TÓQUIO, JAPÃO (FOLHAPRESS) – Fabiana Silva, 32, poderia ter sido atleta olímpica da vela. Morava em Niterói, cidade que ela chama de celeiro de velejadores, e fazia parte do Projeto Grael, idealizado por Torben e Lars Grael. Seu pai acreditava tanto no potencial da filha que se esforçava para financiar as viagens para competir em outros estados.
Entretanto, à 0h40 (de Brasília) desta segunda-feira (26), ela vai estrear nas Olimpíadas de Tóquio em outra modalidade, bem distante da vela. Fabiana enfrentará a ucraniana Maria Ulitina no badminton.
“Ainda gosto de vela. Quando vou a Niterói e tenho chance de velejar, me candidato na hora. Foi o esporte em que comecei, só fui conhecer o badminton quando tinha 13 anos. Mas foi a modalidade que me cativou, não sei nem explicar. Tive a chance de fazer o que gosto. Tenho amor pelo badminton”, afirma.
Duro foi explicar para o pai, Reginaldo, que a garota havia decidido trocar a vela pelo esporte que ele conhecia apenas como peteca. O estalo para a troca veio num dia de calmaria, quando não havia vento, e um instrutor do Projeto Grael resolveu pegar as raquetes que tinha no porta-malas do carro para os alunos jogarem. Fabiana nunca mais parou. Quando teve de escolher entre um ou outro, não teve dúvidas.
“Sempre fui muito persistente. Quando disputei o meu primeiro campeonato nacional e vi os melhores do país jogando, disse para mim mesma que queria ser a melhor do país. Quando vi as meninas da seleção, coloquei na cabeça que tinha de estar lá. Por isso também tomei a decisão de sair de casa”, diz ela.
Assim que terminou o ensino médio, aos 17 anos, Fabiana comunicou aos pais que deixaria de viver com eles para perseguir o objetivo de se tornar uma atleta olímpica. Morou em Porto Alegre, local de treinos da seleção, em São Paulo e hoje vive em Campinas, onde atua pelo Clube Fonte São Paulo.
Após ficar na reserva na Rio-2016, ela enfim terá a chance de jogar. Mais: será a única representante feminina do Brasil na modalidade. No masculino, Ygor Coelho está classificado.
A conquista da vaga em Tóquio foi angustiante. A jogadora esperava consegui-la por meio da pontuação em torneios classificatórios na Guatemala e no Peru. Devido à Covid, no entanto, a entrada de brasileiros nesses países foi proibida, e os resultados com os quais ela contava para se classificar evaporaram.
No final, o Brasil teve direito a duas vagas nas Olimpíadas no país asiático, e Fabiana foi convocada pela Confederação Brasileira de Badminton para participar da competição. “Quando saiu a confirmação do meu nome foi um sentimento que não sei descrever. Deixou tudo com um sabor melhor.”
A projeção realista da própria atleta é ganhar um dos dois jogos que disputará na fase de grupos. A maior possibilidade é na estreia, nesta segunda, contra Ulitina, da Ucrânia. A outra integrante do grupo é a americana Beiwen Zhang, cabeça de chave número 11. Para avançar às oitavas de final, terá de ficar em primeiro. “Olimpíadas são difíceis, e a fase de grupos, também. Meu objetivo é representar o Brasil da melhor maneira possível. A classificação não foi fácil, foi conturbada. Não consegui jogar vários torneios.”
Assim, estar no Japão é uma conquista para a menina que saiu de casa por causa do badminton. “Fui eu quem deu a notícia para o meu pai que eu havia me classificado para as Olimpíadas. Ele ficou radiante.”