Quem viu aquela menina mirrada ter o primeiro contato com o basquete em uma praça de Padre Miguel, zona oeste do Rio de Janeiro, não imaginava que ela poderia ir tão longe. Chegou ao projeto do professor Rogério – conhecido como Tio Preto -, por influência da irmã mais velha. E Thamara acertou em cheio.
Hoje aos 25 anos, Thayná Silva foi eleita MVP (melhor jogadora) da Liga de Basquete Feminino neste ano e faz parte do grupo da seleção brasileira do técnico José Neto. No último domingo, conquistou a medalha de prata na Copa América de 3×3, nos Estados Unidos, resultado que garantiu o País no Mundial da modalidade que deriva do basquete jogado por cinco de cada lado e estreou nos Jogos Olímpicos de Tóquio.
É como receber uma recompensa pelo esforço após passar por inúmeras dificuldades pelo caminho. O basquete, em muitos momentos, se tornou algo distante, pouco palpável. Desistir parecia sempre mais fácil do que o próximo arremesso.
Thayná foi atuar pela equipe da Mangueira aos 13 anos. Ficou lá até o final de 2016 quando, sem time adulto no projeto, ficou desempregada. “Eu estava entregando currículo, precisava arrumar um emprego. Achei que minha carreira tinha acabado”, contou. A ligação de uma amiga e ex-companheira de seleção na base mudou o rumo da história. “A Lays me convidou para ir jogar em São Bernardo. Não pensei duas vezes para colocar o pé na estrada.”
No ABC paulista, Thayná se reinventou como jogadora sob o comando do técnico Márcio Bellicieri. Pela equipe de São Bernardo, a ala terminou como segunda maior pontuadora da LBF de 2018, com média de 19,2 pontos, e foi ainda a mais eficiente da competição, com 20,78 (valor do cálculo dos fundamentos positivos e negativos de um jogador em uma partida).
A carreira, enfim, tomava um rumo positivo. Pintou uma primeira convocação para defender o Brasil. Mas o momento de empolgação não durou muito tempo. As dificuldades começaram com um acidente de moto, em 2019, quando Thayná sofreu um ferimento grande na perna e imaginou que poderia nunca mais andar. Imagina jogar basquete!
MATERNIDADE – Quando ainda se recuperava, ficou grávida. “Não foi planejado, mas não me fez desistir”, afirmou. Pelo contrário. A filha Aylla, hoje com dois anos, serviu de motivação para prosseguir. “Faço por mim e por ela. A minha maturidade veio da maternidade. Ela me fez querer muito.”
Foram quase dois anos sem jogar, apenas com treinos individuais, até entrar em quadra novamente e se destacar pelo Sodiê Doces/Mesquita/LSB. A tão sonhada convocação foi alcançada, participando da Copa América de Porto Rico, em junho deste ano. Na sequência foi chamada para atuar também no 3×3. Em Miami, o momento mais difícil não foi encarar rivais complicadas, como as americanas. Thayná sofre por ficar longe da filha.
“É uma correria que vivemos. Ficar sem conviver com ela é difícil. Às vezes é uma semana, um mês. Ela não quer falar comigo em chamada de vídeo, fica chateada, mas é para o nosso bem. Lá na frente ela vai entender tudo isso”, afirmou.
O próximo passo é ganhar o mundo. Thayná tem como objetivo atuar fora do Brasil, desde que possa levar a pequena Aylla. Mas, claro, sem esquecer aquela praça em Padre Miguel, perto da sua casa. “Qualquer coisa que faço lembro do começo, com o Tio Preto. Nunca pensei que poderia chegar onde estou.”