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Lazer e CulturaCapas de Elifas Andreato definiam o alcance de um álbum

Capas de Elifas Andreato definiam o alcance de um álbum

Capas de Elifas Andreato definiam o alcance de um álbum

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As capas de LPs ilustradas por Elifas Andreato – e apesar de ele ter feito tantos trabalhos, são elas que ficarão depois de sua inesperada morte, na manhã desta terça-feira, 29 – deram outra dimensão à própria música que vinha no vinil. De expressões tão poderosas, elas passaram a agir no imaginário afetivo construído por anos com uma intensidade capaz de interferir nas sensações. Sem o rosto grande de Martinho da Vila extasiado entre o povo, um povo representado sempre por mãos sem rostos, Canta Canta Minha Gente seria algum outro disco. Sem o malandro deitado no banco da capa de Ópera do Malandro, de 1979, como visualizaríamos com tanta exatidão, mesmo sem assistir ao espetáculo, o personagem de Chico Buarque? Que imagem traria a mesma dor de amor tal qual se canta em Sentimentos e Não Quero Mais Amar a Ninguém do que a de Paulinho da Viola vertendo lágrimas volumosas como leite na capa de Nervos de Aço, de 1973?

Elifas não ilustrava um álbum, mas participava dele. Sua presença é a de um coautor, um homem que estava ali para ser, como disse Chico Buarque, o “artista dos artistas”, alguém que captasse a alma de especialistas em captar almas para entregá-la ao povo. Ele testemunhou composições sendo criadas, jogou futebol e sinuca com esses criadores, sorriu e chorou com eles e ouviu suas músicas em primeira mão. Sua ilustração não se contentava em servir a um efeito estético, mas buscava sempre a conexão. Suas capas foram o primeiro contato de muita gente desassistida com o fino retratismo plástico das grandes exposições. Impressa em LPs, transportada por paixões nacionais, sua arte visual entrava muitas vezes onde nenhuma outra havia estado.

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Elifas, paranaense de Rolândia, filho de pais lavradores, tinha 76 anos e uma lista com mais de 450 capas entregues a obras de Caetano Veloso, Noel Rosa, Tim Maia, Adoniran Barbosa, Carmen Miranda, Pixinguinha, Elis Regina, Chico Buarque, Paulinho da Viola e Martinho, muitas vezes Martinho. Só ao lado do sambista de Vila Isabel foram 36 anos, “com pelo menos um retrato por ano”, como ele dizia, além de direção e cenografia de seus shows. Ele estava internado havia uma semana depois de ter sofrido um enfarte. Havia se recuperado do primeiro susto, falado com o irmão ator Elias Andreato para tranquilizá-lo, e, então, traído pelo órgão que tratou com tanta fidelidade, sofreu uma piora e não resistiu.

Seria fácil compilar o que todos dizem agora, após sua devastadora partida. Mas fiquemos com um pouco do que disseram com ele vivo, há coisa de dois anos: Paulo Cesar Pinheiro: “Nada do que Elifas faz é um risco no papel. É poesia pura”. Zeca Pagodinho: “Eu olhava as capas e via aquela assinatura… A maior glória para mim foi um dia poder contar com essa assinatura nos meus discos”. Martinho da Vila: “Estou certo de que sua arte, o seu caráter e o seu zelo com nossa cultura são uma valiosa contribuição a todos os brasileiros que logo mais irão reconstruir o Brasil”.

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