Quando pequeno, Moacir era um corintiano fanático – há quem diga que todo corintiano é fanático. Mas não é por isso que ele disse à reportagem que o Palmeiras precisava ficar atento contra o Emelec, pela Copa Libertadores, em confronto no fim de abril. “O Emelec sempre joga bem contra times brasileiros aqui em Guayaquil”, assegurou Moacir Claudino Pinto, que completou 86 anos nesta quarta-feira e foi o reserva de Didi na histórica campanha da Copa do Mundo de 1958, na Suécia, quando o Brasil conquistou seu primeiro campeonato mundial.
“Eu sei da força que o Palmeiras tem, tenho acompanhado os jogos daqui e sei que o time é atualmente o melhor ao lado do Atlético Mineiro”, acrescentou o ex-jogador, que mora na cidade equatoriana, a meia hora do campo que fica no Parque Centro Cívico e tem capacidade para 40 mil torcedores.
“Eu até gostaria de ter ido ao jogo (vitória do Palmeiras por 3 a 1), mas não vou nem de brincadeira por conta da covid-19. Aqui ainda usamos máscaras e eu evito ambiente de aglomeração”, comentou o ex-meia que tentou jogar no Corinthians e no São Paulo, mas acabou tendo uma chance no Flamengo, por indicação do diretor da casa de amparo a crianças de rua, onde passou sua infância, na cidade de Osasco.
“Eu era fã do Zizinho, do Cláudio, Luizinho e do Baltazar, mas acabei no Rio de Janeiro, onde me tornei flamenguista. Pena que meu time hoje joga uma partida bem, depois joga outra mal. O meu Flamengo parece um elevador: sobe e desce”, brinca. No dia 18, ele completa 86 anos. Moacir é um dos seis jogadores vivos daquela Copa do Mundo de 1958. Os outros são Pelé, Zagallo, Pepe, Dino Sani e Mazzola.
Foi como revelação do Flamengo em 1957, que ele despertou atenção do técnico Vicente Feola, que convocou os rubro-negros Joel, Moacir, Dida e Zagallo. “Quando saiu a convocação para a seleção já em 1958, eu não me apresentei. Não acreditava que podiam ter me chamado. Estava treinando na Gávea, quando chegou um dirigente da antiga CBD querendo saber por que eu não tinha me apresentado com os demais jogadores. E eu perguntei: ‘sou eu mesmo?'” Era.
O pequeno Moacir chegou à seleção com seu 1,60m de altura, pesando 56 quilos e com 21 anos. “Meu apelido entre os jogadores era jóquei, porque eu tinha o corpo e o tamanho dos jóqueis das corridas de cavalo. Imagina só, eu daquele tamanho enfrentando no Maracanã um Bellini, com seu 1,80m de altura, com sua força física. Mas eu enfrentava. Queria ser melhor que todos. Não queria ser nem igual. Queria ser melhor”.
Ele só não jogou na Copa do Mundo da Suécia porque Didi era um monstro sagrado da equipe. Ainda assim, Moacir participou de alguns amistosos antes do embarque para a Europa. Formou em um ataque de sonhos ao lado de Garrincha, Mazzola, Pelé e Canhoteiro (que acabou dispensado). “Canhoteiro deixava os laterais adversários em dificuldade. Driblava muito. E como tocava violão… Eu me diverti muito com ele.”
No dia 18 de maio de 1958, a seleção brasileira enfrentou a Bulgária no Estádio do Pacaembu. “Rapaz, como fomos vaiados quando entramos em campo naquele dia. A torcida dizia que tinha muito jogador do Rio de Janeiro no time. Mal sabiam que eu era de São Paulo, que tinha tentado jogar no Corinthians, mas nem me deixaram participar da peneira. Nem no São Paulo. Mas com o jogo em andamento, viram que a turma era boa. Neste dia, eu fiz dois gols. Um deles de pênalti. Estava com moral. Falaram ‘vai bater’, e eu bati. Dois gols, no dia do meu aniversário de 22 anos.”
Depois daquela Copa na Suécia, do título e da conquista da Jules Rimet, Moacir ainda ficou mais dois anos na seleção brasileira até que iniciou sua viagem pela América do Sul. “Acreditem: joguei no grande River Plate e no Peñarol antes de vir para o Equador.”
Por isso, Moacir pode opinar como poucos sobre a Copa Libertadores e seus segredos. No River Plate, ele jogou com o goleiro Carrizzo e com o zagueiro Ramos Delgado, duas lendas do clube de Buenos Aires. “Nosso ataque foi o único da história do River que não tinha nenhum argentino. Era formado pelo uruguaio Domingos Perez, eu, o espanhol Pepillo e ainda os brasileiros Delém e Roberto”. No Peñarol, o ataque era de cinema. “Abadia, eu, Sacia, Spencer e Joya.”
Poucos na atualidade sabem a história desses jogadores do passado, assim como poucos conhecem a história do próprio Moacir, que já esteve ao lado de Pelé e Garrincha e ostenta a façanha de ter participado da primeira campanha vencedora do futebol brasileiro em Copas. Em sua andanças pela América do Sul, Moacir também vestiu a camisa do Everest e do Barcelona de Guayaquil. Terminou a carreira no Carlos Manucci, do Peru.