TÓQUIO, JAPÃO (FOLHAPRESS) – A primeira derrota do judoca Teddy Riner em Jogos Olímpicos desde 2008 e o revés do tenista Novak Djokovic nas semifinais, ambos nesta sexta-feira (30), foram os mais recentes alertas de que nem mesmo para os superastros a glória está garantida nas atípicas Olimpíadas de Tóquio-2020.
Riner ainda ficou com o bronze, medalha que Djokovic disputará às 3h deste sábado (31), horário de Brasília.
Difícil apontar causas e determinar se a pandemia da Covid-19 tem alguma influência, mas a primeira semana do evento na capital japonesa teve como uma de suas marcas derrotas surpreendentes de favoritos e ídolos locais.
No último sábado (24), primeiro dia cheio de competições, a arena de ginástica em Ariake presenciou a queda literal de um dos maiores ícones do esporte japonês, o ginasta Kohei Uchimura.
Bicampeão olímpico do individual geral em 2012 e 2016, o atleta de 32 anos competiu apenas na barra fixa para viver o “grand finale” de sua carreira olímpica em casa. A intenção foi ofuscada quando ele caiu do aparelho, provocou um lamento coletivo no ginásio e encerrou a participação sem vaga na final.
No mesmo dia, os japoneses amargaram a desclassificação do nadador Daiya Seto, 27, ainda nas eliminatórias dos 400 m medley. Campeão mundial dessa prova e dos 200 m medley (em que ficou fora do pódio nesta sexta), ele também não avançou à decisão dos 200 m borboleta.
O desempenho de Seto nos 400 m medley causou sons de decepção até nos voluntários japoneses que assistiram à prova pela televisão fora da área da piscina.
Os resultados são doloridos se analisados individualmente e por envolverem ícones dos seus esportes, mas não impediram o Japão de largar com um ótimo desempenho no evento. Até as 9h desta sexta-feira, o país-sede somava 28 medalhas, sendo 17 ouros, e ocupava a segunda posição no quadro geral.
Outra conquista aguardada e não consumada foi a da tenista Naomi Osaka. Responsável por acender a pira olímpica na cerimônia de abertura, papel que a consolidou como “face” dos Jogos, a número 2 do mundo foi derrotada nas oitavas de final do torneio de simples pela tcheca Marketa Vondrousova (42ª), sem oferecer muita resistência.
Para Osaka, 23, a pressão vivida no papel de protagonista teve alguma influência na derrota, mas ela não quis usar isso como desculpa. “Já deveria estar acostumada, mas a escala de tudo está um pouco difícil por causa da pausa que fiz”, afirmou. “Estou feliz por não ter perdido no primeiro jogo, pelo menos.”
Após deixar o torneio de Roland Garros, em junho, sob a justificativa de que precisava cuidar de sua saúde mental em meio a um debate sobre a obrigatoriedade de conceder entrevistas coletivas no torneio, a tenista desistiu na sequência de participar de Wimbledon. Depois voltou aos holofotes para vivenciar nas Olimpíadas o maior feito esportivo de sua carreira, conforme descreveu no dia da abertura.
Apontada como a provável estrela maior dos Jogos, a ginasta americana Simone Biles, 24, também alavancou o debate sobre saúde mental ao abandonar duas competições (até o momento) por conta da pressão e do estresse a que está submetida.
“Fisicamente, me sinto bem”, disse Biles ao canal americano NBC. “Emocionalmente, varia com a hora e o momento. Ser a estrela principal das Olimpíadas não é uma tarefa fácil. Então estamos apenas tentando viver um dia de cada vez.”
Duas das maiores estrelas dos novos esportes olímpicos, o skatista americano Nyjah Huston e a surfista australiana Stephanie Gilmore terminaram longe do pódio. Huston, 26, líder do ranking da World Skate e dono de quatro títulos mundiais, ficou em sétimo na final do street. Gilmore, 33, sete vezes campeã mundial, parou nas oitavas de final do surfe.
Os dois esportes também tiveram exemplos de brasileiros favoritos que não corresponderam às expectativas. Gabriel Medina, líder disparado do circuito da WSL (World Surf League) nesta temporada, perdeu duas baterias consecutivas, nas semifinais e na disputa pelo bronze. A skatista Pâmela Rosa, número 1 do ranking, competiu com o tornozelo lesionado e não passou para a final.
A nadadora húngara Katinka Hosszú, que conquistou três ouros e uma prata na Rio-2016, também saiu sem nada de Tóquio. Não teve sucesso nem em explicar para os jornalistas do seu país o que havia acontecido.
Já a americana Katie Ledecky, estrela da natação americana e que levou quatro medalhas de ouro com certa tranquilidade há cinco anos, sabia que as dificuldades seriam maiores agora, com a concorrência da australiana Ariarne Titmus.
Ledecky ficou com a medalha de prata nos 400 m e no revezamento 4 x 200 m, de ouro nos 1.500 m e acabou fora do pódio nos 200 m. Ainda competirá nos 800 m na noite desta sexta. Uma campanha abaixo da anterior, mas que não deve ser confundida com fracasso.
“Eu realmente queria ter uma medalha de ouro e sentir isso de novo”, ela disse após os 1.500 m. “É um verdadeiro privilégio estar nas Olimpíadas durante a pandemia. Muitas pessoas estão passando por momentos difíceis agora, e estou muito feliz com todo o apoio. Agradeço sinceramente o interesse em nosso esporte. Só espero que as pessoas possam colocar essa energia em outra coisa depois disso.”