CHIBA, JAPÃO (FOLHAPRESS) – Kanoa Igarashi, 23, será lembrado por fãs do surfe no Brasil durante muitos anos. Na última terça (27), ele acabou com o sonho do ouro olímpico de Gabriel Medina, uma das maiores estrelas do circuito na modalidade.
O surfista ganhou de virada do brasileiro com uma linda manobra faltando oito minutos para o fim da bateria, na praia de Tsurigasaki. O aéreo que lhe garantiu a vaga na decisão teve nota de 9,33, a segunda maior dos Jogos –a primeira foi 9.73, do campeão Italo Ferreira.
Kanoa falou em bom português o que representou aquela onda que o levou à primeira final de Jogos Olímpicos da história: “Um dos momentos mais felizes da minha carreira”. Tirou sarro, também no idioma nativo do Medina, das milhares de mensagens que chegavam em suas redes de que os juízes da prova o teriam beneficiado. “Chora que eu estou feliz. Hehehe”, publicou.
Representando hoje o Japão, o atleta chegou a competir, aos nove anos, pelos EUA, onde nasceu. Apaixonado pelo esporte, o pai dele, Tsutomu Igarashi, decidiu se mudar para o continente americano em 1995 com um objetivo: criar seus filhos para viver o surfe.
Aos três anos, Kanoa já estava no mar do Havaí pegando onda. Aos sete, ganhou sua primeira competição.
Foi em 2018 que surfou pela primeira vez pelo Japão. Em entrevistas, costuma dizer que cresceu em uma geração em que as coisas não parecem muito ter fronteiras. “Meu sangue é 100% japonês.”
Desde os 12 anos, o surfista medalha de prata dos Jogos começou a fazer viagens frequentes para a Europa. Com 15, disputou um campeonato em Portugal, fracassou no mar, mas conheceu dois de seus melhores amigos.
“Os meus amigos decidiram que só iam falar português comigo. Eu não falava nada ainda, mas tive que aprender. É muito diferente das duas línguas que eu já falava, inglês e japonês, mas eles puxaram muito por mim. ‘Kanoa, ‘bora surfar? Estás com fome?’. Tive que me lembrar de tudo, mas ao fim de um mês, eu realmente já sabia bastante”, contou Kanoa em entrevista de 2019 para o site Onfire, especializado em surfe.
Na entrevista dos medalhistas, na terça, Kanoa protagonizou uma cena simpática. Italo Ferreira, ouro, foi questionado por um jornalista em inglês, mas não conseguiu compreender toda a pergunta. Foi o japonês quem traduziu para o campeão olímpico.
Nas redes sociais, o medalhista de prata compartilha vídeos e imagens de ondas surfadas por ele e amigos. Entre as paixões, o açaí. Em uma das fotos, se declara: “me and açaí”, ao lado de um coração, como legenda de uma foto em que aparece tomando um copo de suco da fruta da Amazônia.
Ainda que haja reclamações sobre as notas, os fãs de Medina tinham que estar preparados. Poucos conhecem tão bem as ondas daquele lugar. Segundo Kanoa, há anos, foi seu pai quem descobriu a “dança” do mar de Tsurigasaki.
Nos Jogos deste ano, foi como se a vida tivesse dado uma volta completa e colocado Kanoa de volta ao lugar favorito da infância do pai.
KANOA IGARASHI, 23
O surfista nipo-americano nasceu na Califórnia (EUA). Em 2016, entrou no circuito da WSL. Em 2019 ganhou sua 1ª etapa no circuito, foi também seu principal ano no ranking, com o sexto lugar geral.