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EsportesEvaristo de Macedo recorda tetra frustrado do Fla no Carioca-56 e elogia Gabriel

Evaristo de Macedo recorda tetra frustrado do Fla no Carioca-56 e elogia Gabriel

Evaristo de Macedo recorda tetra frustrado do Fla no Carioca-56 e elogia Gabriel

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Parecia que a história iria se repetir. O ano era 1956 e o tricampeão Flamengo mantinha seu timaço. O técnico era ainda o paraguaio Fleitas Solich, também conhecido como o Feiticeiro, o Maestro de um esquadrão afinado. No “expressinho” rubro-negro surgiam jogadores como o meia Moacyr, que acabou sendo uma sombra do Mestre Didi na Copa de 1958.

Não bastasse, o Flamengo contava com os gols de Evaristo de Macedo, um jovem predestinado a ser ídolo e artilheiro. Em um jogo contra o São Cristóvão, já na campanha em busca do tetracampeonato estadual, foi alcançado o maior placar de todos os tempos em campeonatos cariocas dentro do Maracanã: 12 a 2, registrado no dia 28 de outubro, com quatro gols de Evaristo, que na época já era um integrante da seleção brasileira.

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Em casa, Evaristinho era Tinho. No Flamengo, para alguns, ele era o “tenente”, pois servia o Exército e algumas vezes ia aos treinos fardado de verde oliva, como mostra a foto que ele guarda com carinho em seu arquivo particular. Hoje, aos 88 anos, Evaristo se recupera da covid-19 em seu apartamento, no Rio de Janeiro. Ele acompanha tudo o que acontece no futebol brasileiro, especialmente no querido Flamengo de sua época de juventude. Seu filho Pepe conta que o pai foi convidado para ver no campo o jogo contra o Vasco, mas a família sentiu que ainda não era a hora de um passeio tão cheio de emoções. Os familiares sabem que ele está pronto para comemorar o tetracampeonato carioca se realmente ocorrer. Flamengo e Fluminense decidem o Estadual a partir desta quarta-feira.

Evaristo acha que o time atual de Arrascaeta e Gabriel vai conquistar, sim, o tetracampeonato que escapou de suas mãos na década de 1950, quando o Brasil já havia perdido uma Copa do Mundo em casa e ainda não tinha nenhuma outra conquista para contar. Era 1956, quando o Vasco interrompeu a série flamenguista e foi o campeão carioca, com Belini, Orlando Peçanha, Sabará, Vavá, Pinga…

“O Vasco tinha um grande time, mas nosso ataque era mais veloz”, recorda Evaristo na conversa com seu filho. Na década de 1950, o Flamengo tinha conquistado o tricampeonato de 1953, 54 e 55, com um time que tinha Joel, Rubens, Paulinho, Índio, Dida e Zagallo. O título de 1955 foi festejado numa série final épica contra o América de Alarcon em jogos disputados já em abril de 1956, logo após a posse de Juscelino Kubitschek na presidência da República.

“Era o Rolo Compressor”, conta Pepe, que ajudou o pai a recordar essas histórias que compõem uma carreira memorável, desde o Madureira, passando pelo Flamengo e seleção brasileira até chegar ao Barcelona e Real Madrid – onde Evaristo conseguiu a façanha de ser ídolo das duas torcidas.

Aliás, no último dia 23, Evaristo comemorou mais um feito de sua caminhada esportiva: o aniversário de 65 anos de um recorde que perdura até hoje. Os cinco gols marcados contra a Colômbia, na goleada de 9 a 0, que a seleção brasileira aplicou no adversário em Campeonato Sul-Americano realizado em Lima. Até hoje ninguém igualou esse feito, nem o Rei Pelé.

“Naquele dia não fiz mais do que a obrigação e poderia ter feito mais gols”, disse Evaristo, lembrando que a seu lado no ataque estavam Joel (substituído por Cláudio), Zizinho, Didi e Pepe (substituído por Garrincha). “Com essa turma me servindo, ficou bem mais fácil”, confessa o recordista, que guarda uma foto da seleção brasileira que jogou aquele dia contra os colombianos. O Estadão se valeu do filho de Evaristo para conseguir a entrevista baixo.

Como foi esse jogo dos cinco gols no dia 23 de março de 1957?

A equipe brasileira era muito boa. E jogando ao lado de Didi e Zizinho e tendo nas pontas o Joel e o Pepe ficou bem mais fácil fazer os cinco gols. Eu poderia ter feito mais ainda. Eu fico feliz com esse recorde. E espero que ninguém bata, porque aí de cinco em cinco anos sempre lembram de mim e falam de minha história. E aí ninguém me esquece.

E os quatro gols marcados no São Cristóvão na goleada por 12 a 2 em 1956?

É a maior goleada acontecida no Maracanã em jogos do Campeonato Carioca, não é? Eu não lembro direito dos gols, mas sei que o nosso time jogou com raiva. A gente fazia os gols e queria mais. Na partida anterior, eu acho que teve briga ou alguma provocação do time do São Cristóvão e aí deu nos 12 a 2.

É verdade que essa turma do Flamengo era muito unida e ia até assistir aos jogos preliminares dos aspirantes?

Verdade. Essa foi uma grande sacada do técnico Fleitas Solich. Na partida dos aspirantes, jogavam não somente os novatos, mas também aqueles jogadores que estavam voltando de contusão. Então a gente ia lá torcer, chegava mais cedo e isso uniu ainda mais o nosso grupo. A gente ia dar uma força para os companheiros.

E qual era o segredo do time tricampeão carioca de 1953, 54 e 55?

Um dos segredos mesmo foi que o Fleitas Solich foi montando o time do jeito que ele queria. Ele tinha carta branca do presidente Gilberto Cardoso para trabalhar e fazer indicação de jogadores. Eu mesmo era do Madureira e fui para o Flamengo. O time foi sendo ajustado e chegou no estágio melhor em 1955. Era realmente um grande time. E o Don Fleitas era um técnico à frente do seu tempo.

Por que o tetra escapou do Flamengo e o Vasco chegou ao título?

Eles tinham, sim, um bom time, embora eu ache que o nosso ritmo, o nosso ataque fosse mais veloz. Foi um campeonato duro. Acontece que tínhamos vários jogadores na seleção brasileira: o Joel, o Moacyr, o Índio, eu. O Zagallo não era tão chamado. Só depois que o Osvaldo Brandão foi substituído pelo Vicente Feola. A verdade é que às vezes jogamos desfalcados. E vou falar aqui mais uma coisa: o Fleitas Solich já não exibia o mesmo entusiasmo no comando da equipe. Acho que naquele momento queria sair. Isso nos atrapalhou também. Foi uma pena!

E agora, será que desta vez o tetra vem?

Eu acho que o time atual tem tudo para ganhar o campeonato desta vez. E chegar ao tetra. O Flamengo está melhor estruturado que os demais. Passou pelo Vasco e vai pegar o Fluminense na final. Mas em campo tudo pode acontecer. Eu confio no Flamengo, mesmo não tendo a vantagem do empate.

De quem você gosta mais no Flamengo?

Como fui atacante e gostava de fazer gols é natural que goste do Gabigol. É um excelente jogador, sabe finalizar, tem sorte, é forte e de vez em quando até parece que está meio sumido no jogo, mas não está, não: está procurando espaço, procurando alguma brecha para que ele possa entrar na área e aproveitar uma oportunidade. E ele sabe criar também. Além disso, está marcado para sempre na história do Flamengo pelos dois gols marcados contra o River Plate, na final da Libertadores. Um feito que ninguém vai esquecer. E ele não fez aqueles gols à toa: ele tem técnica, tem habilidade. Estava no local certo, na hora certa, e essa é a grande diferença de um grande atacante.

O que você acha da importância dos técnicos portugueses no futebol nacional?

Essa influência toda é relativa. Primeiro, que os técnicos portugueses vêm para clubes grandes que tem dinheiro, que tem bons jogadores. Será que em um clube mediano o trabalho vai aparecer tanto? Aí eu acho que o técnico vai mostrar realmente sua competência. Mas sem sombra de dúvidas, você trazer um ou outro treinador de fora é sempre saudável. São novos métodos. Por exemplo, o Jorge Jesus no Flamengo trouxe outras práticas, outras exigências. Imprimiu disciplina e concentração europeias. Coisas que se um técnico brasileiro faz, acaba sendo cobrado. Eu mesmo era rígido nessas questões, quando fui técnico. E falavam que eu era muito exigente. Mas eu queria empenho, disciplina dentro e fora do campo, queria que meus jogadores sentassem para comer, se comportassem na concentração, agradecessem à torcida e esse é um formato europeu que eu trouxe comigo da Espanha. E deu certo na minha carreira.

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