SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – Tricampeão cearense, líder do Campeonato Brasileiro e classificado às oitavas de final da Copa do Brasil após eliminar o rival Ceará. É inegável o bom momento que vive o Fortaleza na temporada. E o torcedor mais jovem pode se dizer privilegiado de acompanhar essa fase positiva do clube.
O presidente Marcelo Paz, por exemplo, nunca tinha visto a equipe disputar três edições consecutivas da Série A do Nacional. Nascido em 1983, o dirigente não viveu a maior sequência da história do clube na elite, de 1973 a 1979.
Clique aqui e simule os resultados do Campeonato Brasileiro Houve ainda dois períodos de dobradinhas na primeira divisão, o primeiro em 1983 e 1984, o segundo em 2005 e 2006. Passagens breves e com a mesma perspectiva: a luta contra o rebaixamento, nem sempre vencida.
No entanto, desde que subiu com o técnico Rogério Ceni, em 2019, o time tricolor tem conseguido se manter entre os principais do país a ponto de alcançar sua melhor marca na Série A em mais de três décadas. Um desempenho animador, mas que Marcelo Paz evita chamar de consolidação.
“Para que a gente possa consolidar o Fortaleza na Série A, é preciso participar pelo menos cinco anos seguidos [na elite]. O torcedor gosta, está feliz, mas está sempre cobrando. Porque você está na Série A, mas também precisa estar melhor que o seu rival. O bom momento é motivo de satisfação, de orgulho, mas também de muita responsabilidade”, diz o mandatário em entrevista à Folha.
Paz compara o estado do Ceará a outros que dividem torcidas no Brasil, como Rio Grande do Sul, Bahia e Minas Gerais (ainda que o América-MG goste de incomodar Cruzeiro e Atlético-MG).
No ano passado, o Fortaleza terminou o Brasileiro na 16ª colocação, um posto acima da zona de rebaixamento. Além da briga para não cair, viu o Ceará terminar em 11º e conseguir a classificação à Copa Sul-Americana.
Em uma realidade tão polarizada, o sucesso de um é o fracasso do rival.
“Um clube empurra o outro. É desgastante”, reconhece o presidente tricolor.
Na parte alvinegra da cidade, o trabalho de Guto Ferreira, que chegou ao Ceará em março de 2020, é hoje o mais longevo do futebol brasileiro. Ele substituiu Enderson Moreira, que mais adiante trabalharia no Fortaleza.
A pressão da torcida, que se acostumou à estabilidade e à ideia de protagonismo que permeou o trabalho de Rogério Ceni no clube, acabou encurtando a passagem de Enderson pela equipe tricolor.
“Havia uma cobrança do torcedor que o time não atacava, náo jogava bem, que o futebol não era vistoso. A gente foi buscar um profissional que tivesse essas características. Falamos com o Fernando Diniz, mas houve a recusa por parte dele”, diz Marcelo Paz, sobre o treinador que hoje comanda o Santos.
“Queríamos ideias mais modernas, um futebol ofensivo, que gostasse da bola, tivesse variação tática. Surgiu o nome do [Juan Pablo] Vojvoda dentro do departamento de futebol. O perfil nos agradou, porque em outros países ele trabalhou em clubes do porte do Fortaleza, e conseguiu resultados expressivos com esses times. Clubes com orçamentos menores, mas com um bom nível de organização.”
Atraído pela força do futebol brasileiro no continente, o treinador argentino de 46 anos chegou e causou impacto imediato.
Vojvoda aterrissou em Fortaleza no dia 9 de maio. Duas semanas depois, conquistou o título do Cearense. A sequência do trabalho colocou o Ceará no caminho do clube na terceira fase da Copa do Brasil. Após o 1 a 1 no jogo de ida, a vitória por 3 a 0 sobre o rival alvinegro levou os tricolores às oitavas de final da competição.
Em 11 jogos no comando até aqui, o técnico soma oito vitórias (com direito a três em clássicos e um 5 a 1 diante do Internacional) e três empates. Um ótimo início que põe o Fortaleza no topo da tabela do Campeonato Brasileiro após quatro rodadas. Esperança de que a campanha possa ser distinta à de 2020, que não teve, por conta do calendário apertado, muito tempo para ser digerida.
“Você terminava uma temporada e tinha 40, 45 dias para descansar o elenco, liberar atletas e fazer contratações. Este ano foi trocar o pneu com o carro andando. Terminamos a Série A numa quinta-feira, na outra quarta já tínhamos um jogo da Copa do Nordeste. E para este ano entendemos que era preciso uma renovação maior de elenco. Foi bem desafiador, e fizemos um primeiro semestre interessante até aqui. A prova de fogo maior é o que vem pela frente”, diz Marcelo Paz.
Além dos desafios no campo, o futebol na pandemia impôs ao Fortaleza dificuldades na geração de receitas. O número de sócios-torcedores, que estava na casa dos 35 mil e rendia aos cofres do clube uma receita perene, chegou a cair para 7 mil. Hoje, diz o presidente, o plano compreende cerca de 13 mil associados.
Ainda assim, a agremiação se mantém estável. De acordo com estudo do Itaú BBA, o Fortaleza é o terceiro clube com menor endividamento no futebol brasileiro, atrás apenas de Ceará e Cuiabá.
Um índice no qual Marcelo Paz, assim como no Estadual e na Copa do Brasil, também quer superar seu rival. Apesar da rivalidade, porém, o presidente tricolor é elogioso da gestão do clube alvinegro.
“Isso tudo reflete o crescimento do futebol cearense, que passou a ser protagonista. Hoje o estado tem sete clubes disputando divisões nacionais (Ceará e Fortaleza na Série A; Ferroviário e Floresta na Série C; e Atlético-CE, Caucaia e Guarany de Sobral na Série D). Esse crescimento tem que acontecer sempre de forma responsável”, completa o mandatário.