TÓQUIO, JAPÃO (FOLHAPRESS) – Os irmãos Macedo perseguiam uma vaga para disputar o judô nas Olimpíadas de Tóquio. João Pedro, 28, buscou a classificação na categoria até 81 kg. Não deu. Rafael, 26, teve sorte melhor.
O mais velho virou conselheiro do caçula, que irá representar a família no Japão.
“Não tem como não ficar chateado por ele. A gente já viveu muita coisa junta no esporte. Mas faz parte”, afirma Rafael, que na noite desta terça-feira (27) concorrerá a uma medalha na trupe até 90 kg.
Ele estreia contra Islam Bozbayev, do Cazaquistão. O combate está marcado para às 23h (de Brasília). O plano inicial era que ele estivesse ao lado do João Pedro, que lutaria na segunda-feira (26), na vaga que ficou com Eduardo Santos (até 81 kg).
“A gente se ajuda muito nos treinos. Ele não se classificou por pouco, mas isso não o abalou tanto assim. Está me auxiliando bastante e, se fosse o contrário, seria igual”, explica o atleta da Sogipa (Sociedade de Ginástica Porto Alegre).
Rafael chegou a pensar que não chegaria a vez de nenhum dos dois. Imaginou que os Jogos poderiam ser postergados de novo por causa da pandemia da Covid-19 e achou que seria muito azar.
“Quando escutei que tinha sido adiado por um ano, a única coisa que pensei foi: ‘Pô, justamente na minha vez?”, lembra.
Um dos conselhos que recebeu do irmão foi o de encarar a competição olímpica da mesma forma de quando começaram no esporte pelas mãos do pai, em São José dos Campos (interior de São Paulo): como diversão.
Jefferson colocou os filhos para começar cedo. Rafael tinha quatro anos. O pai não permitia que eles faltassem treinos por preguiça, mas não exigia resultados em competições. Na rivalidade entre eles e nos torneios que passaram a disputar, Rafael e João Pedro perceberam que a modalidade havia deixado de ser uma brincadeira.
Aos 15 anos, ao se mudar para São Paulo, Rafael pensou pela primeira vez em Olimpíadas.
“Percebi que, no futuro, era possível me classificar. Agora que estou no Japão, quero que o resultado seja consequência da minha performance. Estou tranquilo e quero me sentir bem, fazendo o que eu gosto e me divertindo”, diz.
O caçula hoje reconhece que sair da casa dos pais aconteceu, em parte, por causa do sonho olímpico. Era o primeiro passo. No ano seguinte, em 2013, João Pedro foi contratado pela Sogipa. Pouco depois, o irmão foi atrás.
Rafael já teve um gosto do que são as Olimpíadas. Na Rio-2016, fez parte do Vivência Olímpica, programa criado pelo COB (Comitê Olímpico do Brasil) que dá chance para jovens atletas conhecerem o ambiente dos Jogos. Isso só aumentou seu desejo de se classificar. “É algo maravilhoso. Um momento diferenciado na vida de qualquer atleta”.
Na hora de analisar seus combates e dizer o que tinha de melhorar, João Pedro apareceu de novo para aconselhar o irmão mais novo. Para Rafael, era importante escutar uma opinião de fora e de alguém em quem ele confiava cegamente.
E uma das conversas foi sobre a baixa expectativa que especialistas projetavam para a equipe olímpica no judô. Opiniões que Rafael acompanhou e viu cair por terra no bronze conquistado por Daniel Cargnin na categoria até 66 kg. O raciocínio do judoca é: por que não pode acontecer de novo?
“Esporte de luta, quando você está no seu dia, não tem quem segure. Você pode escutar ou ler alguma coisa que não gosta. Olimpíadas são Olimpíadas. A gente já viu muitos casos de atletas que não eram favoritos e chegaram ao ouro”, afirma. Quem sabe não é o próximo.