver-2010, no Canadá, com 172,88 e 238,02, respectivamente. Os dois também possuem a melhor pontuação no Sprint, ambas em Sochi-2014 (Rússia), com 242,73 para Mourão e 303,93 para Ribela.