Tendo à frente desde fevereiro um dos primeiros atletas brasileiros a mostrar para o mundo a força do surfe nacional, a Confederação Brasileira de Surfe (CBSurf) quer aproveitar a onda provocada pela Brazilian Storm para recuperar o prestígio do circuito nacional – e, assim, aumentar a exposição de surfistas com potencial para brilhar pelos mares do planeta. Além da criação de um calendário robusto de competições, a CBSurf quer ainda buscar a regulamentação da profissão de surfista, em movimento semelhante ao que aconteceu no skate.
Depois de anos turbulentos, com brigas na Justiça e contas bloqueadas, a entidade começou a se reestruturar no início deste ano. O surfista Teco Padaratz assumiu a presidência, tendo outro surfista, Paulo Moura, como vice. Apesar dos problemas, a dupla encontrou a CBSurf em condições de iniciar um novo trabalho sem maiores percalços.
“De certa forma, ela está em dia. Não tem nenhuma dívida, a não ser um processo trabalhista que já estamos dando baixa, e não há problemas no que diz respeito a questões de tributação. Mas está praticamente parada, não tem estrutura nenhuma de escritório. As verbas do COB (Comitê Olímpico do Brasil) estão bloqueadas, e o circuito nacional também está parado”, conta Teco ao Estadão. “Também não tínhamos 100% das federações em dia, mas tudo isso a gente consertou nos últimos 40 dias. Pra desbloquear as contas junto ao COB, só está pendente uma certidão que confirma a nova administração. O COB é super parceiro e está no ajudando demais.”
Entre as primeiras medidas, a CBSurf firmou parceria com a Dream Factory, empresa carioca que tem expertise na organização de eventos de grande porte e na captação de recursos. Ela está desenvolvendo o projeto do novo circuito nacional, que deverá se chamar Dream Tour e será implantado com 12 etapas a partir do próximo ano. Este ano, o circuito, que estava parado, será retomado com seis etapas na primeira divisão nacional, e 12 na segunda.
“O circuito vinha fragilizado nos últimos anos, e na nossa visão o surfe tem espaço, merece e tem potencial para ser um dos circuitos nacionais mais fortes do mundo. A gente vive uma verdadeira tempestade perfeita, como dizem os surfistas. O esporte virou modalidade olímpica, o crescimento da WSL nos últimos anos colocou o surfe com mais visibilidade na TV e no streaming. Isso serve para aumentar a exposição e aumentar a cultura do surfe”, considera Duda Magalhães, presidente da Dream Factory. “A gente tem realmente condições de ter um circuito absolutamente reformulado, mas isso não vai acontecer em 2022. A gente quer desenvolver esse plano e levar ao mercado no momento certo. Nosso compromisso é de longo prazo, e por isso este ano será de transição.”
DUAS SEDES
Sem endereço físico atualmente, em breve a CBSurf passará a contar com duas sedes, uma delas em Florianópolis, capital de Santa Catarina. “Teremos a sede administrativa em Floripa, e outra, jurídica e comercial, no Rio de Janeiro. Temos uma estrutura de funcionários e de diretoria já estabelecidos. Na parte administrativa, vai ter uma sede robusta lá no sul”, conta Teco.
O plano a partir daí é resgatar a grandeza do surfe nacional, como forma de ir muito além do sucesso que hoje só é visto com os atletas de ponta que competem na WSL.
“A gente quer resgatar o glamour do campeonato brasileiro. O campeonato brasileiro já foi tão grande e importante quanto o Circuito Mundial para o atleta, mas ele não promoveu esse atleta nos últimos sete ou oito anos. Aquilo vai perdendo valor”, considera o novo presidente da CBSurf. “O resultado que a gente está tendo ao lançar esse calendário é que vários atletas que correm o mundial não vão mais percorrer o mundial. Hoje eles gastam muito mais do que ganham para competir, e está todo mundo se convencendo que correr o circuito brasileiro vai ser melhor, pelo lado financeiro e por poder ficar mais perto da família.”
Além de recuperar o glamour do circuito nacional, Teco quer buscar a regulamentação da profissão de surfista. “O pessoal do skate conseguiu uma parada muito interessante, que é a carteira de trabalho. É um item que faz diferença pra todos. Existem muitos surfistas que quando assinam com patrocinadores, assinam como representantes de marcas, não como atletas. Ao ser reconhecido como surfista profissional, em carteira, ele ganha alguma longevidade dentro do trabalho, alguma segurança jurídica. Hoje existe a figura do skatista profissional, ele já é considerado uma profissão. A gente aprende e aceita repetir com eles. Eles chegaram na nossa frente nisso.”
De acordo com Teco, a meta dele e de sua diretoria é chegar ao fim do mandato tendo formado novos ídolos do surfe, em todas as categorias. “A gente quer que os tops surfistas brasileiros comecem a viajar pelo País e sejam assediados em aeroportos, rodoviárias, restaurantes. O maior legado que podemos deixar é dar relevância à modalidade e fazer com que o campeão brasileiro não consiga mais caminhar na rua”, brinca.