BraGILidade. Esse foi o título que o baterista paulista Leo Susi deu ao álbum no qual gravou seis canções do compositor Gilberto Gil. Sim, Gil é Brasil. Mas também é das raízes africanas, do jazz e do pop. E tudo isso está no CD recém-lançado, disponível nas plataformas digitais e em formato físico.
Susi, nascido em Brotas, no interior de São Paulo, morou e trabalhou em Xangai, na China, por 15 anos, onde atuou com músicos de jazz e participou da banda do programa The Voice. Em 2005, Gil visitou a cidade em uma missão como Ministro da Cultura do governo Lula. O baterista foi convidado para um almoço oferecido ao baiano, como um dos representantes da pequena comunidade de brasileiros que então existia por lá.
Para esse encontro, Susi, como todo bom músico, foi munido de um instrumento, no caso, um pandeiro. E Gil, mesmo em uma missão executiva, como sempre fez por diversas vezes quando ocupou o cargo de ministro, não se furtou a exercer o ofício ao qual dedica a maior parte de sua vida: tocar e cantar.
IDEIA DO TRIBUTO
O pandeiro levado por Susi foi, então, providencial. O músico acompanhou Gil em Andar com Fé e Esperando na Janela, dois grandes sucessos do compositor. Além de tocarem juntos, conversaram sobre música e carreira. “Gil foi superaberto. Uma pessoa iluminada. Daí nasceu a ideia de lhe prestar um tributo”, conta Susi.
Entre idas e vindas, naturais na vida de um músico, Susi lança, finalmente, o álbum neste ano de 2022. Gravado no estúdio de Susi em Ubatuba, no litoral de São Paulo, BraGILidade tem coprodução do pianista Adriano Magoo que também toca teclados, acordeons e executa as programações no disco.
Por intermédio de amigos em comum, Susi convidou Gil para tocar violão na faixa Balafon – música lançada no álbum Refavela, de 1977. O compositor iria também colocar voz na gravação – a participação de Gil foi feita a distância, já na época da pandemia. Entretanto, foi ele mesmo que sentenciou, de forma gentil, como de habitual: a gravação não precisava de sua voz.
Para Balafon, Susi convidou ainda o percussionista martinicano Boris David Reine, que toca tambor da Martinica, o baixista mauriciano Damien Banzigou. Paula Calasans, pianista que já tocou com Gil, também participa.
DESAFIO
“É difícil você pegar uma obra que tem um vocal, que foi arranjada para isso, e trazê-la para a música instrumental. É preciso não descaracterizá-la. Foi um desafio. Procurei fazer uma música instrumental brasileira, mas que também fosse fácil para europeus, africanos e asiáticos ouvirem. Não queria fazer algo só para músicos”, explica Susi.
O samba Mar de Copacabana, que abre o álbum, tem a participação de Sizão Machado no contrabaixo e Richard Fermino no trombone, que dão à canção algo bem – e irresistivelmente – brasileiro.
Do disco O Sol de Oslo (2005), provavelmente um dos menos badalados da carreira de Gil, Susi regravou o forró de domínio público Tatá Engenho Novo e a balada Kaô, parceria de Gil com Rodolfo Stroeter.
Entre as escolhidas, a de maior popularidade é Procissão, música de Gil e Edy Star, dos primórdios da carreira do compositor. “Ela começa mesmo com a cadência de uma procissão e depois vai para o maracatu, como solos de acordeom e bateria”, explica.
Já o arranjo de Baticum, rara parceria de Gil e Chico Buarque, gravada com a voz do segundo no disco O Eterno Deus Mu Dança, de 1989, Susi define como algo mais “modernoso”. “Ela é mais quadrada e menos suingada. Ficou mais vanguardista. Fugimos um pouco da original”, afirma o baterista. O baixista Marcelo Mariano é um dos músicos convidados da gravação.
Ao todo, o álbum tem cerca de 33 minutos. Uma sétima música, já gravada, ficou de fora – e deve ser lançada em breve. Trata-se de Se Eu Quiser Falar Com Deus, música que Gil escreveu no começo dos anos 1980 para o cantor Roberto Carlos – que a recusou- e cujas gravações mais conhecidas são as do próprio Gil e de Elis Regina. A gravação tem a participação da Orquestra Sinfônica de Xangai.
As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.