TÓQUIO, JAPÃO (FOLHAPRESS) – Vinte e quatro horas após a medalha de Mayra Aguiar, o judô brasileiro viveu seu dia mais frustrante nas Olimpíadas de Tóquio. Derrotado no masculino, Rafael Silva, o Baby, perdeu a chance de chegar ao terceiro pódio olímpico na categoria acima dos 100 kg.
Maria Suelen Altheman (mais de 78 kg) sofreu séria contusão no joelho ao ser derrotada pela francesa Romane Dicko. Teve de ser retirada do tatame de maca. Exame realizado horas depois constatou lesão no ligamento patelar da judoca. Ela deverá ser operada quando chegar ao Brasil.
Os dois estavam escalados para competir na madrugada deste sábado (31, horário de Brasília) na disputa por equipes, novidade na programação olímpica. O Brasil começa nas quartas de final e enfrenta o vencedor do confronto entre Holanda e Uzbequistão. Se ganhar, já estará na semifinal. A possibilidade de medalha é real.
A lesão de Maria Suelen deve fazer com que Mayra Aguiar seja colocada para lutar fora da categoria em que ganhou o bronze no Nippon Budokan (até 78 kg). A questão ainda não está definida porque há a possibilidade de o Brasil entrar na disputa com uma atleta a menos.
“Mayra vai ter de usar a velocidade, as dinâmicas de troca de pegada para entrar na frente dos adversários”, disse Baby para explicar que a colega terá de se movimentar mais e tomar a iniciativa.
A decepção maior ficou para Maria Suelen que, em entrevista, antes dos Jogos, havia afirmado ter vivido seu último ciclo olímpico. A atleta de 32 anos quer ser mãe.
Depois de vencer a tcheca Anamari Valensek, que recebeu três punições, ela avançou às quartas de final, na qual sofreu a queda diante da francesa e a lesão que, desde o primeiro segundo, passava a impressão de ser grave. Ela não se mexeu no tatame e foi atendida pelos médicos do ginásio.
Mesmo com a derrota, ainda poderia lutar pelo bronze. Foi o caminho feito por Mayra Aguiar para subir ao pódio. Mas a CBJ (Confederação Brasileira de Judô) logo avisou que a judoca não tinha condições de seguir adiante no torneio.
“Esse tipo de lesão acontece quando a atleta faz o movimento de esticar a perna enquanto está sofrendo uma outra força, no caso da adversária, para dobrar a perna”, explicou Guilherme Gatofo, médico da CBJ.
A única alternativa de medalha passou a ser Rafael Silva. Ele estava acostumado a isso. Subir ao pódio em Tóquio o faria se igualar a Mayra e ser o maior judoca olímpico brasileiro. Em Londres-2012 e Rio-2016 havia conquistado o bronze.
“Seria uma competição difícil. Sabia que teria muita dificuldade com o georgiano. Vinha de um histórico não muito bom contra ele”, constatou Baby.
O georgiano era Guram Tushishvili, contra quem fez a luta nas quartas de final depois de passar por Ushangi Kokauri, do Azerbaijão, na primeira rodada. O tipo de adversário que ele temia antes de começar as Olimpíadas. Alguém que era de uma categoria inferior (menos de 100 kg) e subiu para a mesma do brasileiro. Um rival mais ágil e leve.
Apesar de constatar que teria de ser mais veloz para se adaptar, Baby era o competidor de maior peso na sua categoria. Competiu com 180,5 kg.
“Meu peso nas últimas competições foi de 176 ou 175 kg. Tentei ficar mais forte neste final de ciclo [olímpico]. Não presto muita atenção ao peso”, disse.
“A categoria está com vários atletas que subiram e isso muda a dinâmica, sim. Tive de me adaptar a isso, mas com alguns atletas tenho dificuldades.”
O jeito de ser tranquilo de Baby pode ser confundido com desânimo. Mas ele parecia estático demais no tatame, diferente do que pregava ser necessário para vencer uma medalha em sua categoria. Mesmo que fosse para repetir o bronze.
Na repescagem, contra seu antigo algoz, Teddy Riner, o brasileiro perdeu por ippon depois de 43 segundos. Foi a décima derrota dele em dez lutas contra o francês.
Para quase todos os judocas do país que passaram pelo Nippon Budokan nas competições individuais, a pergunta sobre o futuro, o novo ciclo olímpico até Paris, era inevitável. Os casos de Maria Suelen e Rafael Silva são diferentes.
Ela tem outros desejos, mais familiares, em que não há espaço para uma nova edição dos Jogos. Beatriz Souza, 23, sua rival interna na categoria, deverá ser a substituta.
Baby tem a questão da idade. Ele estará com 37 anos em 2024. Isso não torna impossível uma nova tentativa. Ao ouvir que as próximas Olimpíadas estão “a apenas três anos”, ele deu leve sorriso de quem não está tão certo disso. Mas não descartou.
“Se eu pensar nos três anos, fica longe para caramba. Preciso primeiro digerir o que aconteceu aqui e depois pensar com calma”, definiu, com o peito cortado pela unha de um dos adversários e um hematoma no rosto. Resquícios da batalha. “Eu tenho muito orgulho do que fiz até agora, de tudo o que dei pelo judô.”