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EsportesPalco das Olimpíadas, ilha de Enoshima cultua amor, religião e música brasileira

Palco das Olimpíadas, ilha de Enoshima cultua amor, religião e música brasileira

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ENOSHIMA, JAPÃO (FOLHAPRESS) – Na manhã do último domingo (1º), trens lotados saíram de Shinjuku, em Tóquio, para a estação Katase-Enoshima, a 50 quilômetros da capital japonesa. Enquanto este repórter fazia a viagem de 1h30 para a cobertura das competições de vela das Olimpíadas, os outros passageiros queriam praia.

Vetadas das arquibancadas dos Jogos devido à Covid, famílias japonesas aproveitaram o dia ensolarado do infernal verão no país para curtir a costa de Fujisawa, na província de Kanagawa. Assim que desembarcaram, aparentemente despreocupados com aglomerações, os visitantes correram para a areia.

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De certa forma, a praia, conectada à ilha de Enoshima por uma ponte de apenas 600 metros, transformou-se numa espécie de arquibancada, com observadores a mirar as regatas por meio de binóculos e câmeras. Eram, no entanto, poucos. A maioria queria mesmo era aproveitar o sol e o mar.

Em sua sétima participação em Olimpíadas, o brasileiro Robert Scheidt competiu naquelas águas e ficou em oitavo na classificação geral na classe laser. Já a dupla Martine Grael e Kahena Kunze, ouro na Rio-2016, chegou à final da 49er FX com grandes chances de medalha na madrugada desta terça (3).

Com uma circunferência de quatro quilômetros, a ilha carrega lendas, mistérios, cavernas, hábitos e um pouco da culinária e da fé do Japão. Hoje, a população de Enoshima é estimada em 400 pessoas, muito pouco se comparado aos cerca de 7 milhões de visitantes que recebe por ano –pandemias à parte.

Há relatos de que pescadores já atuavam na região no período Kamakura (1192 a 1333), que os japoneses chamam de “xogunato”, espécie de governo militar com características feudais. Atualmente, essa tradição está refletida na ampla oferta de frutos do mar pescados na baía. Ao atender a um pedido de peixe frito, a funcionária de um restaurante trouxe o animal num balde, vivo, pulando, para provar que era fresquinho.

Também usado para a disputa da vela nos Jogos de 1964, o espaço de competições foi todo reformado para a edição de 2020, adiada para 2021 devido à pandemia. A crise sanitária também impôs restrições ao público e, assim, apenas jornalistas, voluntários e delegações têm acesso aos locais de prova.

Dentro das condições normais de realização do evento, os organizadores estimavam que, diariamente, 3.300 pessoas estariam na ilha, que estabeleceu regras caso seja necessária uma rápida evacuação do local diante do risco de tsunami. Uma placa, por exemplo, indica por onde as pessoas devem seguir se o pior chegar pelo mar: o jardim botânico da ilha, um dos aconchegantes espaços escondidos de Enoshima.

O desdém local pelas competições que ocorrem ali ao lado pode ser ilustrado espacialmente. Em vez de virarem à esquerda na saída da ponte, o que daria acesso ao espaço olímpico, os japoneses seguem reto na Nakamise Dori, rua estreita de comércio local, com restaurantes e lojas de suvenires e decoração.

Um pouco mais à frente está o templo de Enoshima, um dos três mais famosos do país em homenagem à deusa Benzaiten –outros três estão espalhados pela ilha. Diz a mitologia local que dragões habitavam a região, e a deusa budista apaixonou-se por um deles, de cinco cabeças e que devorava crianças.

A história fez da ilha um local de culto ao amor, o que atrai centenas de jovens casais. Ao lado de um dos templos há um espaço para cadeados do amor, cujas chaves são lançadas no mar após os amantes trancá-los. Depois, eles tocam um sino –há quem acredite ser a senha para viverem juntos para sempre.

A ilha é, ainda, um labirinto de escadas. Por 600 ienes (R$ 28) sobe-se uma delas, rolante, até o farol da Vela do Mar de Enoshima, de 60 metros. Do alto, é possível ver não só a beleza da região no Pacífico, mas, a depender das condições meteorológicas e da boa vontade da deusa Benzaiten, o monte Fuji.

Ao se sentar para descansar do sobe e desce das escadas e se refrescar, a reportagem começou a ouvir músicas brasileiras –“Chora tua Tristeza” e “Garota de Ipanema”– saindo das árvores. Não era um delírio provocado pelo pesado verão japonês. O som familiar saía de caixas escondidas entre galhos.

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