Protagonistas femininas ainda são raras nas animações de Hollywood. Protagonistas femininas que não são princesas, mais ainda. Foi justamente por Sam (voz original de Eva Noblezada), a personagem principal de Luck, ser uma adolescente normal, prestes a sair do cuidado adotivo, que Peggy Holmes aceitou dirigir o filme que estreia amanhã na Apple TV+. ‘Queríamos que as pessoas se identificassem com ela. E que seu mundo fosse muito parecido com o nosso. Que essa garota que reconhecemos, que vemos, que é nossa vizinha fosse para um mundo mágico’, disse a diretora em entrevista ao Estadão, por videoconferência.
Sam não foi adotada e, ao completar 18 anos, precisa viver sozinha. A adolescente, extremamente azarada, encontra e perde uma moeda da sorte e conhece seu dono, Bob, um gato preto falante (voz de Simon Pegg no original e Gregorio Duvivier no Brasil). Ela segue o bicho até a Terra da Sorte, habitado por criaturas mágicas e administrado por um dragão (voz original de Jane Fonda). Sam e Bob unem forças porque, se for descoberto que ele perdeu uma das moedas da sorte, pode ser banido para a Terra da Má Sorte.
Luck é o primeiro longa-metragem produzido pelo estúdio Skydance, de David Ellison. O setor é chefiado por John Lasseter, o gênio criador da Pixar que revolucionou as animações Disney nas últimas décadas, mas saiu depois de ser acusado de conduta imprópria, na esteira do movimento Me Too. Sua contratação rendeu algumas críticas, mas Ellison rebateu dizendo que ele nunca foi formalmente acusado de assédio ou abuso sexual nem fez acordos com pessoas que o acusassem disso.
Lasseter trouxe para a Skydance algumas das coisas que implantou na Pixar e na Disney, como um conselho de cérebros e muita pesquisa. No caso de Luck, Holmes e o roteirista Kiel Murray conversaram com jovens recém-saídos do sistema de cuidado adotivo, que coloca crianças sob a tutela de instituições ou pessoas até que sejam formalmente adotadas. ‘Apesar de sua má sorte na vida, eles continuavam esperançosos, otimistas e generosos’, disse Holmes. ‘Eles fariam tudo por seus amigos. Por isso quisemos que esse fosse o centro emocional da história. Eu gosto de histórias otimistas.’
Para Simon Pegg, uma das mensagens do filme se parecem com o verso dos Beatles que diz ‘O amor que temos é equivalente ao amor que damos’ e que, inclusive, o ator tem tatuado no braço. ‘De certa forma, o longa fala que a sorte tem a ver com o que você coloca no mundo, não um pó mágico’, afirmou. ‘Tem a ver com a maneira como se comporta e age com as outras pessoas. É uma boa mensagem para as crianças – e para os adultos também, especialmente neste momento.’ Duvivier pensa da mesma maneira. ‘Eu acredito que dá sorte acreditar na sorte’, contou. ‘Não gosto de gente que cultiva a Lei de Murphy. Se você procura, você encontra. Embora não acredite na sorte, eu agradeço a ela todos os dias porque me acho um cara muito sortudo, inclusive por estar fazendo este filme.”